segunda-feira, 9 de julho de 2012

DEFICIENTES INTELECTUAIS? QUEM ELES? NÃO NÓS

INTRODUÇÃO O presente estudo vai tratar da inclusão (ou falta dela) de pessoas com deficiências metais, nas escolas regulares. Trazendo o lúdico como um instrumento de inclusão analisando suas implicações, bem como sua utilização como um instrumento pedagógico na escola inclusiva. A sociedade contemporânea chega com uma série de transformações e mudanças bastante velozes na vida das pessoas. Nesse contexto, convidamos os professores a refletirem conosco sobre essas questões tendo como eixos alguns pontos: a singularidade da criança nas suas formas próprias de ser e de se relacionar com o mundo; a função humanizadora do brincar e o papel do diálogo entre adultos e crianças; e a compreensão de que a escola não se constitui apenas de alunos e professores, mas de sujeitos plenos, crianças e adultos, autores de seus processos de constituição de conhecimentos, culturas e subjetividades. Neste contexto, este estudo tem por objetivo geral investigar o sentido do brincar no processo de inclusão escolar de crianças com deficiência mental na educação infantil. É BRINCANDO QUE APRENDEMOS A BRINCAR A criança se encontra com o mundo através das brincadeiras, recebendo elemento importante para a sua vida. É importante ressaltar que a brincadeira não é algo já dado na vida do ser humano, ou seja, aprende-se a brincar, desde cedo, nas relações que os sujeitos estabelecem com os outros e com a cultura. Santos (2010), em seu Trabalho de Conclusão de Curso confirma a necessidade do brincar para a criança, bem como a toda e qualquer atividade humana como sendo lúdica. Seria até óbvio, mas também, por outro lado, não tão fácil assim, considerar “lúdica” toda e qualquer atividade humana. Desde o nascimento até os últimos dias de vida o ser humano mantém-se diariamente praticando qualquer ação ou trabalho lúdico, seja no agir, falar, posicionar. É no lúdico e pelo lúdico que a civilização surgiu e se desenvolveu (Santos, 2010, p.13) Se podemos dizer que o lúdico é um fenômeno da cultura, uma vez que se configura como um conjunto de práticas, conhecimentos e artefatos construídos e acumulados pelos sujeitos nos contextos históricos e sociais em que se inserem, mas nem sempre foi assim. Porque há ainda tanta dificuldade para se incluir as pessoas com deficiência nas escolas? D’Antino diz que Na educação ainda se reflete a ideologia político-social de qualquer sociedade, há de se tentar compreender a educação especial que hoje temos de conformidade com a sociedade em que vivemos. Sociedade essa que tende a excluir as minorias e delas esperar sempre muito pouco. (...) Sabe-se que a idéias de isolar e segregar está presente em muitos que pensam na educação dos portadores de deficiência mental, por considerar que sua plena integração social jamais se consolidará numa sociedade competitiva que preconiza o desempenho, a produtividade, o vigor, a beleza, etc. (D'ANTINO, 1997, p. 102), Conforme Botelho (1991 apud BIANCHETTI, 1998), no final da Idade Média, foram criadas as Santas Casas de Misericórdia, instituições voltadas para o atendimento às pessoas com deficiência. Essas instituições pretendiam curar os doentes, dar abrigo às pessoas que viviam em situação de mendicância, às pessoas com transtornos mentais, dentre outras. Neste sentido, os cristão poderiam cuidar destes sujeitos, alimentá-los, curá-los das enfermidades e, ainda, garantir sua própria “salvação”. A evolução da medicina, da mesma forma, trouxe a perspectiva de isolamento dos doentes para a sua cura, sendo a deficiência considerada como doença de tipo incurável estabelece-se, a partir de então, as primeiras práticas de “hospitalização”, surgindo, daí, o Paradigma da Institucionalização (ARANHA, 2004). Com o advento do Capitalismo, as deficiências passaram a ser vistas como disfuncionalidade, diferentemente da Idade Média, em que a deficiência era como uma manifestação do pecado e/ou instrumento de salvação dos cristãos. Neste sentido, durante a ascensão do capitalismo, o ser humano passou a ser considerado como uma máquina, que deveria estar em perfeito funcionamento e expressar sua máxima produtividade. O corpo passou a ter bastante importância neste contexto e, por sua vez, as pessoas com deficiência eram tidas como incapazes, completamente dependentes, deficientes na própria acepção da palavra. Mais exatamente, foi só a partir da década de 40 do século XX que a institucionalização das pessoas com deficiência foi se extinguindo e dando lugar aos serviços de Reabilitação Profissional e Educacional. Com a elaboração da Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948), como conseqüência das Grandes Guerras Mundiais, novos rumos foram tomados em relação ao atendimento a estas pessoas. A Educação Especial, então, surgiu como uma forma de dar acesso às pessoas com necessidades educacionais específicas dentro do sistema de ensino, de forma paralela ao ensino regular, porém se realizou sob o prisma da concepção médica, que considera o defeito da própria criança como causador de suas dificuldades. Vale ressaltar que apesar de apresentar o ponto de vista médico ou de reabilitação, não buscando o desenvolvimento social do aluno, a Escola Especial foi fundamental para o desenvolvimento da pessoa com deficiência, pois proporcionou estudos acerca dos tipos de aprendizagens, das estratégias de ensino dedicadas a estas pessoas, permitindo, de certo modo, acesso à sociedade, porém, ainda muito restrito. A Educação destinada a estas criança possibilitou alguns avanços, no entanto, não foi o bastante. Continuaram sendo segregadas, já que as instituições eram reservadas somente a estas pessoas, o que causou estigmatização do local, ou seja, da Escola Especial, vista assim nos dias atuais. Além disso, o nível de ensino sempre foi considerado abaixo da média, pois se acreditou que estes indivíduos, por possuírem um determinado grau de comprometimento, causado pela deficiência, obrigatoriamente, possuiriam déficits intelectuais acentuados, muitas vezes considerados mais elevados do que seriam na realidade. A deficiência mental é considerada por Vygotsky (1997) em função do que ele denomina defeitos primário e secundário. Segundo ele, o defeito primário tem como desencadeante os aspectos biológicos, e o defeitos secundário, as causas sociais, ou seja, é construído na relação social da criança e seu meio. Como relatou D’Antino, essa integração do individuo com deficiência dependerá das relações dialéticas com o seu contexto. É preciso que haja aceitação da deficiência, pois a deficiência é um aspecto que faz parte de sua vida, devendo assim ser valorizados e considerados importantes. Conforme a declaração de Salamanca, encontro que foi realizado pelo Congresso Mundial sobre Necessidades Educativas Especiais, organizado pelo Governo da Espanha em colaboração com a UNESCO e realizou-se em Salamanca, de 7 a l0 de Junho de 1994. O seu objetivo consistiu em estabelecer uma política e orientar os governos, organizações internacionais, organizações de apoio nacionais, organizações não governamentais e outros organismos, através da implementação da Declaração de Salamanca sobre Princípios, Política e Prática na área das Necessidades Educativas Especiais. O direito de todas as crianças à educação está proclamado na Declaração Universal dos Direitos Humanos e foi reafirmado com veemência pela Declaração sobre Educação para Todos. Todas as pessoas com deficiência têm o direito de expressar os seus desejos em relação à sua educação. Os pais têm o direito inerente de ser consultados sobre a forma de educação que melhor se adapte às necessidades, circunstâncias e aspirações dos seus filhos. Nesse sentido é preciso retomar a autonomia da escola para garantir o direito a educação, a aventura, a alegria e por conseqüência uma permanência com qualidade nesse espaço. Zoboli e Barreto (2006 apud RECHINELI; PORTO; MOREIRA, 2008) afirmam que o sujeito com qualquer tipo de deficiência estava em situação de desvantagem em relação àqueles considerados “normais”, já que seu corpo não correspondia aos padrões de eficiência e produtividade pretendidos pelo capitalismo. Assim, continuaram sendo marginalizados e isolados dos acontecimentos sociais. Acreditamos que os trabalhos realizados com os alunos que apresentam deficiência mental através do lúdico demonstram que podem ajudá-los a desenvolverem habilidades importantes, para que de maneira independente, possam explorar e exercitar suas próprias ações, enriquecendo assim, a sua capacidade intelectual e sua auto-estima, pois, as crianças com deficiência mental, na grande maioria das vezes, são vistas como incapazes de obter aprendizagens formais. Por isso em grande parte o seu tratamento está relacionado às suas dificuldades. Tratamento este que é feito com atividades lúdicas, conforme Santos A ludicidade, tão importante para a saúde mental do ser humano é um espaço que merece atenção dos pais e educadores, pois é o espaço para expressão mais genuína do ser, é o espaço e o direito de toda a criança para o exercício da relação afetiva com o mundo. A convivência da criança em um ambiente lúdico lhe proporcionará uma aprendizagem prazerosa e ela poderá estabelecer ricas e variadas relações cognitivas (SANTOS, 2010, p. 40) “O Todavia, a integração desses alunos requer uma nova mentalidade sobre eles, dando-lhes a oportunidade de despertar seu interesse e suas potencialidades. Precisam acabar de considerarem "sem inteligência", pois devidos à esses pré-conceitos muitas vezes ainda continuam submetendo a métodos respectivas cujo método é a automatização. A escola possui função importantíssima, pois favorece a interação de todos os tipos de alunos, na maioria das vezes, através do lúdico, do brincar, em diferentes situações. Sabe-se, neste caso, que com a criança que possui necessidades educacionais especiais isto não se dá de maneira diferenciada. Esta criança, ao pertencer ao ambiente escolar, terá grandes chances de estabelecer relacionamentos com os demais, passando, então, a se beneficiar com estas trocas sociais, fato que irá auxiliar o seu processo de aprendizagem, tanto em relação aos conteúdos curriculares, quanto em relação aos comportamentos sociais. Segundo Huizinga, A criança representa alguma coisa diferente, ou mais bela, ou mais nobre, ou mais perigosa do que habitualmente é. Finge ser um príncipe, um papai, uma bruxa malvada ou um tigre. A criança fica literalmente “transportada” de prazer, superando-se a si mesma a tal ponto que quase chega a acreditar que realmente é esta ou aquela coisa, sem contudo perder inteiramente o sentido da “realidade habitual”. Mais do que uma realidade falsa, sua representação é a realização de uma aparência: é “imaginação”, no sentido original do termo (HUIZIGA, 2007, p.17). Apesar de possuir um ritmo lento de aprendizagem e dificuldades de abstração é preciso que as propostas pedagógicas sejam adequadas as suas condições. O ensino desses alunos deverá partir de atividades concretas, lúdicas, diversificadas e funcionais, despertando o interesse e a motivação para aprender. Além disso, deve ser considerado o caráter dispersivo que eles demonstram, selecionando atividades de curta duração, visando o tempo gradualmente de acordo com suas possibilidades, buscando sempre a progressão da aprendizagem. Então, em vez de nos desgastarmos inutilmente com nossos descontentamentos e com incompreensões recíprocas, devemos procurar ir mais fundo, até as linhas essenciais da vida que regenerarão naturalmente a sua escola quando as tivermos alcançados. (FREINET, 1998, p. 87) Um ambiente lúdico potencializa ao máximo o ato de aprender, oportunizando a construção de conhecimento e exercitando suas potencialidades. Nesse contexto, as situações lúdicas desafiam a criança e provocam o funcionamento do pensamento, estimulando-as a alcançarem excelentes níveis de desempenho, apesar de suas dificuldades. Brincando, a criança aprende fazendo, sem medo de errar e com pleno interesse pela aquisição do conhecimento. Um primeiro aspecto que podemos apontar é que o brincar não apenas requer muitas aprendizagens, mas constitui um aspecto de aprendizagem. Vygotsky (1987, p.117) afirma que na brincadeira “a criança se comporta além do comportamento habitual de sua idade, além de seu comportamento diário; no brinquedo, é como se ela fosse maior do que ela é na realidade”. Isso porque a brincadeira, na sua visão, cria uma zona de desenvolvimento proximal, permitindo que as ações da criança ultrapassem o desenvolvimento já alcançado (desenvolvimento real), impulsionando-a a conquistar novas possibilidades de compreensão e de ação sobre o mundo. A criança deficiente mental embora seja capaz de atingir um pensamento lógico, necessita de um mediador facilitando a sua relação com o outro, baseada no respeito e reciprocidade. Para que possam observar as condições que mudaram na situação presente e compará-la com as anteriores. É preciso entender que, A escola, como todo organismo social, deve necessariamente adaptar-se às necessidades mutáveis do meio. Essa adaptação é uma das condições da vida: realiza-se mesmo no terreno filosófico, o que nos vale uma espécie de humanização permanente das técnicas, uma humanização da vida. O progresso foi continuamente reajustado pelos melhores pensadores. E, graças a eles, a evolução material pôde tornar-se, em certa medida, uma evolução intelectual, uma evolução moral, uma evolução humana. (FREINET, 1998, p.104) O Brincar, portanto, facilita a inclusão desses sujeitos, já que permite sua interação, bem como sua “aceitação” neste ambiente, favorecendo uma inclusão plena referente não apenas à acessibilidade ao ambiente físico ou às práticas escolares, e sim, à união destes fatores com a condição do aluno incluído por se sentir pertencente àquele meio, perpassando, desta forma, a interação social satisfatória com seus companheiros, através do brincar. CONSIDERAÇÕES FINAIS De fato, uma proposta lúdica, centrada no brincar no espaço educativo que inclui e recebe a todos, que articula a convivência tolerante com as diferenças, liga-se nessa rede, onde no exercício do encontro humano, cada momento é único, subjetivo e singular. Cabe ao (a) professor (a) ou ao (a) educador (a) preocupar-se com as conseqüências da deficiência e não com a deficiência propriamente dita. Deve-se dar atenção aos aspectos positivos que estas crianças apresentam, não evidenciando suas falhas, suas dificuldades. Constituindo uma dinâmica entre universalidade e diversidade que se traduz em permanências e transformações, configurando o brincar como uma complexa experiência cultural que simultaneamente une e especifica os grupos sociais. No entanto, ser educador ou educadora é estar fazendo um mundo melhor a cada dia, é saber que a sociedade é feita por cada um e cada uma que circula por nossas vidas durante um ano, vários anos e assim sucessivamente. Acreditamos que o ensino especial não deve ser extinto, mas integrado ao ensino regular, a fim de possibilitar novas chances de aprendizado ao aluno, levando-o a superar suas dificuldades, através de diferentes atividades que tenham importância para o sujeito, inclusive o brincar. Constituindo um saber e um conjunto de práticas partilhadas com as crianças, o brincar está estreitamente associado à sua formação como sujeitos culturais e à constituição de culturas em espaços e tempos nos quais convivem cotidianamente. Bibliografia REFERÊNCIAS ARANHA, M. S. F. Educação Inclusiva: a fundamentação filosófica. Ministério da Educação. Brasília, v.3, p. 1-30, 2004. Disponível em: . Acesso em: 12 dez. 2010. BRASIL, Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Especial. Deficiência Mental. Séries atualidades pedagógicas. Brasília: MEC/SEESP, 1997. BIANCHETTI, L. Aspectos Históricos da apreensão e da educação dos considerados deficientes. IN: BIANCHETTI, L; FREIRE, I. M (Orgs.). Um olhar sobre a diferença: Interação, trabalho e cidadania. Campinas: Papirus, 1998. D'ANTINO, M.E.F. A questão da integração do aluno com deficiência mental na escola regular. In: MANTOVAN, M.T.E. A integração de pessoas com deficiência. São Paulo: memom: SENAC, 1997. FREINET, Célestin. A educação do trabalho. São Paulo: Martins Fontes, 1998. HUIZINGA, Johan. Homo ludens: o jogo como elemento da cultura. São Paulo: Perspectiva, 2007. Tradução João Paulo Monteiro RECHINELI, A; PORTO, E. T. R; MOREIRA, W. W; Corpos deficientes, eficientes e diferentes: uma visão a partir da educação física. Revista Brasileira de Educação Especial. Marília, v. 14, n. 2, maio/ago.2008. SANTOS, José Roberto Morais dos. O Lúdico, a educação e a aprendizagem. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Pedagogia) – Universidade Estadual da Paraíba. Centro de Educação, 2010. UNESCO. Declaração de Salamanca e Linha de Ação sobre Necessidades Educativas Especiais. Brasília: CORDE, 1994. VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1987. _______________. Obras Escogidas. Fundamentos da Defectologia. Madri: Visor, 1997.

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