segunda-feira, 23 de julho de 2012

ANÁLISE DO PERFIL PSICOPEDAGÓGICO

INTRODUÇÃO A Psicopedagogia visa intervenções pedagógicas, de natureza preventiva e terapêutica, no âmbito de clínicas ou de instituições escolares, para a superação de dificuldades de aprendizagem. Para compreender o processo de desenvolvimento das crianças no que diz respeito à aprendizagem, é preciso buscar recursos que possam auxiliar e contribuir nesse trabalho. E é por meio desta busca de subsídios às necessidades diárias de sala de aula que nos faz refletir sobre novas estratégias de diagnósticos de avaliação institucional. Analisar e fazer uma avaliação diagnóstica institucional não é uma questão fácil. Exige uma análise ampla, minuciosa e consciente do educador/professor/instituição. Os problemas escolares podem surgir de diferentes situações para cada aluno/grupo ou instituição. Muitos estudantes, em determinados momentos das suas vidas sofrem muito na escola. Outros iniciam bem e depois passam a ter problemas. Esses em sua maioria sentem que não são compreendidas pelo professor ou não compreendem o que é transmitido dentro da sala, pois se dispersam com facilidade. Em função desses problemas muitas coisas ruins podem acontecer na vida do aluno e prejudicar seu desenvolvimento integral. Nessa proposta de trabalho, a atividade está centrada na avaliação da instituição e de levantar alguma hipóteses diagnósticas com possíveis orientações, fazendo uma articulação do saber psicopedagógico ao contexto escolar, através de uma práxis que dialoga com as necessidades, transformando o saber individual em saber coletivo. Permitindo que a equipe escolar consiga lidar com as resistências e os desafios como resultado da sua própria aprendizagem. DESENVOLVIMENTO O caso a seguir, relata o percurso de um grupo formando por crianças repetentes que estavam cursando o 1º ano pela terceira vez, encaminhadas por professores de uma escola pública. Os alunos (segundos seus professores): Os professores selecionaram sete crianças consideradas incapazes de progredir na escola, “casos graves” que precisavam se submeter a tratamento com especialistas, uma vez que os recursos pedagógicos para auxiliá-las já haviam sido esgotados. Esses professores falaram das características pessoais de cada criança, de forma genérica, demonstrando não conhecê-los em profundidade. Além disso, como já foi observada por Patto (1985), a definição das crianças é feita pela negativa, pelo que falta ou pelo que é inadequado. J. 11 anos, já havia freqüentado outra escola em um estado vizinho. Não sabe ler nem escrever. Não faz nada na sala de aula e é extremamente desinteressado. M. 10 anos, é bagunceiro, destrutivo e agitado, não obedece e só quer saber de jogar futebol e conversar. W. 9 anos, é hiperativo, não para na carteira, não sabe nem segurar um lápis, tem letra horrível e problemas familiares graves - seu pai não mora em casa e seu padrasto bebe. F. 10 anos, é lento não tem memória, o que aprende esquece no dia seguinte. G. 9 anos, é um menino largado, vem sujo para a escola, está bloqueado, não consegue dar o clique, aprende até certo ponto e depois não vai. S. 10 anos, é apática, fica divagando, no mundo da lua, no seu caderno ao invés de lições só tem flores. C. 10 anos, é tímido e introvertido, não entende o que a gente fala, não participa de nada, nem de Educação Física, não tem amigos, não faz nada. A história escolar: A história inicial de todos é comum, pois embora estivessem freqüentando, no momento do trabalho, classes diversas, pertenceram no 1º ano a mesma classe, a qual ficou marcada na escola por ter sido reprovada em massa (70%) e pela substituição constante de professores. Estes tiraram licença médica ou se aposentaram (sete professores em um ano). Após esse início conturbado, as crianças reprovadas foram reunidas com outras crianças problemas, tendo sido designada uma professora novata, sem experiência docente, para assumir a classe, informalmente chamada de “FRACO”. Essas crianças repetiram novamente e foram redistribuídas pelas classes de iniciantes, a fim de recomeçar, pela terceira vez o processo de alfabetização, com exercícios de coordenação motora fina e orientação espaço temporal. A pesquisa da história escolar, geralmente desconsiderada pelos psicólogos clínicos, é fundamental para entender a problemática enfrentada por essas crianças. Freqüentemente revela um processo escolar complicado, fruto de práticas escolares equivocadas e inadequadas. A versão dos pais: Na primeira reunião com os pais, todos compareceram e aceitaram aparentemente satisfeitos, o trabalho com seus filhos. Falaram de sua preocupação com o fracasso escolar das crianças e com o seu destino: “sem estudo ele não vai ser nada na vida, igual a gente, trabalhar, trabalhar e ficar na mesma”. Contaram situações de sua vida e da vida dos filhos. Segundo os pais, as crianças tiveram um desenvolvimento normal até entrarem na escola, quando surgiram os problemas e preocupações. Os professores começaram a chamá-los na escola para se queixarem de seus filhos, cobrando-lhes providências. A exceção foi a mãe de Carlos, que sempre se preocupou com o filho, seu jeito diferente e seu desenvolvimento atrasado. Os pais de Jorge, Marcos e Wagner achavam que seus filhos não aprendiam porque eram desinteressados e preguiçosos, ao mesmo tempo em que problematizaram vários aspectos da escola que consideravam inadequados. Eles relataram que o problema estava localizado na área escolar, o brincar e o resto da vida dos filhos continuavam preservados. Os pais de Silvia, Fábio e Gabriel estavam, no momento, preocupados com o desempenho geral das crianças, questionando suas capacidade e inteligência, para a escola e para a vida. A mãe de Silvia contou que a filha, antes era alegre e vivaz, andava desanimada e triste não querendo ir para a escola, às vezes, até inventava doenças. Alguns já buscaram ajuda de outros profissionais especialistas, mas nada conseguiram do serviço público. Ao analisar o perfil da instituição é necessário que sejam analisados os aspectos, as características e as relações que compõe um todo. Utilizando para isso processos de observações, de avaliações (percepções e experiências) e interpretações das informações dadas. É um processo no qual se analisa a situação dos alunos com dificuldades dentro do contexto da escola, da sala de aula e da família. Fernández (1990) afirma que o diagnóstico, para o terapeuta, deve ter a mesma função que a rede para um equilibrista. É ele, portanto, a base que dará suporte ao psicopedagogo para que este faça o encaminhamento necessário. É um processo que permite ao profissional investigar, levantar hipóteses provisórias que serão ou não confirmadas ao longo do processo recorrendo, para isso, a conhecimentos práticos e teóricos. Esta investigação permanece durante todo o trabalho diagnóstico através de intervenções e da “ escuta psicopedagógica", para que“ se possa decifrar os processos que dão sentido ao observado e norteiam a intervenção". (BOSSA, 2000, p. 24). Nessa instituição pode ser observado que a turma diagnosticada é resultado de um trabalho onde houve falhas pedagógicas, no que diz respeito a continuidade de uma unidade de trabalho, onde houve mudança de 7 professores no ano e isso refletiu no trabalho em sala de aula e na relação afetiva entre professor/aluno, aluno/família e escola/comunidade. Assim resultando em falta de estímulos por parte das crianças e dos professores envolvidos. Encontramos ainda relatos dos professores por terem um método de ensino tradicional e com uma resistência ao novo, prejudicam a aprendizagem de seus alunos, que são rotulados como “perda de tempo”, excluindo essas crianças dentro da sala de suas aulas, colocando a culpa totalmente nos alunos. “...não faz nada na sala de aula e é extremamente desinteressado, é bagunceiro, destrutivo e agitado, não obedece e só quer saber de jogar futebol e conversar, é hiperativo, não para na carteira, não sabe nem segurar um lápis, tem letra horrível e problemas familiares graves - seu pai não mora em casa e seu padrasto bebe, é lento não tem memória, o que aprende esquece no dia seguinte, é um menino largado, vem sujo para a escola, está bloqueado, não consegue dar o clique, aprende até certo ponto e depois não vai, é apática, fica divagando, no mundo da lua, no seu caderno ao invés de lições só tem flores, é tímido e introvertido, não entende o que a gente fala, não participa de nada, nem de Educação Física, não tem amigos, não faz ...” Segundo BRASIL (2005), para entendermos como a criança vê o mundo, precisamos atentar a três estruturas: a biológica, a psíquica e a mental. A estrutura biológica compreende a maturação ou os danos do Sistema Nervoso Central – SNC. Convém assinalar a noção da neuroplasticidade, descrita por Vygotsky (2005), cuja descoberta possibilita intervenções precoces, nos primeiros meses ou anos de vida, podendo reverter quadros que eram vistos, aparentemente, como irreversíveis. “Um dos principais ingredientes nessa intervenção, além do conhecimento teórico, é o “investimento afetivo”, que possibilita ressignificar o lugar da criança no contexto”. A instituição no ano seguinte sabendo dos problemas colocou as crianças reprovadas reunidas com outras crianças problemas, tendo sido designada uma professora novata, sem experiência docente, para assumir a classe, informalmente chamada de “FRACO”. Essas crianças repetiram novamente e foram redistribuídas pelas classes de iniciantes, a fim de recomeçar, pela terceira vez o processo de alfabetização, com exercícios de coordenação motora fina e orientação espaço temporal, ou seja, as histórias escolares dessas crianças foram desconsideradas pela direção e equipe pedagógica e então complicando ainda mais a situação com práticas escolares equivocadas e inadequadas. A Epistemologia Convergente, idealizada por Jorge Visca, possibilita uma reflexão a partir da idéia de se articular saberes, proporcionando um melhor fluxo do conhecimento, abrindo caminhos para a compreensão do fenômeno da aprendizagem. A concepção de aprendizagem apresentada pela Epistemologia Convergente está relacionada ao esquema evolutivo da aprendizagem, através das relações vinculares. Refere-se aos aspectos afetivos e também cognitivos que se estabelecem desde o nascimento, no contato com a função maternante, ampliando-se as relações para a família, a comunidade e a escola. Portanto, o aprender não se restringe à escola, mas é inerente ao desenvolvimento humano durante toda a sua existência, através das interações com o outro. Apoiado na Psicanálise, Visca sustenta que a vinculação afetiva que o indivíduo estabelece com o objeto da aprendizagem pode criar possibilidades e/ou impedimentos, gerando obstáculos que têm a capacidade de impedir ou dificultar a aprendizagem. Nessa instituição, as relações grupais estão permeadas de conflitos intensos à diferentes áreas: cognitiva, afetiva, funcional e/ou cultural. Esses obstáculos caracterizam-se pela dificuldade e/ou resistência em aprender, em realizar algumas atividades. Portanto a aprendizagem pode não evoluir, necessitando de intervenção. No ambiente institucional, a intenção é instrumentalizar a situação para um processo de intervenção mais elaborado. Crianças que às vezes, tem algum distúrbio de aprendizagem que com atenção e uma percepção psicopedagógica, trabalhando sua auto-estima, suas questões afetivas, podem vencer esses obstáculos na aprendizagem. O trabalho psicopedagógico a partir do diagnóstico deve ser para contribuir e auxiliar os professores, à aprofundarem seus conhecimentos sobre as teorias do ensino-aprendizagem e as recentes contribuições de diversas áreas do conhecimento, redefinindo-as e sintetizando-as numa ação educativa. Esse trabalho permitirá que o professor se olhe como aprendente e como ensinante. E também auxiliar os professores a realizar atendimentos pedagógicos individualizados, contribuindo para a compreensão de problemas na sala de aula, permitindo a ele ver alternativas de ação e ver como as demais técnicas podem intervir, bem como participando do diagnóstico dos distúrbios de aprendizagem e do atendimento a um pequeno grupo de alunos. Para o psicopedagogo, a intervenção junto ao professor, num processo de parceria, possibilitará uma aprendizagem muito importante e enriquecedora. A participação junto com os professores em reuniões de pais, conselhos de classe, avaliando o processo metodológico; na escola como um todo, acompanhando a relação professor e aluno, aluno e aluno, aluno que vem de outra escola, sugerindo atividades, buscando estratégias e apoio. Promovendo assim orientações metodológicas de acordo com as características e particularidades dos indivíduos do grupo, realizando processos de orientação. Numa perspectiva Psicopedagógica, o trabalho com as famílias pode ser considerado fundamental e indispensável para modificar as atitudes de alguns alunos, mas, mesmo assim, esse trabalho somente se constituirá em uma das partes, já que ele estará centralizado, principalmente, no conhecimento e na modificação da situação escolar no processo ensino-aprendizagem. Diante da hipótese de diagnóstico sugere-se que se faça um trabalho com corpo docente, alunos e comunidade: As intervenções que poderão ser utilizadas para a superação dos aspectos frágeis dessa instituição com o corpo docente: •reuniões e/ou grupos de estudos oferecidos ao corpo docente da instituição, buscando embasamento teórico sobre as questões em foco e também quanto à proposta curricular da mantenedora (Semana de Estudos Pedagógicos). •Incentive os sujeitos da ação educativa a atuarem considerando integradamente a bagagem intelectual e moral; •Estimule a postura transformadora de toda a comunidade educativa para, de fato, inovar a prática escolar; contextualizando-a; •Enfatize o essencial: conceitos e conteúdos estruturantes, com significado relevante, de acordo com a demanda em questão; •Oriente e interaja com o corpo docente no sentido de desenvolver mais o raciocínio do aluno, ajudando-o a aprender a pensar e a estabelecer relações entre os diversos conteúdos trabalhados; •Reforce a parceria entre escola e família; •Lance as bases para a orientação do aluno na construção de seu projeto de vida, com clareza de raciocínio e equilíbrio; •Incentive a implementação de projetos que estimulem a autonomia de professores e alunos; •Conscientizar o docente de sua posição de “eterno aprendiz”, de sua importância e envolvimento no processo de aprendizagem, com ênfase na avaliação do aluno, evitando mecanismos menores de seleção, que dirigem apenas ao vestibular e não à vida; A psicopedagoga orientará a pedagoga a criar um cronograma anual, onde programará atividades durante o ano letivo para fazer estudos ou análises de cada aluno/turma nas permanências junto com as professoras. Como exemplo: FEVEREIRO 03 - Reunião e Planejamento trimestral. 04 – Organização da professora. 09 à 13 - Permanência concentrada(textos teóricos de assuntos que necessitem ser estudados ou análise de alunos e encaminhamentos para avaliações de saúde). 16 à 20 – Avaliação Diagnóstica com os alunos feita pela professora regente. 28- Reunião com os pais Obs.: Deverá ser feita na sala de aula, onde a professora irá explicar um pouco sobre seu trabalho com a turma para os pais. MARÇO 02 à 06 – Livre para professora. 09 à 13 – Apresentação dos resultados e encaminhamento de alunos( montar grupos para corregência). 16 à 20 – Permanência concentrada(textos teóricos de assuntos que necessitem ser estudados ou análise de alunos e encaminhamentos para avaliações de saúde). 23 à 27 – Apresentação do Diário para as pedagogas. 30 à 03/abril – livre para professora. ABRIL 06 à 10 - Permanência concentrada. 13 à 17 – Elaborar avaliação trimestral. 20 à 24 – Aplicação da avaliação. 27 à 1º - Conselho de Classe. Obs.: Deverá ser entregue os relatórios individuais (língua portuguesa/ matemática e comportamento ao setor pedagógico no dia do Conselho. •ajudar os professores, auxiliando-os na melhor forma de elaborar um plano de aula para que os alunos possam entender melhor as aulas; •ajudar na elaboração do projeto pedagógico; •orientar os professores na melhor forma de ajudar, em sala de aula, aquele aluno com dificuldades de aprendizagem, montando grupos com reforço escolar, que pode ser no contra turno e em sala de aula; •realizar um diagnóstico institucional para averiguar possíveis problemas pedagógicos que possam estar prejudicando o processo ensino-aprendizagem através de avaliações e colocar os resultados em planilhas para serem analisados os rendimentos das turmas e da escola; •encaminhar o aluno para um profissional (psicopedagogo, psicólogo, fonoaudiólogo etc.) a partir de avaliações psicopedagógicas; •conversar com os pais para fornecer orientações com palestras de profissionais se necessário; •auxiliar a direção da escola para que os profissionais da instituição possam ter um bom relacionamento entre si; •conversar com a criança, fazer acordos internos, quando este precisar de orientação. •organizar projetos de prevenção; •clarear papéis e tarefas nos grupos; •ocupar um papel no grupo; •criar estratégias para o exercício da autonomia (aqui entendida segundo a teoria de Piaget: cooperação e respeito mútuo); •fazer a mediação entre os subgrupos envolvidos na relação ensino-aprendizagem (pais, professores, alunos, funcionários); CONSIDERAÇÕES FINAIS Ao se instrumentalizar em um diagnóstico, é necessário que o psicopedagogo cuide em analisar e avaliar não só o nível familiar ou escolar, mas um todo. Um diagnóstico da instituição escolar se concretiza através de uma ampla observação das dimensões que envolvem a aprendizagem e que possibilita uma reflexão e conhecimento dos problemas educacionais que estão vinculados e que influenciam a prática pedagógica. Portanto, o diagnóstico deve ser encarado como busca constante de saber sobre aprender sendo o fio condutor que norteará a intervenção Psicopedagogia . Os conhecimentos da Psicopedagogia nos permitem compreender a integração entre a construção de conhecimento por parte do sujeito (o sujeito epistêmico e a constituição do sujeito pelo conhecimento) seu desejo, sua história, sua singularidade. Sendo assim, a Psicopedagogia Institucional é de grande valia em uma escola, pois com seu olhar clínico poderá estruturar um projeto de intervenção com os professores, funcionários, diretor e família dos alunos, visando à auto-estima não só dos alunos, mais de todos os envolvidos no processo ensino-aprendizagem. 
Bibliografia REFERÊNCIAS BARBOSA, Laura M. Serrat. A psicopedagogia no âmbito da Instituição Escolar, Curitiba: Expoente, 2001. BRASIL. Ministério de Educação e Cultura. Educação Inclusiva: documento subsidiário à política de inclusão. Brasília: MEC, 2005. FERNANDEZ, Alícia. Inteligência aprisionada. Porto Alegre: Artmed, 1995. ________________. O saber em jogo: a psicopedagogia propiciando autorias de pensamento. Porto Alegre: Artmed, 2001. OLIVEIRA, Mari Â. C. Psicopedagogia: a instituição em foco. Curitiba: Ibepex, 2009.

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