segunda-feira, 23 de julho de 2012

CONTRIBUIÇÕES DA PSICOPEDAGOGIA PARA A PRÁXIS NA EDUCAÇÃO INFANTIL

1. Introdução De acordo com a dinâmica da sociedade atual as crianças estão sendo matriculadas pelos seus pais em instituições educacionais, cada vez mais cedo. Muitas delas ficam tempo integral com a família apenas no período de Licença Maternidade da genitora. Contudo, as instituições escolares que se dedicam à Educação Infantil estão ampliando seu espaço físico para atender um número cada vez maior de crianças. Porém, somente a ampliação do espaço físico não basta. As instituições devem investir nos docentes, quer seja contratando novos profissionais qualificados ou promovendo a formação continuada dos profissionais que já estão atuando na instituição de ensino. A escolar tem assumido muitos papéis além do educar. Hoje, na Educação Infantil educa-se para a vida, educa-se para o presente e para o futuro, para a formação pessoal, social e para o conhecimento de mundo, portanto, para que a criança possa construir sua identidade e autonomia. Nesse enfoque, destacam-se os seguintes eixos de trabalho: Movimento, Música, Artes Visuais, linguagem Oral e Escrita, Natureza e Sociedade e Matemática. A demanda da Educação Infantil é ampla, inclusive porque há o envolvimento de vários fatores que interferem no processo de ensino e aprendizagem, tais como a dinâmica política e econômica da sociedade no que tange à situação dos pais, a diversidade da clientela, o espaço físico no qual se desenvolve a educação, ainda, a qualidade da atuação de muitos profissionais da área educacional. Alguns dos problemas que podem interferir na aprendizagem têm sido percebidos na Educação Infantil, por conta do ingresso, cedo, das crianças à escola. Se por um lado, isso parece um problema, por outro pode significar vantagens como: ampliação do tempo para estimulação à aprendizagem; interação entre as crianças, aumento das possibilidades de intervenções educativas, desenvolvimento de sentimentos importantes no relacionamento humano como solidariedade, tolerância, respeito às diferenças e ao multiculturalismo, dentre outras. Exatamente, nesse contexto da Educação Infantil é que o profissional da Psicopedagogia pode vir a contribuir para a melhora da qualidade do ensino. Pois, sabe-se que o psicopedagogo pode atuar nos problemas de aprendizagem de forma preventiva e curativa, tanto na clínica quanto na instituição escolar. Na clínica o psicopedagogo atua diretamente com a criança que apresenta dificuldades na aprendizagem ajudando-a a aprender. Já na instituição, atua na prevenção dos problemas de aprendizagem auxiliando na organização pedagógica e metodológica do ensino. Para tanto, faz-se necessário uma reflexão a respeito da Organização dos Currículos Pedagógicos na Educação Infantil e do brincar como meio de desenvolvimento da criança, posteriormente a abordagem da psicopedagogia e sua contribuição para esta modalidade educacional. Metodologia A presente reflexão teórica é fruto das inquietações de uma profissional da educação que atua como docente e psicopedagoga, tanto na prevenção dos problemas de aprendizagem, quanto na intervenção atendendo educandos da educação básica e superior. No que se refere à Educação Infantil, primeira etapa da Educação Básica, optou-se por refletir a respeito da organização dos conteúdos pedagógicos;o brincar e o desenvolvimento da criança; A psicopedagogia e suas contribuições para a Educação Infantil. Desenvolvimento Organização dos Conteúdos Pedagógicos na Educação Infantil Os currículos da Educação Infantil devem levar em conta as sugestões dos Referencias Curriculares Nacionais da Educação infantil. Com base nestes documentos, a Educação Infantil deve promover o desenvolvimento de capacidades que levem às crianças a apropriarem-se de conhecimentos e habilidades relativas ao próprio corpo, à cognição, à ética, à estética, à afetividade e à interação social (BRASIL, 1998) . O autoconhecimento, a expressão verbal e corporal, a construção de valores, a expressão artística, a compreensão de si e a interação social podem ser trabalhados através de atividades diversas, nas quais o lúdico ocupa papel essencial. Para que o ensino infantil proporcione, de fato, o desenvolvimento das capacidades física, cognitiva, ética, estética, afetiva e social, os Referenciais Curriculares da Educação infantil apresenta como campos de ação o conhecimento de si e dos outros, o brincar, o movimento, a linguagem oral e escrita, a matemática, as artes visuais, a música e o conhecimento do mundo. Os conhecimentos que compõem o campo de ação da Educação Infantil são trabalhados por meio de temas transversais, no enfoque multidisciplinar. Neste sentido, percebemos que a Educação Infantil oferece muitas possibilidades para ação pedagógica. São justamente estas possibilidades que devem ser analisadas pelos pais pelo ponto de vista qualitativo e não quantitativo, considerando assim aspectos como: • Formação dos educadores que trabalham com as crianças (ter no mínimo curso de Magistério); • Tempo de permanência da criança em sala de aula; • Atividades lúdicas; • Material pedagógico; • Espaço físico; • Limpeza; • Organização; • Tratamento dado às crianças Estes são alguns pontos a serem considerados. É evidente que há muitos outros, porém na ação pedagógica as atividades lúdicas não devem ser deixadas de lado. Elas são importantíssimas para a aquisição de conceitos essenciais à aprendizagem tais como classificação, a seriação, inclusão, dentre outros apontados por Piaget (1985). O brincar e o desenvolvimento da criança O brincar é uma ação que não exige tempo rígido ou local apropriado, é uma atividade assistemática que possui regras flexíveis e que não implica vencer, pois o que importa é participar da brincadeira. A brincadeira permite à criança fantasiar, criar, tornar o impossível possível, permite o sonho transformar a realidade. Deste modo, contribui para elaboração de muitos problemas das crianças e muitos terapeutas vêm fazendo uso dele para o diagnóstico e intervenção em vários casos, inclusive nos que se referem à aprendizagem. Os objetos para brincar são diversos, mas o que realmente importa é o espaço e o tempo destinado para fazê-lo. Pode-se utilizar quebra-cabeças, palitos coloridos, caixas de fósforos, bingo, baralho, brinquedos lúdicos (bonecas, bonecos, carrinhos, robôs...) jogos infantis (faz-de-conta, amarelinha, cabra-cega, pular corda, jogar bolinha de gude, bolas, dados, peteca, três marias...), brinquedos pedagógicos (dominós de tabuadas, dominó de números e numerais, seqüência de histórias, dominó de palavras..), tintas, lápis de cor, giz-de-cera entre outros, que são os materiais utilizados, também, para o diagnóstico e para a intervenção psicopedagógica. Muitas são as contribuições do brinquedo para a criança, sendo imprescindível no seu desenvolvimento psíquico e social. Porém, muitas instituições educacionais que atuam com a educação infantil parecem estar mais preocupadas com a formação acadêmica, sobretudo no que se refere à preparação precoce das crianças para o futuro e para o mercado de trabalho. Devido à dinâmica da sociedade, as crianças estão “perdendo” o espaço destinado à infância, ou seja, está perdendo o tempo destinado ao brinquedo, às interações com outras crianças e à fantasia, ao jogo lúdico. Conseqüentemente, seu campo de ação vem sendo delimitado pelos adultos, que reduzem cada vez mais nas agendas o espaço destinado ao brincar. Isto, justo numa época rica de objetos destinados às brincadeiras, já que elas contribuem para o desenvolvimento psíquico, físico, social e, portanto, cognitivo, possibilitando, no mínimo, a elaboração de hipóteses, suas comprovações e reformulações, pois é através delas que as crianças testam e reconstroem suas opiniões. A autonomia da criança em brincar, ter sua privacidade, administrar seu tempo, poder criar e fantasiar puderam vir a refletir na estruturação da sua personalidade, visto que as crianças aspiram aos status dos adultos imitando-os enquanto brincam, adquirindo assim, disposição interna para enfrentar o mundo. A brincadeira é entendida por Fröebel (1881) apud Breogère (1995, p. 96) como “...a expressão direta da verdade na criança”, assim sendo, tirar dela o tempo destinado à brincadeira é roubar-lhe a infância. Brougère (1995, p.97) acredita que “a brincadeira é um processo de relações interindividuais, portanto de cultura”. Ela faz parte do processo cultural, então, brincando aprende-se a compreender, dominar e depois a produzir situações que demonstram a incorporação do saber. Bateson (1977) apud Brougère (1995, p.98) afirma que a brincadeira pressupõe uma comunicação específica que é, de fato, uma metacomunicação. Isto é justificado através do fato de que, se as crianças que irão brincar não concordarem com as regras da brincadeira, ela não acontecerão. Estas regras podem ser explícitas ou implícitas, mas o importante é que quem brinca esteja desprovido de preconceitos e permita criar maneiras diferentes de se divertir. Brougère (1995, p.99) considera que “a brincadeira é uma mutação do sentido, da realidade: as coisas aí tornam-se outras...” . Isto significa que, quando a criança brinca, pode elaborar sentimentos, fazer associações, classificações sem medo de ser reprimida. Levando-se em consideração a importância do brinquedo no desenvolvimento da criança, pode-se concluir que ainda há necessidade de se conscientizar os professores e outros profissionais da área educacional, assim como os pais, sobre a importância de permitir-lhe brincar, enfim, de permitir-lhe ser criança. Negar-lhe a oportunidade é tão grave quanto negar-lhe a alimentação, já que a primeira alimenta a alma e a segunda o organismo. O brincar tornou-se uma atividade importante no trabalho psicopedagógico, pois quando a criança brinca deixa transparecer o que a está preocupando, perde o medo de se expor e é capaz de falar através dos personagens ou situações que cria ao brincar. Observando a criança brincar ou brincando com ela o psicopedagogo pode conhecer sua maneira de enfrentar situações não previstas, pode saber resolver os problemas que lhes são apresentados, pode ainda observar como ela se relaciona com o objeto a ser conhecido, informações estas imprescindíveis para a intervenção psicopedagógica. A Psicopedagogia A Psicopedagogia é uma área de estudo nova voltada para o atendimento de sujeitos que apresentam problemas de aprendizagem. No Brasil ela está sendo desenvolvida desde a década de 80 remontando 20 anos de existência. Segundo Bossa (1994), a Psicopedagogia nasce com o objetivo de atender a demanda - dificuldade de aprendizagem. De acordo com o Dicionário Aurélio (1980), Psicopedagogia “é o estudo da atividade psíquica da criança e dos princípios que daí decorrem, para regular a ação educativa do indivíduo” . A este respeito, a psicóloga e psicopedagoga Bossa (1994) considera que o termo Psicopedagogia parece deixar claro que se trata de uma aplicação da Psicologia à Pedagogia e por isso, esta definição não reflete o significado do termo. De fato, a Psicopedagogia vai além da aplicação da Psicologia à Pedagogia, pois ela não pode ser vista sem o caráter interdisciplinar, que implica a dependência da contribuição teórica e prática de outras áreas de estudos para se constituir como tal. Por outro lado, a Psicopedagogia não é apenas estudo da atividade psíquica da criança e dos princípios que daí decorre, visto que ela não se limita à aprendizagem da criança, mas abrange todo processo de aprendizagem, e conseqüentemente, inclui quem está aprendendo, independente de ser criança, adolescente ou adulto. A Psicopedagogia é um campo de atuação que integra saúde e educação e que lida com o conhecimento, sua ampliação, sua aquisição, distorções, diferenças e desenvolvimento por meio de múltiplos processos, conforme o Código de Ética da Psicopedagogia, ( Capítulo I, Artigo 1º.) Nesse sentido, Bossa (1994) afirma que a Psicopedagogia ainda está construindo seu corpo teórico, portanto, não se constitui como ciência. Assim sendo, é uma área de estudos muito nova e pode, pois, ser vista com desconfiança por alguns. Por outro lado, o fato de ser jovem, permite que se construa para atender os atuais problemas enfrentados no processo ensino-aprendizagem. São crescentes os problemas ligados às dificuldades de aprendizagem no Brasil. A Pedagogia, embasada em teóricos conceituados como Piaget, Vygotsky, Freinet, Ferreiro, Teberosky, e outros, têm sido insuficiente para prevenir ou intervir nesses casos. Então, a Psicopedagogia surge para auxiliar na intervenção e na prevenção dos problemas de aprendizagem. Tanto na clínica quanto na instituição, o psicopedagogo atua intervindo como mediador entre o sujeito e sua história traumática, ou seja, a história que lhe causou a dificuldade de aprender. No entanto, o profissional não deve fazer parte do contexto do sujeito, já que ele está contido numa dinâmica familiar, escolar ou social. O profissional deve tomar ciência do problema de aprendizagem, fazer a leitura do mesmo para a devida intervenção. Assim, com o auxílio do psicopedagogo, o sujeito poderá reelaborar sua história de vida reconstruindo fatos que estavam fragmentados e retomar o percurso normal de sua aprendizagem. Neste ângulo, o trabalho clínico do psicopedagogo se completa com a relação entre o sujeito, sua historia pessoal e a sua modalidade de aprendizagem. Já o trabalho preventivo objetiva “evitar” os problemas de aprendizagem, utilizando-se da investigação da instituição escolar, seus processos didáticos e metodológicos, enfim analisa a dinâmica institucional com todos profissionais nela inseridos, detectando os possíveis problemas e intervindo para que a instituição se re-estruture. Entende-se que a clínica seja um lugar de ajuda que, no caso do trabalho psicopedagógico está relacionado, também, com o espaço de atuação deste profissional tanto nas escolas quanto em consultórios, predominando na instituição escolar o trabalho preventivo e no consultório o clínico. No trabalho clínico, o psicopedagogo faz a investigação e intervenção nos problemas de aprendizagem da criança de forma individual, considerando horário semanal variando de uma a três sessões, de preferência em dias alternado para não sobrecarregar o cliente e dar a ele tempo suficiente para elaborar o conteúdo trabalhado nas sessões. O trabalho neste ângulo envolve a entrevista com os pais, visita à escola e entrevista com o professor e demais envolvidos nesse espaço. O trabalho psicopedagógico ocorre através das contribuições de diversas áreas do conhecimento humano. Eis algumas delas: Psicologia, Pedagogia, Psicanálise, Psicologia Genética e Lingüística. Para a Psicopedagogia, é fundamental que o profissional faça uso do trabalho interdisciplinar, pois os conhecimentos específicos das diversas teorias contribuem para o resultado eficiente da intervenção ou prevenção psicopedagógica. Por exemplo, a Psicanálise fornece embasamento para compreender o mundo inconsciente do sujeito; a Psicologia Genética proporciona condições para analisar o seu o desenvolvimento cognitivo, a Psicologia possibilita compreender o seu mundo físico e psíquico; a Lingüística permite entender o processo de aquisição, pelo sujeito, da linguagem, tanto oral quanto escrita. Não pode ser negada a contribuição da Pedagogia para a Psicopedagogia visto que sem ela não há o entendimento dos métodos, técnicas de ensino, além de não ser possível compreender o funcionamento da instituição escolar sob o aspecto da organização administrativa, legislativa e mesmo pedagógica. No preventivo, segundo Bossa (1994) a Psicopedagogia tenta detectar perturbações no processo ensino-aprendizagem, conhecer a dinâmica da instituição educativa, direcioná-la quanto à metodologia de ensino utilizada, através de orientação de estudos e apropriação dos conteúdos escolares. Contribuições da Psicopedagogia para a Educação Infantil A Psicopedagogia, campo de atuação do psicopedagogo, cujo foco principal é a aprendizagem, e sua atuação é preventiva e curativa, pois se dispõe a detectar problemas de aprendizagem e resolvê-los, contribuindo, também, para evitar o surgimento outros. Se preocupando com o sujeito que aprende, a Psicopedagogia contribuir para a Educação Infantil à medida em que poder auxiliar na orientação pedagógica e metodológica dos profissionais desta área educacional, também, na organização do espaço de instituições que atendam à demanda da Educação Infantil, ainda, na organização dos conteúdos pedagógicos e na formação continuada dos docentes. Ainda, no enfoque preventivo, a Psicopedagogia, pode atuar para evitar dificuldades no processo de aprendizagem; e no enfoque curativo, realizar intervenção precoce das dificuldades de aprendizagem. Conclusões Conclui-se que a Psicopedagogia pode contribuir para a melhora da qualidade de ensino na Educação Infantil na medida em que o psicopedagogo atua orientando os educadores em relação à metodologia e as estratégias a serem adotadas no ensino, colabore com a formação continuada dos docentes, ainda, atue na prevenção dos problemas de aprendizagem e na a intervenção dos casos já detectados. A expectativa com relação ao psicopedagogo na educação é grande, devido ao tamanho da demanda, fato útil para a formação de parcerias entre os profissionais das duas áreas, conscientizando a família da importância do trabalho psicopedagógico e da possibilidade de se efetivar uma educação de qualidade que leve em conta a inteireza dos educandos. Bibliografia Bibliografia: AURÉLIO Buarque de Hollanda Ferreira. Pequeno Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro. Gamma 1980. BOSSA, Nádia Aparecida. A Psicopedagogia no Brasil: Contribuições a partir da Prática. Porto Alegre: Artes Médicas, 1994. BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental. Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil/ Ministério da Educação e do Desporto, Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1998. Vol. 1 Introdução BROUGÈRE. Gilles. Brinquedo e Cultura. São Paulo: Cortez, 1995. CÓDIGO DE ÉTICA DA ABPp. In: Revista Psicopedagogia. São Paulo. v.12, Nº25, p.36-37, ABPp, 1993. PIAGET, Jean. Seis estudos de Psicologia. Rio de Janeiro: Forense, 1985.

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