Formas criativas para estimular a mente de alunos
com deficiência
O professor deve
entender as dificuldades dos estudantes com limitações de raciocínio e
desenvolver formas criativas para auxiliá-los.
CONCENTRAÇÃO Enquanto a turma lê
fábulas, Moisés faz desenhos sobre o tema para exercitar o foco.
De todas as experiências que surgem no
caminho de quem trabalha com a inclusão, receber um aluno com deficiência
intelectual parece a mais complexa. Para o surdo, os primeiros passos são dados
com a Língua Brasileira de Sinais (Libras). Os cegos têm o braile como
ferramenta básica e, para os estudantes com limitações físicas, adaptações no
ambiente e nos materiais costumam resolver os entraves do dia-a-dia.
Mas por onde começar quando a deficiência é intelectual? Melhor do que se
prender a relatórios médicos, os educadores das salas de recurso e das
regulares precisam entender que tais diagnósticos são uma pista para descobrir
o que interessa: quais obstáculos o aluno enfrentará para aprender - e eles,
para ensinar.
No geral, especialistas na área sabem que existem características comuns
a todo esse público. São três as principais dificuldades enfrentadas por eles:
falta de concentração, entraves na comunicação e na interação e menor
capacidade para entender a lógica de funcionamento das línguas, por não
compreender a representação escrita ou necessitar de um sistema de aprendizado
diferente. Há crianças que reproduzem qualquer palavra escrita no quadro, mas
não conseguem escrever sozinhas por não associar que aquelas letras representem
o que ela diz.
A importância do foco nas explicações em sala de aula
SIGNIFICADO Na sala de recursos,
elaboração de livro sobre a vida dos alunos deu sentido à escrita.
Alunos com dificuldade de concentração precisam de espaço organizado,
rotina, atividades lógicas e regras. Como a sala de aula tem muitos elementos -
colegas, professor, quadro-negro, livros e materiais -, focar o raciocínio fica
ainda mais difícil. Por isso, é ideal que as aulas tenham um início prático e
instrumentalizado.Não adianta insistir em falar a mesma coisa várias vezes. Não
se trata de reforço. Ele precisa desenvolver a habilidade de prestar atenção
com estratégias diferenciadas para, depois, entender o conteúdo.
O ponto de partida deve ser algo que mantenha o aluno atento, como jogos de
tabuleiro, quebra-cabeça, jogo da memória e imitações de sons ou movimentos do
professor ou dos colegas - em Geografia, por exemplo, ele pode exercitar a
mente traçando no ar com o dedo o contorno de uma planície, planalto, morro e
montanha. Também é importante adequar a proposta à idade e, principalmente, aos
assuntos trabalhados em classe. Nesse caso, o estudo das formas geométricas
poderia vir acompanhado de uma atividade para encontrar figuras semelhantes que
representem o quadrado, o retângulo e o círculo.
A meta é que, sempre que possível e mesmo com um trabalho diferente, o aluno
esteja participando do grupo. A tarefa deve começar tão fácil quanto seja
necessário para que ele perceba que consegue executá-la, mas sempre com algum
desafio. Depois, pode-se aumentar as regras, o número de participantes e a
complexidade. A própria seqüência de exercícios parecidos e agradáveis já vai
ajudá-lo a aumentar de forma considerável a capacidade de se concentrar.
O que é a deficiência intelectual?
É a limitação em pelo menos duas das seguintes habilidades: comunicação,
autocuidado, vida no lar, adaptação social, saúde e segurança, uso de recursos
da comunidade, determinação, funções acadêmicas, lazer e trabalho. O termo
substituiu "deficiência mental" em 2004, por recomendação da
Organização das Nações Unidas (ONU), para evitar confusões com "doença
mental", que é um estado patológico de pessoas que têm o intelecto igual
da média, mas que, por algum problema, acabam temporariamente sem usá-lo em sua
capacidade plena. As causas variam e são complexas, englobando fatores
genéticos, como a síndrome de Down, e ambientais, como os decorrentes de
infecções e uso de drogas na gravidez, dificuldades no parto, prematuridade,
meningite e traumas cranianos. Os Transtornos Globais de Desenvolvimento
(TGDs), como o autismo, também costumam causar limitações. De acordo com a
Organização Mundial de Saúde (OMS), cerca de 5% da população mundial tem alguma
deficiência intelectual.
Escrita significativa e muito bem ilustrada
COMUNICAÇÃO Vinicius superou o
isolamento e melhorou a interação em atividades com imagens e sons.
A falta de compreensão da função da escrita como representação da
linguagem é outra característica comum em quem tem deficiência intelectual.
Essa imaturidade do sistema neurológico pede estratégias que servem para a
criança desenvolver a capacidade de relacionar o falado com o escrito. Para
ajudar, o professor deve enaltecer o uso social da língua e usar ilustrações e
fichas de leitura. O objetivo delas é acostumar o estudante a relacionar
imagens com textos. A elaboração de relatórios sobre o que está sendo feito
também ajuda nas etapas avançadas da alfabetização.
Projeto baseado na autoidentificação - forma encontrada para tornar o
aprendizado mais significativo. A primeira medida foi pedir que trouxessem
fotos, certidão de nascimento, registro de identidade e tudo que poderia dizer
quem eram. O material vai compor um livro sobre a vida de cada um e, enquanto
se empolgam com esse objetivo, eu alcanço o meu, que é ensiná-los a escrever.
Quem não se comunica... pode precisar de interação
Outra característica da deficiência intelectual que pode comprometer o
aprendizado é a dificuldade de comunicação. A inclusão de músicas, brincadeiras
orais, leituras com entonação apropriada, poemas e parlendas ajuda a
desenvolver a oralidade. Parcerias com fonoaudiólogos devem ser sempre
buscadas, mas a sala de aula contribui bastante porque, além de verbalizar,
eles se motivam ao ver os colegas tentando o mesmo.
Essa limitação, muitas vezes, camufla a verdadeira causa do problema: a falta
de interação. Nos alunos com autismo, por exemplo, a comunicação é rara por
falta de interação. É o convívio com os colegas que trará o desenvolvimento do
estudante. Para integrá-lo, as dicas são dar o espaço de que ele precisa
mantendo sempre um canal aberto para que busque o educador e os colegas.
Cada um aprende de um jeito
Professores propõem
a alunos de 1ª a 8ª série com deficiência as mesmas atividades planejadas para
os demais.
A lei é categórica: todas as crianças e jovens de 6 a 14 anos devem
estar matriculados na rede regular de ensino, sem exceção. Entre os objetivos
que se apresentam, está o de ensinar os conteúdos curriculares de uma forma que
permita também aos que têm deficiência mental aprender. Para alcançá-lo, é
necessário respeitar o ritmo e os limites de cada aluno e propor as mesmas
atividades a toda a turma - incluindo os estudantes que têm deficiências como
síndrome de Down, síndrome de Williams e autismo. Algumas estratégias
utilizadas permitem que essas crianças e
jovens não freqüentem as aulas apenas como um passatempo ou uma atividade de
recreação.
O conceito de inclusão deve estar contemplado no projeto pedagógico da escola.
Atividades com esse propósito se encaixam no dia-a-dia dos professores e
alunos e tendem a dar resultados a longo
prazo. Todos os alunos com deficiência têm que ter exatamente os mesmos materiais que os
demais, garantindo que ninguém se sinta discriminado.
Um aluno da 8ª série e no começo do ano fez questão de que a mãe comprasse para
ele cadernos para todas as disciplinas, mesmo não sabendo ler e escrever de
forma convencional. Assim como os colegas, colou nas capas imagens de seus heróis preferidos.
Isso o faz se sentir parte do grupo.
O simples fato de ter o material já ensina. Certa vez, um aluno da 8ª série, disse a a diretora escola: "Amanhã é sábado e eu
vou passear com meu pai". A diretora perguntou como ele sabia que o dia
seguinte seria um sábado. Ele respondeu: "Porque hoje teve apostila de
Sociologia. Então hoje é sexta-feira". Segundo ela, ter um material que
estabelece a rotina da escola deu a esse aluno a noção de tempo. "Essa foi
a aprendizagem dele naquele momento."
Escrita própria
Outra preocupação constante dos professores é pedir que esses estudantes
escrevam, não importa como ou o quê. Acredita-se que todos podem avançar e cada
progresso é percebido e comemorado. Apesar de também ter baixa visão, O aluno
usa todos os cadernos e não deixa de registrar uma lição sequer. Quando entrou
na escola, há cinco anos, as páginas eram repletas de desenhos e rabiscos.
Nesse tempo, ele aprendeu a escrever seu nome, percebeu que a escrita se faz da
esquerda para a direita e passou a rabiscar no caderno pautado
"minhoquinhas" (a chamada escrita social), que iam do começo ao fim
da linha. Hoje, ele reconhece que os textos são compostos de muitas palavras.
Por isso, ele dispõe diversas "minhoquinhas" na mesma linha. Para
deixar o caderno organizado e bonito, ele sempre coloca "título" e
"data" nos trabalhos, com canetas de cores diferentes. "No
caderno de Matemática, no entanto, ele só usa números.
A proposta pedagógica leva em conta também as necessidades de adaptação dos
alunos com deficiência a pessoas e ambientes novos. É comum essas crianças e
jovens, assim que entram na escola regular, não quererem permanecer mais do que
cinco minutos dentro da sala de aula, terem comportamento agressivo ou se
refugiarem no isolamento.
O cuidado com o outro tem que fazer parte da rotina da garotada. Nas salas em
que há estudantes com deficiência, os professores devem organizar um rodízio para determinar quem vai auxiliar o
colega a cada dia.
E essa mãozinha não se limita às tarefas de classe. O ajudante da vez acompanha
o amigo na hora da merenda, escolhe um livro e conta a história para ele ou o
ajuda a ir ao banheiro. Eles se sentem importantes com essa atribuição e é esse
sentimento que queremos despertar.
A participação da família
A aprendizagem sobre a importância da inclusão chega até os pais. "Eles
aprovam a experiência diária dos filhos. Muitos contam que as crianças se
tornam mais cooperativas. A mudança de atitude é fruto de muita conversa e da
parceria com as famílias. No início das aulas, os pais participam de uma
reunião em que a equipe pedagógica explica os procedimentos da inclusão e qual
o papel da garotada nessa área. Ao longo do ano, também conforme a necessidade.
Todas essas diretrizes fazem a diferença. Nelas, as crianças com deficiência
ganham muito, pois são estimuladas constantemente a avançar e as demais
aprendem a respeitar os colegas. Os pais, que estudaram em escolas onde a
convivência com as diferenças não fazia parte da proposta, têm a oportunidade
de aprender junto com os filhos um comportamento solidário e cidadão.
Cor no material
Crianças e jovens com deficiência mental geralmente têm dificuldade de
se concentrar por muito tempo. Para prender a atenção delas, são recomendadas
atividades dinâmicas e que envolvam muitas cores. Uma estratégia simples: usar
gizes coloridos ao escrever no quadro e dar lápis de cor e canetinhas para os
alunos fazerem seus registros nos cadernos. Criar jogos com tabuleiros bem
coloridos em que utiliza elementos do cotidiano da turma: números de duas
casas, que podem ser relacionados à idade dos alunos, e papéis representando
cédulas de real.
Trabalho em grupo
A criança com deficiência mental deve ser solicitada a participar de
todos os projetos junto com a turma. Organizar as crianças sempre em grupos,
para estimular a colaboração entre todos e integrar, tudo com muito
capricho.
Portfólio exibe os avanços
Fazer um portfólio com as produções da garotada durante sua
permanência na escola é fundamental para ajudar a acompanhar o progresso de
cada um e planejar novas intervenções. No caso das crianças com deficiência
mental, esse recurso mostra que elas também avançam - o que é animador para
seus professores.
Hora do faz-de-conta
Sempre sugerir às crianças inventar as
próprias brincadeiras. Nada está pronto: elas têm de usar, por exemplo,
almofadas, bexigas, fantasias, tecidos e papéis.
Os cinco sentidos
Utilizar materiais com diferentes texturas, estimular o olfato dos
alunos e fazê-los aguçar os ouvidos são estratégias valiosas. E iniciar as
aulas com dança e canto relacionado ao conteúdo.
Atividade manual
Quando um aluno termina a atividade antes dos colegas, pode começar a
tumultuar a aula ou tirar a concentração dos demais. A criança com deficiência
mental não é diferente. Ela muitas vezes perde o interesse pelas tarefas. Por
isso, é importante sempre deixar na sala materiais de artes para que todos
possam colar, pintar, desenhar, moldar ou bordar no tempo livre.
Essas atividades ajudam também a melhorar a concentração dos alunos com
deficiência.
Atividades inclusivas...
• Fazem os alunos com deficiência mental avançarem dentro de seus
limites.
• Mostram que todos são parte importante do grupo.
• Estimulam o respeito e a cooperação.
Atividades
e estratégias
PROPORÇÃO
O desenvolvimento da coordenação motora pode ser mais lento em crianças que têm
deficiência mental. Uma das maneiras de estimular o aluno a dominar seus
movimentos é fazê-lo escrever o nome em folhas de papel de diferentes tamanhos.
Assim, ele também visualiza a necessidade de aumentar ou diminuir a letra de
acordo com o espaço.
INTEGRAÇÃO
É muito comum uma criança com deficiência mental ter problemas de oralidade.
Por isso, aulas que estimulem o aluno a contar histórias são bem-vindas. É
importante dar continuidade à atividade com bate-papos na classe sobre os
personagens ou sugerindo que os estudantes dêem o próprio final à trama e o
apresentem aos colegas. A atividade deve sempre ser feita com a turma
toda.
VARIEDADE
Diversifique os meios de acesso ao conteúdo na sala de aula. Crianças com
deficiência mental (e sem deficiência também) nem sempre aprendem por meio de
folhas com exercícios impressos, livros didáticos ou material concreto de
Matemática. Elas podem se identificar mais com músicas, passeios, desenhos,
vídeos ou debates.
Incluir
alunos com deficiência em classes regulares...
• Aumenta o interesse pelas aulas e
pela aprendizagem de diferentes conteúdos.
• Proporciona a todos a chance de aprender atitudes de
solidariedade e cooperação.
• Contribui para a formação de pessoas produtivas e
críticas, com capacidade para interferir na sociedade.
Foi para meu blog------------
As leis sobre diversidade
Nem sempre quem tem
deficiência está matriculado na escola regular. Para reverter esse quadro, é
fundamental que pais e educadores conheçam a legislação
Rampas de acesso: adaptar a estrutura
física para possibilitar a locomoção de alunos e
funcionários que andam de cadeira de rodas é dever
de toda escola.
"Desculpe, não estamos preparados." Pais de crianças com
deficiência precisam saber: argumento como esse não pode impedir o filho de
estudar.Professores e gestores devem lembrar: não há respaldo legal para
recusar a matrícula de quem quer que seja.As leis que garantem a inclusão já
existem há tempo suficiente para que as
escolas tenham capacitado professores e adaptado a estrutura física e a
proposta pedagógica. "Não aceitar alunos com deficiência é crime. A
legislação brasileira garante indistintamente a todos o direito à escola, em
qualquer nível de ensino, e prevê, além disso, o atendimento especializado a
crianças com necessidades educacionais especiais. Esse atendimento deve ser
oferecido preferencialmente no ensino regular e tem nome de Educação Especial,
cujo papel é buscar recursos, terapias e materiais para ajudar o estudante a ir
bem na escola comum. Esse acompanhamento - a Educação Especial - nada mais é
que um complemento do ensino regular.
Várias leis e documentos internacionais estabeleceram os Direitos das
pessoas com deficiência no nosso país. Confira alguns deles
1988
CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA
Prevê o pleno desenvolvimento dos cidadãos, sem preconceito de origem, raça,
sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação; garante o direito
à escola para todos; e coloca como princípio para a Educação o "acesso aos
níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação artística,
segundo a capacidade de cada um".
1989
LEI Nº 7.853/89
Define como crime recusar, suspender, adiar, cancelar ou extinguir a matrícula
de um estudante por causa de sua deficiência, em qualquer curso ou nível de
ensino, seja ele público ou privado. A pena para o infrator pode variar de um a
quatro anos de prisão, mais multa.
1990
ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE (ECA)
Garante o direito à igualdade de condições para o acesso e a permanência na
escola, sendo o Ensino Fundamental obrigatório e gratuito (também aos que não
tiveram acesso na idade própria); o respeito dos educadores; e atendimento
educacional especializado, preferencialmente na rede regular.
1994
DECLARAÇÃO DE SALAMANCA
O texto, que não tem efeito de lei, diz que também devem receber atendimento
especializado crianças excluídas da escola por motivos como trabalho infantil e
abuso sexual. As que têm deficiências graves devem ser atendidas no mesmo
ambiente de ensino que todas as demais.
1996
LEI E DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO NACIONAL (LBD)
A redação do parágrafo 2o do artigo 59 provocou confusão, dando a entender que,
dependendo da deficiência, a criança só podia ser atendida em escola especial.
Na verdade, o texto diz que o atendimento especializado pode ocorrer em classes
ou em escolas especiais, quando não for possível oferecê-lo na escola comum.
2000
LEIS Nº10.048 E Nº 10.098
A primeira garante atendimento prioritário de pessoas com deficiência nos
locais públicos. A segunda estabelece normas sobre acessibilidade física e
define como barreira obstáculos nas vias e no interior dos edifícios, nos meios
de transporte e tudo o que dificulte a expressão ou o recebimento de mensagens
por intermédio dos meios de comunicação, sejam ou não de massa.
2001
DECRETO Nº3.956 (CONVENÇÃO DA GUATEMALA)
Põe fim às interpretações confusas da LDB, deixando clara a impossibilidade de
tratamento desigual com base na deficiência. O acesso ao Ensino Fundamental é,
portanto, um direito humano e privar pessoas em idade escolar dele, mantendo-as
unicamente em escolas ou classes especiais, fere a convenção e a Constituição
CONSTITUIÇÃO DA
REPÚBLICA
Prevê o pleno desenvolvimento dos cidadãos, sem preconceito de origem, raça,
sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação; garante o direito
à escola para todos; e coloca como princípio para a Educação o "acesso aos
níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação artística, segundo a
capacidade de cada um".
Recursos para a educação inclusiva
Para quem não
enxerga ou não consegue se movimentar, equipamentos, objetos e brinquedos
inclusivos possibilitam um aprendizado mais fácil
A criança chega à escola sem falar ou mexer braços e pernas. É possível
ensiná-la a ler, por exemplo? Sim, e na sala regular. Para quem tem
deficiência, existe a tecnologia assistiva, composta de recursos que auxiliam
na comunicação, no aprendizado e nas tarefas diárias.
As chamadas altas tecnologias são, por exemplo, livros falados,
softwares ou teclados e mouses diferenciados. "Existem recursos para
comandar o computador por meio de movimentos da cabeça, o que ajuda quem tem
lesão medular e não move as mãos.Já as baixas tecnologias são adaptações
simples, feitas em materiais como tesoura, lápis ou colher.
Com o mesmo intuito de promover a inclusão, há brinquedos que divertem
crianças com e sem deficiência. O educador da classe regular pode procurar
esses materiais na sala de atendimento educacional especializado (a sala de
apoio). Nela, o professor especializado oferece recursos e serviços que
promovem o acesso do aluno ao conhecimento escolar. Por isso, o diálogo entre
os dois profissionais é fundamental. Confira alguns materiais que podem
favorecer a aprendizagem da sua turma.
TECLADO VERSÁTIL
Matheus Levien Leal, 10 anos, está na 4a série e tem paralisia cerebral
e baixa visão. Ele usa um teclado com várias lâminas, trocadas de acordo com a
atividade. A de escrita, por exemplo, tem cores contrastantes e letras grandes.
O equipamento é programado para ajustar o intervalo entre os toques, evitando
erros causados por movimentos involuntários.
DIGITAÇÃO SEM ERROS
O suporte, colocado sobre o teclado, chama-se colméia. Ele impede que o
estudante com dificuldade motora pressione a tecla errada.
NUM PISCAR DE OLHOS
O acionador faz a função do clique do mouse e pode ser ativado ao bater
ou fechar a mão, puxar um cordão, piscar, soprar, sugar... O aparato pode ser
colocado em qualquer parte do corpo do aluno. Com ele, é possível acessar livros
virtuais, brincar com jogos e até digitar, usando um teclado virtual.
JOGOS COLORIDOS
João Vicente Fiorentini, 10 anos, tem deficiência física e está na2a
série. Por causa da dificuldade de segurar o lápis, ele usa materiais adaptados
e aprende a escrever com jogos feitos de tampinhas e cartões plastificados. O
material permite a João ainda relacionar cores e quantidades.
Conheça as salas de recurso que funcionam de
verdade para a inclusão
Alunos com
deficiência precisam desenvolver habilidades para participar das aulas. Saiba
como esse trabalho deve ser feito no contraturno
LEITURA NO TATO O trabalho com letras
móveis em braile ajuda os alunos com deficiência visual na alfabetização Fotos: Marina Piedade
Os números do último Censo Escolar são o retrato claro de uma nova
tendência: a Educação de alunos com deficiência se dá, agora, majoritariamente
em classes regulares. Seis em cada dez alunos nessa condição estão matriculados
em salas comuns - em 2001, esse índice era de apenas dois em cada dez
estudantes. O aumento merece ser comemorado, mas que não esconde um grande
desafio: como garantir que, além de freqüentar as aulas, crianças e jovens
aprendam de verdade?
A tarefa tem naquilo que os especialistas chamam de Atendimento Educacional
Especializado (AEE) um importante aliado. Instituído pelo mesmo documento que
em 2008 concebeu as diretrizes para a inclusão escolar, mas regulamentado
apenas no fim do ano passado, o AEE ocorre no contraturno nas salas de
recursos, ambientes adaptados para auxiliar indivíduos com uma ou mais deficiências.
Trabalho não se confunde com atividades de reforço escolar
Diferentemente do que muitos pensam, o foco do trabalho não é clínico. É
pedagógico. Nas salas de recursos, um professor (auxiliado quando necessário
por cuidadores que amparam os que possuem dificuldade de locomoção, por
exemplo) prepara o aluno para desenvolver habilidades e utilizar instrumentos
de apoio que facilitem o aprendizado nas aulas regulares. "Se for
necessário atendimento médico, o procedimento é o mesmo que o adotado para qualquer
um: encaminha-se para um profissional da saúde. Na sala, ele é atendido por um
professor especializado, que está lá para ensinar.
Os exemplos de aprendizagem são variados. Estudantes cegos aprendem o braile
para a leitura, alunos surdos estudam o alfabeto em Libras para se beneficiar
do intérprete em sala, crianças com deficiência intelectual utilizam jogos
pedagógicos que complementam a aprendizagem, jovens com paralisia descobrem
como usar uma prancheta de figuras com ações como "beber água" e
"ir ao banheiro", apontando-as sempre que necessário.
"Desenvolver essas habilidades é essencial para que as pessoas com
deficiência não se sintam excluídas e as demais as vejam com normalidade.
HORA DE CONTAR Alunos com deficiência
intelectual estudam numeração associando placas a faces do dado
Também vale lembrar que o trabalho não é um reforço escolar, como
ocorria em algumas escolas antes de a nova política afinar o público-alvo do
AEE. "Era comum ver nas antigas salas de recursos alunos que apresentavam
apenas dificuldade de aprendizado. Hoje, a lei determina que somente quem tem
deficiência, transtornos globais de desenvolvimento ou altas habilidades seja
atendido nesses ambientes. Com o foco definido, o professor volta a atenção
para o essencial: proporcionar a adaptação dos alunos para a sala comum. Cada
um tem um plano pedagógico exclusivo, com as atividades que deve desenvolver e
o tempo estimado que passará na sala.
Para elaborar esse planejamento, o profissional da sala de recursos apura com o
titular da sala regular quais as necessidades de cada um. A partir daí (e por
todo o período em que o aluno frequentar a sala de recursos), a comunicação
entre os educadores deve ser constante. Se o docente da turma regular perceber
que há pouca ou nenhuma evolução, cabe a ele informar o da sala de recursos,
que deve modificar o plano. Outra atitude importante é transmitir o conteúdo
das aulas da sala regular à de recursos com antecedência. "Se a turma for
aprender operações matemáticas, é preciso preparar o aluno com deficiência
visual para entender sinais especiais do braile.
Salas para todas as deficiências ou especializadas numa única
AVANÇAR SEMPRE (esq.) Com o quadro especial, alunos ensaiam os primeiros
passos na leitura em braile RACIOCÍNIO EM AÇÃO (dir.) O uso de quebra-cabeças aguça a memória dos
estudantes com deficiência intelectual
Em linhas gerais, é possível agrupar as diversas salas existentes em
dois tipos. No primeiro, há recursos para atender a todas as deficiências. É o
modelo defendido pelo Ministério da Educação (MEC) por meio das chamadas salas
multifuncionais, instaladas a pedido de redes municipais ou estaduais (segundo
dados oficiais, são 5,5 mil em funcionamento). O argumento principal é evitar
deslocamentos e fazer com que todos os alunos com deficiência de um bairro ou
comunidade sejam atendidos no mesmo local - cada sala tem estrutura para dez
estudantes. "Isso tem a vantagem de aproximar a família da vida escolar
dessas crianças. Os pais passam a ter mais informações sobre como auxiliar seus
filhos na busca por autonomia.
NOVA HABILIDADE (esq.) Usando talheres adaptados, estudantes com
deficiência física ganham autonomia FALAR COM AS MÃOS (dir.) Aprender Libras é umas das principais atividades de
AEE para alunos com deficiência auditiva
A segunda perspectiva é realizar o AEE por deficiência, Não há grandes
diferenças em relação à infraestrutura - as maiores distinções dizem respeito à
formação do professor . O educador tem uma formação
específica na área em que ele vai atender.
O desafio da (boa) formação específica
Por mais que os equipamentos das salas de recursos sejam importantes, é
a atuação do professor que tem mais impacto na aprendizagem. Entre as
responsabilidades do educador propostas pela nova lei, está a criação de um
plano pedagógico específico para cada aluno e a elaboração de material.
"Nesse sentido, o caminho para uma inclusão efetiva é a formação.
O tipo de formação varia de acordo com o modelo de AEE adotado pela rede. Na
proposta do MEC, o curso é a distância, dura 400 horas e aborda todas as
deficiências. "A metodologia é a do estudo de caso, em que os
participantes investigam a melhor conduta para cada aluno", por outro
lado, a ênfase é na deficiência em que o professor vai atuar. No curso,
presencial, o conteúdo é específico por deficiência. Por exemplo, o professor
que precisa trabalhar com cegos aprenderá braile e o uso de aparelhos de apoio.
A formação ainda está longe do ideal. "É uma medida emergencial para
atender à demanda das salas. Tem sido útil para divulgar o tema, mas precisa
melhorar. Uma das maiores necessidades é ampliar o espaço para a prática.
"Não há nenhum programa de estágio, o que seria essencial", finaliza.
Os fundamentos das deficiências e síndromes
Conhecer o que
afeta o seu aluno é o primeiro passo para criar estratégias que garantam a
aprendizagem
"Procurei saber sobre a paralisia cerebral com os médicos que cuidam do Matheus.
Logo percebi que isso é algo essencial para mim em classe."
Você sabe o que é síndrome de Rett, síndrome de Williams ou
surdo-cegueira? Para receber os alunos com necessidades educacionais especiais
pela porta da frente, é preciso conhecer as características de cada síndrome ou
deficiência.
O primeiro passo é entender as diferenças entre os dois termos.
Deficiência é um desenvolvimento insuficiente, em termos globais ou
específicos, ou um déficit intelectual, físico, visual, auditivo ou múltiplo
(quando atinge duas ou mais dessas áreas). Síndrome é o nome que se dá a uma
série de sinais e sintomas que, juntos, evidenciam uma condição particular. A
síndrome de Down, por exemplo, engloba deficiência intelectual, baixo tônus
muscular (hipotonia) e dificuldades na comunicação, além de outras
características, que variam entre os atingidos por ela.
Se você leciona para alguém com diagnóstico que se encaixa nesse quadro,
precisa saber que é possível ensiná-lo. "O professor deve se comprometer e
acompanhar seu desenvolvimento",
Conheça a seguir as definições e características das síndromes e deficiências
mais frequentes na escola.
Deficiência física
- Definição: uma variedade de
condições que afeta a mobilidade e a coordenação motora geral de membros ou da
fala. Pode ser causada por lesões neurológicas, neuromusculares e ortopédicas,
más-formações congênitas ou por condições adquiridas. Exemplos: amiotrofia
espinhal (doença que causa fraqueza muscular), hidrocefalia (excesso do líquido
que serve de proteção ao sistema nervoso central) e paralisia cerebral
(desordem no sistema nervoso central), que exige dos professores cuidados
específicos em sala de aula (leia mais a seguir).
• Características: são comuns as
dificuldades no grafismo em função do comprometimento motor. Às vezes, o
aprendizado é mais lento, mas, exceto nos casos de alteração na motricidade
oral, a linguagem é adquirida sem problemas. Muitos precisam de cadeira de
rodas ou muletas para se locomover. Outros apenas de apoios especiais e
material escolar adaptado, como apontadores, suportes para lápis etc.
• Recomendações: a escola precisa
ter elevadores ou rampas. Fique atento a cuidados do dia a dia, como a hora de
ir ao banheiro. "Algum funcionário que tenha força deve acompanhar a
criança. Nos casos de hidrocefalia, é preciso observar sintomas como vômitos e
dores de cabeça, que podem indicar problemas com a válvula implantada na
cabeça.
PARALISIA CEREBRAL
• Definição: lesão no sistema
nervoso central causada, na maioria das vezes, por uma falta de oxigênio no
cérebro do bebê durante a gestação, ao nascer ou até dois anos após o parto.
"Em 75% dos casos, a paralisia vem acompanhada de um dano intelectual.
• Características: a principal é a espasticidade, um desequilíbrio
na contenção muscular que causa tensão. Inclui dificuldades para caminhar, na
coordenação motora, na força e no equilíbrio. Pode afetar a fala.
• Recomendações: para contornar as
restrições de coordenação motora, use canetas e lápis mais grossos - uma espuma
em volta deles presa com um elástico costuma resolver. Utilize folhas avulsas,
mais fáceis de manusear que os cadernos. Escreva com letras grandes e peça que
o aluno se sente na frente. É importante que a carteira seja inclinada. Se ele
não consegue falar e não utiliza uma prancha própria de comunicação
alternativa, providencie uma para ele com desenhos ou fotos por meio dos quais
se estabelece a comunicação. Ela pode ser feita com papel cartão ou cartolina,
em que são colados figuras pequenas, do mesmo material, e fotos que representem
pessoas e coisas significativas, como os pais, os colegas da classe, o time de
futebol, o abecedário e palavras-chave, como "sim", "não",
"fome", "sede", "entrar", "sair" etc.
Para informar o que quer ou sente, o aluno aponta para as figuras e se
comunica. Ele precisa de um cuidador para
ir ao banheiro e, em alguns casos, para tomar lanche.
Tema igual, aula diferente
O assunto é o mesmo
para todos, mas você deve buscar maneiras de torná-lo mais compreensível para
quem precisa
TUBO DE ENSAIO Benjamin participa da
prática no laboratório e, na hora da teoria, assiste a vídeos na internet.
Fotos: Marcelo Min
Equipamentos necessários instalados, sala de recursos pronta,
professor-assistente a postos, estudantes com diferentes desempenhos nas
diversas disciplinas. A inclusão está garantida? Não. Independentemente de
possuir ferramentas tecnológicas, espaço e estratégias adequados, em alguns
casos é preciso adaptar principalmente a essência do que se vai buscar na
escola: o conteúdo. O educador tem de refletir com antecedência sobre o tema da
aula e as possíveis flexibilizações para permitir que todos aprendam. As
exigências na avaliação devem ser tão diversificadas quanto a própria turma.
É preciso abrir o leque de opções e ferramentas de ensino, incluir não
significa diferenciar uma atividade para os que têm deficiência, mas aceitar e
autorizar que cada um percorra seu caminho para resolver um problema, o que
significa pensar em alternativas para quem tem dificuldade de percorrer a via
tradicional.
Inclusão: você está preparado?
Tente responder às
questões abaixo e avalie se você é um educador ou uma educadora preparada para
a inclusão.
1 - Recusar a matrícula de um aluno
por causa de uma deficiência é crime?
2 - Crianças com
deficiência física necessitam de cuidados específicos na hora de se movimentar
e participar de atividades na escola?
3 - O professor deve
propor atividades escolares mais fáceis para crianças com deficiência?
4 - Crianças cegas precisam
de profissionais especializados que as ajudem a ir ao banheiro e a se alimentar
na hora das refeições?
5 - As crianças surdas
são totalmente insensíveis ao som?
6 - Pais de crianças
com deficiência podem exigir a matrícula de seus filhos em qualquer escola,
pública ou privada?
7 - Quem apresenta
comprometimento nos movimentos dos braços e também das pernas tem deficiência
múltipla?
8 - Se a criança é cega
ou tem baixa visão, é util para ela que a escola tenha placas de sinalização
nas portas e corredores?
9 - Estudantes
com deficiência podem ajudar colegas sem deficiência nas atividades?
10 - Professores da sala
regular devem incentivar estudantes sem deficiência a fazer parte do processo
de inclusão de colegas com deficiência?
11 - A criança surda,
com atendimento especializado, pode aprende a escrever no mesmo ritmo que as
demais?
12 - A criança cega tem
condições de reconhecer o rosto dos colegas de classe?
13 - Professores da sala
regular podem adaptar materiais para facilitar a participação de estudantes com
deficiência?
14 - Os estudantes com
deficiência devem opinar sobre as medidas adotadas para apoiá-los na escola
regular?
15 - Crianças cegas
podem participar das aulas de Educação Física?
16 - Estudantes com
deficiência mental conseguem desenvolver as habilidades de ler, escrever e
fazer contas e ser independentes?
17 - Mesmo dominando a
língua de sinais, a criança surda pode aprender a falar?
18 - Uma escola só
pode ser considerada inclusiva quando tem crianças com deficiência?
Inclusão promove a justiça
Na escola inclusiva
professores e alunos aprendem uma lição que a vida dificilmente ensina:
respeitar as diferenças. Esse é o primeiro passo para construir uma sociedade
mais justa
MARIA TERESA EGLÉR MANTOAN "Estar junto é se aglomerar com
pessoas que não conhecemos. Inclusão é estar com, é interagir com o
outro". Foto: Kaka Bratke
O que é inclusão?
É a nossa capacidade de entender e reconhecer o outro e, assim, ter o
privilégio de conviver e compartilhar com pessoas diferentes de nós. A educação
inclusiva acolhe todas as pessoas, sem exceção. É para o estudante com
deficiência física, para os que têm comprometimento mental, para os
superdotados, para todas as minorias e para a criança que é discriminada por
qualquer outro motivo.
Que benefícios a inclusão traz a alunos
e professores?
A escola tem que ser o reflexo da vida do lado de fora. O grande ganho, para
todos, é viver a experiência da diferença. Se os estudantes não passam por isso
na infância, mais tarde terão muita dificuldade de vencer os preconceitos. A
inclusão possibilita aos que são discriminados pela deficiência, pela classe
social ou pela cor que, por direito, ocupem o seu espaço na sociedade.
O que faz uma escola ser inclusiva?
Em primeiro lugar, um
bom projeto pedagógico, que começa pela reflexão. Diferentemente do que muitos
possam pensar, inclusão é mais do que ter rampas e banheiros adaptados. A
equipe da escola inclusiva deve discutir o motivo de tanta repetência e
indisciplina, de os professores não darem conta do recado e de os pais não
participarem. Um bom projeto valoriza a cultura, a história e as experiências
anteriores da turma. ou não.
Como está a inclusão no Brasil hoje?
Estamos caminhando
devagar. O maior problema é que as redes de ensino e as escolas não cumprem a
lei. A nossa Constituição garante desde 1988 o acesso de todos ao Ensino
Fundamental, sendo que alunos com necessidades especiais devem receber
atendimento especializado preferencialmente na escola , que não substitui o
ensino regular.
A escola precisa se adaptar para a inclusão?
Além de fazer adaptações físicas, a escola precisa oferecer atendimento
educacional especializado paralelamente às aulas regulares, de preferência no
mesmo local.
Como garantir atendimento especializado se a escola
não oferece condições?
A escola pública que não recebe apoio pedagógico ou verba tem como opção fazer
parcerias com entidades de educação especial, disponíveis na maioria das redes.
Estudantes com deficiência mental severa podem
estudar em uma classe regular?
Sem dúvida. A
inclusão não admite qualquer tipo de discriminação, e os mais excluídos sempre
são os que têm deficiências graves.
A avaliação de alunos com deficiência mental deve
ser diferenciada?
Não. Uma boa
avaliação é aquela planejada para todos, em que o aluno aprende a analisar a
sua produção de forma crítica e autônoma. Ele deve dizer o que aprendeu, o que
acha interessante estudar e como o conhecimento adquirido modifica a sua vida.
Um professor sem capacitação pode ensinar alunos
com deficiência?
Sim. O papel do
professor é ser regente de classe, e não especialista em deficiência. Essa
responsabilidade é da equipe de atendimento especializado. Não pode haver
confusão.
Como ensinar cegos e surdos sem dominar o braile e
a língua de sinais?
É até positivo que o professor de uma criança surda não saiba libras, porque
ela tem que entender a língua portuguesa escrita. Ter noções de libras facilita
a comunicação, mas não é essencial para a aula. No caso de ter um cego na
turma, o professor não precisa dominar o braile, porque quem escreve é o aluno.
O professor pode se recusar a lecionar para turmas
inclusivas?
Não, mesmo que a escola não ofereça estrutura. As redes de ensino não estão
dando às escolas e aos professores o que é necessário para um bom trabalho.
Há fiscalização para garantir que as escolas sejam
inclusivas?
O Ministério Público
fiscaliza, geralmente com base em denúncias, para garantir o cumprimento da
lei. O Ministério da Educação, por meio da Secretaria de Educação Especial,
atualmente não tem como preocupação punir, mas levar as escolas a entender o
seu papel e a lei e a agir para colocar tudo isso em prática.
Saberes e atitudes de alunos com
deficiência
Os pequenos com
deficiência sabem muitas coisas. Às vezes, até mais que os colegas
A cada novo conteúdo a ser ensinado, de acordo com seu planejamento,
você se depara com a tarefa de sondar quanto a turma já sabe sobre aquilo para
determinar como levá-la a avançar. Quando há uma criança com deficiência na
sala, a história não deve ser diferente. É preciso verificar também o que ela
já conhece e seguir em frente com a etapas previstas. Mais do que se basear num
diagnóstico médico que limite as possibilidades dela, proponha situações de
aprendizagem desafiadoras para descobrir até onde ela pode chegar.
Colocando o foco no aprendizado e considerando cada criança em suas
particularidades, você evita a preocupação demasiada com os sintomas ou com a
adequação do comportamento dela. "É muito complicado transportar um
diagnóstico médico para a sala de aula. Ele ajuda, mas não pode ser um rótulo
que se tenha de carregar e impeça o aprendizado", afirma Simone Kubric, educadora
do Trapézio - Grupo de Apoio à Escolarização, em São Paulo. Não são raras as
ocasiões em que o aluno supera as expectativas criadas pelos médicos,
surpreendendo a todos com seu desempenho.
Para investigar o que os alunos com algum tipo de deficiência já sabem, você
pode usar as mesmas estratégias que prepara para os demais, desde que adote
diferenciações adequadas a cada necessidade da criança. O importante é colocar
todos os estudantes em contato com aquilo que pretende ensinar.
A estratégia escolhida deve permitir que eles usem, durante a sondagem,
informações e práticas já conhecidas. Os resultados dão uma ideia dos
conhecimentos prévios de cada um, evitando que você proponha situações fáceis
demais - e, portanto, desmotivantes - ou apresente algo exageradamente
complexo, que os alunos, naquele momento específico, ainda não têm condição de
se apropriar.
Dada a aula, você tem pela frente a tarefa de avaliar o que todos aprenderam.
Aqui é preciso evitar o erro de comparar crianças diferentes, ou querer nivelar
o desenvolvimento da turma. Isso vale para crianças com e sem deficiência. O
desempenho de cada aluno deve ser confrontado com o conhecimento prévio que ele
tinha, levando em conta suas possibilidades individuais. O correto é comparar
cada aluno com ele mesmo.
Avaliação de atitudes
Para que a avaliação do aluno com deficiência saia a contento, é
importante ter em mente o que se quer que ele aprenda, quais são os objetivos
que ele deve atingir e os conteúdos a dominar. Outra tarefa é determinar as
metodologias e estratégias que serão adotadas. Nesse sentido, vale lembrar que
todas as atividades oferecem elementos para avaliação. Atitudes muito simples,
como se reunir em grupo, permanecer sentado na carteira, se alimentar, cuidar
da higiene pessoal sozinho e utilizar os materiais escolares corretamente podem
ser considerados grandes avanços para estudantes com deficiência intelectual. A
observação de todos no dia a dia é sempre de grande valia para o professor.
O educador não pode apenas procurar o que está errado no aluno. O importante é
verificar o que ele foi capaz de aprender. E, no caso das crianças e dos jovens
com deficiência, pequenas atitudes são sempre indícios de progressos, mesmo que
eles não apreendam todo o conteúdo que você tentou ensinar na sua disciplina.
Para acompanhar a aprendizagem das crianças, é preciso fazer registros diários
sobre o desempenho delas e compilar os trabalhos que realizam em sala. Esse
material pode ser transformado num portfólio (arquivo da produção dos alunos).
A periodicidade com que esses registros são transformados em notas depende da
política educacional de cada escola. Pode ser bimestral ou trimestral.
O importante é que esses progressos sirvam de instrumento para que você
verifique o que cada um aprendeu e, especialmente no caso dos alunos com
deficiência, planeje estratégias diferenciadas para que eles não parem de
avançar. Essa verificação também servirá para o planejamento dos objetivos
seguintes. Assim você sempre poderá determinar com mais segurança o que ensinar
a cada etapa e qual a maneira mais apropriada de fazer isso.
Comportamento nas provas
A forma de se comportar no ambiente escolar, além de ser ensinada,
precisa ser também avaliada. Um aspecto particularmente importante é como se portar
durante uma prova. Nesses tempos em que as avaliações de sistemas estão se
tornando cada vez mais frequentes, trabalhar essa questão com aqueles que
apresentam deficiência ganha importância.
Alunos com deficiência das escolas municipais da capital paulista, por exemplo,
já são submetidos à Prova São Paulo, que avalia os estudantes do Ensino
Fundamental em Língua Portuguesa e Matemática. Para participar, os alunos com
autismo, por exemplo, contam com a ajuda de um professor com quem tenham mais
afinidade. As crianças com deficiência visual severa recebem a prova em braile
ou fazem o exame com a ajuda de ledor e escriba.
Algumas flexibilizações são contempladas, como no caso dos alunos com
deficiência intelectual. Eles fazem a prova como os demais, na perspectiva da
inclusão, mas as notas alcançadas por eles não são contabilizadas no resultado
final do exame.
Adequar é o caminho
Levar cada um a
aprender exige abertura para diferenciar tanto o programa como as práticas
Imagine um cenário de sonho: sala bem equipada, laboratório e biblioteca
completos, professores auxiliares e uma turma atenta, ávida para ouvi-lo e
interessada em trabalhar. Agora, professor, responda com franqueza: todos esses
estudantes vão aprender da mesma forma tudo o que você ensinar? Quem está há
algum tempo à frente de um quadro-negro sabe que a resposta é não.
Um aluno nunca é igual a outro. Perceber o potencial de cada um e atingir a
classe inteira é um desafio contínuo que muitas vezes parece mais difícil do
que encontrar a sala dos sonhos do cenário acima. Para chegar lá, além de
estudar muito e se aprimorar sempre, é necessário saber ser f lexível. Durante
o planejamento de suas aulas, você - com a ajuda da coordenação pedagógica e de
colegas - deve encontrar novas formas de ensinar. Essa tarefa, que já é
importante normalmente, se torna imprescindível quando há na classe alunos com
necessidades educacionais especiais. As principais flexibilizações a serem
feitas referem-se a quatro aspectos.
ESPAÇO Adaptação do ambiente
escolar para permitir que todos tenham acesso às dependências da escola. Isso
inclui rampas e elevadores, mas não só. Entram aí também o reordenamento da
sala de aula, por exemplo, e a identificação de materiais em braile para que um
cego possa se locomover e encontrar o que procura com autonomia.
TEMPO Determinação de um
período maior para que crianças e jovens possam retomar conteúdos, realizar
tarefas mais complexas, entregar trabalhos e realizar provas. Um surdo pode
precisar disso nas aulas de Língua Portuguesa, por exemplo, quando tiver de
redigir um texto.
CONTEÚDO Adequação do programa
previsto no currículo ou no planejamento de cada aula com o objetivo de
garantir que estudantes com necessidades educacionais especiais aprendam bem
parte da matéria, em lugar de se dispersar por enfrentar desafios acima de suas
possibilidades. Uma criança com síndrome de Down que não consegue fazer
cálculos mais complexos sobre juros, por exemplo, tem condições de aprender a
calcular o troco numa compra.
RECURSOS Busca de materiais
didáticos ou de outras estratégias para ensinar determinados conteúdos,
facilitando a aprendizagem. É a mais comum, geralmente relacionada a todos os
tipos de deficiência.
Cada uma delas será tratada em quatro reportagens publicadas nas próximas
páginas. Porém, nas histórias de 15 colegas que incorporaram essas
diferenciações em sua prática, fica fácil perceber que uma vem sempre
acompanhada de outra. Ao mesmo tempo em que um professor estende o período
determinado para um trabalho, oferece um material alternativo a quem precisa.
Essa abertura, no entanto, não basta se as atividades, em si, não tiverem
qualidade. Por isso, apresentamos também
planos de aula baseados nas propostas desses educadores. Você vai perceber que,
quando a aula é bem sistematizada, muitas das flexibilizações beneficiam não só
os que têm deficiência, mas a classe inteira. E todos aprendem.( Revista Nova Escola) By Lully.
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