Ø Rimas, aliterações, trava-língua, consciência sintática, silábica e fonêmica são habilidades relacionadas à consciência fonológica.
Partindo de versos a professora trabalha a produção coletiva de texto:
Borboletinha
Tá na cozinha
Fazendo chocolate
Pra vovozinha
Peti, peti
Perna de pau,
Olho de vidro
Nariz de pica-pau-pau-pau.
(nota de observação, 17/08/2006)
Borboletinha
As crianças estavam sentadas no chão, na rodinha. A professora sugere que as crianças trabalhem com rimas.
P - Vamos tentar fazer rimas usando as palavras?
E escreve no quadro as palavras terminadas com “ão” citadas pelas crianças:
• CORAÇÃO
• MÃO
• CÃO
• SABÃO
• LIMÃO
• AVIÃO
C1 - “Tia, ele falou ‘MACARRÃO’ tira as calças e dá um Mijão”.
P - É que a rima é pra gente brincar com as palavras.
P - Os meninos fizeram uma rima. As pessoas usam a rima pra brincar. Geralmente pra ser engraçado.
C2 - Tia, outra rima: “Quando eu fico de “LADO” eu falo “RIMADO”.
C3 - Outra rima tia: quando eu fico do seu “LADO” eu fico “GRUDADO”.
C4 - Tia, quando eu fico no CELULAR eu fico BRAVO.
P - “CELULAR” e “BRAVO” tem rima?
C 1 - Não.
P - Por quê?
C1 - Porque não combina.
C5 - Quando eu fico do seu “LADO”,
Meu coração fica “APERTADO”
C6 - “ÁGUIA”
P - “ÁGUIA” rima com o quê?
C6 - Com “ÁGUA”.
P - Teve som igual ao som do final?
Cs – Não
P - Não é o som que começa. É o som que termina.
C7 - Também tem “AR” que rima com “MAR.”.
C8 - “Quando eu fico do seu “LADO”
meu coração fica “MAGOADO”.
P - Olha quanta rima!
C9 - Tia, tem “PELÉ” e “ZÈ”
P - Mas vamos fazer um versinho? Quem me ajuda?
C9 - O “PELÉ” vendo o “PÉ” de “CHULÉ”.
C2 - Já sei tia:
O PELÉ
O REI DO PÉ
ENSINOU PRO ZÉ
QUE TEM CHULÉ.
C3 - “ZÉ”, vai tomar “CAFÉ”
C10 - O “PELÉ” tem “CHULÉ”.
C6 - O “PELÉ” vai tomar “CHÁ”.
P - O PELÉ vai tomar “CHÁ” rimou?
Cs - Não!
C13 - O “PELÉ” vai tomar “CAFÉ”
(nota de observação, 30/08/2006)
Entrei na sala de aula, as crianças estavam sem a professora que estava doente. Conversei com elas sobre as músicas que conheciam:
C1 - Tia tem aquela da formiguinha.
P/P - Qual?
C1 - Que foi no mercado.
P/P - AH! Já sei!
De repente, Natan para, olha pra mim muito sério e diz:
C2 - Você está construindo rimas.
P/P - Como você sabe?
C2 - Eu sei. “Café” rima com “pé”.
“Repolho” rima com “olho”
“mamão” rima com “mão”.
Tem muita rima.
P/P - Vejam pessoal a descoberta que o Natan fez.
Uma criança se aproxima de mim e diz:
C - Sabia que “P” e “E” é “PÉ”?
P/P - Como você sabe?
C - Eu sei! “P” e “E” escreve “PÉ” e rima com “CHULÉ”.
(nota de observação, 15/10/2006)
Ø Grande parte das dificuldades de se desenvolver a consciência fonêmica deve-se à variação de um determinado fone. Adams et alii (2006)
Ø Em função de variações da língua, é difícil dizer quantos sons existem no português brasileiro.
Ø O número de alofones varia de região para região
Ø Para desenvolver a consciência fonológica das crianças torna-se necessário que os professores tenham conhecimento da estrutura da língua, em especial da fonologia, da fonética e da fônica.
Ø O trabalho com rimas:
“Ao direcionar a atenção das crianças para a estrutura sonora das palavras, o jogo da rima promove sua consciência de que a fala não tem apenas significado e mensagem, mas também uma forma.” (ADAMS, et alii, 2006, p. 35)
Ø Quando discutimos consciência fonológica, temos de atentar para alguns aspectos da descrição lingüística da língua oral. Na fala não há necessariamente pausa entre as palavras, já na escrita há um espaço em branco entre elas. Na fala ocorre um fenômeno rítmico denominado grupo de força. (Bortoni-Ricardo, 2005)
Ø O ponto mais forte de um grupo de força é a sílaba tônica de uma palavra em que outra palavra (principalmente as monossílabas) se junta a ela. Esses vocábulos pronunciados sem pausa constituem grupo de força.
(Bortoni-Ricardo, 2005)
Sugestões para o Trabalho Pedagógico
Ø Jogos de escuta: estimular a habilidade das crianças a prestarem atenção a sons de forma seletiva. (ouvir sons da rua, das casas, do corpo, seqüência de sons, ouvir determinado som e associá-lo a sua fonte)
Ø Jogos com rimas: Usar rimas para introduzir os sons das palavras. (poesias, canções, versos histórias rimadas, rima de palavras)
Ø Consciência das palavras e frases: desenvolver a consciência das crianças de que a fala é constituída por uma seqüência de palavras. (jogos orais com frases completas, perceber palavras dentro da frase, comparar palavras de objetos pelo tamanho)
Ø Consciência silábica: Desenvolver a capacidade de analisar as palavras em sílabas, separando-as e sintetizando-as. (batendo palmas para os nomes de acordo com as sílabas, falar sobre um objeto e dizer quantas vezes abriu a boca para falar)
Ø Introduzindo fonemas iniciais e finais: Mostrar as crianças que as palavras contêm fonemas e introduzir a elas a forma como os fones soam e como o percebemos quando os pronunciamos isoladamente. (descobrir o nome de um objeto a partir do som inicial de sua letra, procurar objetos que iniciem com o mesmo som, classificar objetos pelo som inicial, identificar objetos que tenham o mesmo som final)
Ø Consciência fonêmica: Desenvolver a capacidade de analisar as palavras em uma seqüência de fonemas isolados , separando-os e sintetizando-os. (Perceber o movimento da boca ao pronunciar uma palavra toda vez que muda de som, pronunciar uma palavra fone por fone, brincar com fichas de palavras introduzindo letras e a escrita)
Ø Introduzindo a relação das letras com os sons da fala: (dizer a inicial dos nomes dos colegas das classes, procurar objetos, falar nome de objetos que iniciam por determinada letra, procurar figuras começadas por determinada letra, pronunciar palavras de acordo com as figuras., falar o nome da letra inicial de cada objeto)
Peço licença para terminar
soletrando a canção de rebeldia
que existe nos fonemas da alegria:
canção de amor que vi crescer
nos olhos da criança que aprendeu a ler,
no processo de alfabetizar letrando...
(Adaptação do poema de Thiago de Mello)
REFERÊNCIAS
Ø ADAMS, Jager Marilyn; FOORMAN, Barbara, R.; BEELER, Terri. Consciência fonológica em crianças pequenas. Porto Alegre: Artmed, 2006.
Ø CARDOSO-Martins, Cláudia. Consciência Fonológica e alfabetização. Petrópolis, RJ: Vozes, 1995.
Ø BORTONI-RICARDO, Stella Maris; BORTONE, Márcia Elizabeth. Modos de Falar/Modos de Escrever. Brasília: MEC. Secretaria de Educação Básica. Secretaria de Educação a Distância. Universidade de Brasília. 2006. Coleção pró-letramento. Fascículo 06.
Ø CARVALHO, Marlene. Alfabetizar e letrar – um diálogo entre teoria e prática. Petrópolis, RJ: Vozes, 2005.
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