terça-feira, 22 de novembro de 2011

PSICOPEDAGOGIA: INCLUSÃO ESCOLAR E TDAH

PSICOPEDAGOGIA: INCLUSÃO ESCOLAR E TDAH
Crenilda Mercês Miranda Orécchio e Eunice Barros Ferreira Bertoso
RESUMOExistem muitas pesquisas realizadas visando o esclarecimento do Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), mas até onde estas questões são recebidas com a preocupação e importância devida, será que as questões que envolvem estes casos são observadas devidamente? Como os profissionais se colocam diante desta questão? Partindo destas preocupações esta pesquisa tem como objetivo identificar a visão de psicopedagogos, que no momento da pesquisa atuam em clínicas e/ ou os que estão em sala de aula, em relação os TDAH, tentando perceber se há preparo para recebê-los nos ambientes educacionais, se existem conhecimento para acolhê-los e quais são os maiores dificuldades em recepcioná-los. Participaram da pesquisa 30 psicopedagogos e pedagogos, destes 50% praticam a psicopedagogia em clínicas e 50% atuam em escolas como professores. Todos os participantes residem na Zona Sul de São Paulo seus locais de trabalho também são na mesma região. Para efetivar a coleta de dados foi usado um questionário de sete questões mistas. Conforme os dados coletados, percebemos que os professores e os psicopedagogos estão pouco preparados para trabalharem com os portadores de TDAH entre outros distúrbios.
Palavras-chave: psicopedagogia, dificuldades, aprendizagem.

1 INTRODUÇÃOO TDAH é um dos mais freqüentes distúrbios que ocorre em crianças. A hiperatividade, uma deficiência neurológica de origem genética é um descontrole motor acelerado, que faz com que a criança tenha movimentos bruscos e inadequados, mudanças de humor e instabilidade afetiva.
Não existe uma única forma de TDAH e com o tempo pode sofrer alterações imprevisíveis. Afeta a criança na escola, em casa e na comunidade. Em geral, muitas vezes, prejudicando seu relacionamento com professores, colegas e familiares.
O TDAH pode apresentar três formas de distúrbios com predomínio da desatenção, hiperatividade, impulsividade, ou a combinação de ambos.Alguns sintomas se manifestam precocemente.O grau de atividade de um indivíduo caracteriza-se por seu comportamento motor e mental.
Segundo O Dr. AMEN (2005), o sistema límbico profundo, no centro do cérebro, é o centro de formação de laços e de controle de humores, e, portanto estar ligado aos outros é essencial à humanidade. Mas se há um desequilíbrio no cérebro o ser humano tem que lutar contra problemas, entre eles o TDAH.Ainda, segundo o Dr. AMEN (2005), estas características geralmente tem origem genética.
O córtex pré-frontal, na parte da frente do cérebro, é seu supervisor, é o que faz manter a concentração, a fazer planos e controlar os impulsos. Quando há problemas nesta área, o individuo pode desenvolver certos desequilíbrios e passa a não controlar seus impulsos, desencadeando distração, desatenção, desorganização, o que caracteriza o déficit de atenção e a hiperatividade.
CHAMAT (2008), “ Denomina de dificuldades de aprendizagem o que se refere à problemática orgânica, onde os sujeitos portadores destas dificuldades também apresentam, com certeza, dificuldades em outras áreas de sua vida, não somente a escolar.”
A aprendizagem normal se dá de forma integrada no sujeito que aprende: sentir, pensar, exprimir e agir. Quando há dissociações graves e incontroláveis podem ser indícios que existe algo errado com o sujeito.
PICHON-RIVIÈRE (1982), muito contribuiu para a compreensão das dificuldades de aprendizagem resultantes de ansiedades vividas pelo sujeito no momento em que se vê colocado em situação de aprendizado. Ele propõe a análise de momentos seqüências existente em todo processo de aprendizagem humana e em qualquer aprendizagem o sujeito passa por um momento que ele chama de “momento confusional”, “momento de discriminação”, e pelo “momento de integração’, para ai saber o que realmente aprendeu ou teve dificuldade em aprender.
Levando em consideração o que diz WEISS (2007),  precisamos avaliar todos os aspectos para se fazer uma abordagem sobre o fracasso escolar do sujeito, e a interligação desses aspectos ajudará a construir uma visão gestáltica da pluricausalidade, possibilitando uma abordagem global do sujeito em suas múltiplas facetas.
Avaliar a qualidade de vida e buscar relações com a saúde infantil é uma das preocupações para que permeiem a presente pesquisa.
CHAMAT (2008), contextualiza que os fatores que podem levar a quadros de hiperatividade encontram-se “em partos complicados, traumáticos, convulsões, em que o cérebro deixa de receber a oxigenação adequada, etc. esse problema gera agitação e extrema falta de atenção e concentração.
2 OBJETIVOS2. 1 OBJETIVO GERAL
Investigar como o educador e a escola trabalham com a questão da inclusão e o TDAH.
2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Identificar as estratégias e recursos que os educadores usam no atendimento de crianças com o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade;
Conhecer as dificuldades no atendimento aos alunos com dificuldades de aprendizagem (TDAH) na opinião dos educadores.

3 MÉTODO
Os sujeitos de pesquisa foram selecionados a partir da disponibilidade de tempo e aceitação da participação na pesquisa respondendo com clareza e atenção ao questionário. Foram escolhidos numa amostra de conveniência 20 psicopedagogos que atuam em escolas e clínicas particulares da zona sul da cidade de São Paulo.
Para coleta de dados foi escolhido o questionário com questões abertas e fechadas (anexo) entregue aos psicopedagogos, em sete escolas e oito clínicas particulares da zona sul de São Paulo. O primeiro contato com os participantes foi o preenchimento do Termo de Consentimento Livre Esclarecido para a participação da pesquisa, após a aprovação do Comitê de Ética.
4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOSEntre as questões apresentadas ao profissional estava em primeiro lugar o tempo de experiência profissional.
Experiência profissional

Conforme as respostas, percebemos em sua maioria, que os profissionais estão trabalhando com educação entre 4 e 7 anos, o que pode ser um tempo importante para aquisição de conhecimento e preparo deste profissional, mas que não foi à realidade encontrada nesta pesquisa.

Considerando o gráfico acima, detectamos o baixo desempenho dos profissionais para lidarem com o problema da inclusão dos alunos portadores de TDAH.
Quando perguntamos sobre as técnicas e matérias mais utilizados para o desenvolvimento dos alunos com distúrbios de aprendizagem, percebemos que 55% fazem uso de jogos para auxiliar na intervenção desses sujeitos que possuem transtornos e dificuldades, e segundo WEISS, (2007),:” Este é um importante instrumento de diagnóstico e intervenção.”
Mas cabe salientar que ainda nos dias atuais existem muitos educadores e profissionais da área desatualizados e despreparados para lidar com situações desafiadoras.
Professores em escolas desestruturadas, sem apoio material e pedagógico, desqualificados pela sociedade, pelas famílias, pelos alunos não podem ocupar bem o lugar de quem ensina tornando o conhecimento desejável pelo aluno.

Verificamos nesta pergunta, sobre como a escola trabalha os problemas de aprendizagem, o método escolar preocupa-se em 45% das escolas em desenvolver um projeto específico para se atender os alunos com problemas de aprendizagem. Desta  forma, cada um dos temas de ensino supõe uma coordenação de esquemas em um âmbito pratico, representativo, conceitual e concordante com um nível de equilibração particular, obtido através de regulações, descentrações intuitivas ou operações lógicas, praticas ou formais.(Pain, 1986, p 23).
Em todas as atividades relacionadas o  que nos interessa é compreender neste ponto a oportunidade que o sujeito tem para investigar ( ampliar seus esquemas precoces) e para modificar-se, isto é, assimilar e aprender os conteúdos.
Por ser o jogo inerente ao homem, e por  revelar sua personalidade integral de forma espontânea, é que se pode obter dados específicos e diferenciados  neste item, com 55% de uso entre os educadores.

Existe uma preocupação da maioria das escolas em se ter um projeto específico para atender esses alunos com dificuldades de aprendizagem e o planejamento é elaborado visando auxiliar o professor no desenvolvimento das atividades para incluir os alunos com TDAH ou outros transtornos. Fica evidente que a metodologia precisa ser dirigida a esses alunos de modo diferenciado.
No caso Carlinhos, ilustramos a seguinte situação:
Carlinhos estuda no 1º ano, de um modo geral todos na sala aprendem, alguns possuem algumas dificuldades, mas nada que se compare às dificuldades de Carlinhos. Seus colegas lhe chamam de burro e isto o deixa em péssima situação, se sentindo inferior a todos na sala e sem vontade de estudar. Se você fosse à professora de Carlinhos, como agiria?

A atuação do educador muitas vezes não esta muito bem definida para ele próprio e nesta questão observamos que em sua maioria, 40% ele deve ser o incentivador dos seus alunos para que haja um bom desempenho escolar, mas só isso não basta.

 Para atender alunos com dificuldades de aprendizagem, perguntamos o que faltava em suas escolas para que esta realidade fosse positiva, e o que encontramos foi à falta de apoio escolar por parte dos dirigentes e coordenadores e como já vimos e de estrema importância o incentivo e apoio para que os profissionais pesquisem e se especializem em suas áreas: A contínua formação do profissional é muito importante para o desenvolvimento de habilidades que requerem muita pesquisa e renovação de conceitos, assim confirmamos que: “O aprender contínuo é essencial se concentra em dois pilares: a própria pessoa, como agente, e a escola, como lugar de crescimento profissional permanente” (NÓVOA, 2002).”
Um bom professor deve estimular o aprendente; por essa razão a função básica dos profissionais da área de educação deveria ser: Melhorar as condições de ensino para o crescimento constante do processo de ensino-aprendizagem e assim prevenir dificuldades na produção escolar; Fornecer meios, dentro da escola, para que o aluno possa superar dificuldades na busca de conhecimentos anteriores ao seu ingresso na escola; Atenuar, ou no mínimo contribuir para não agravar, os problemas de aprendizagem nascidos ao longo da história pessoal do aluno e de sua família.


Todas as s pessoas envolvidas com educação certamente passará por alguma dificuldade em sua profissão, mas quando o apoio escolar se manifesta de forma eficiente, tudo pode ser amenizado. Durante esta pesquisa, percebemos que uma das maiores queixas foi à falta do apoio dos dirigentes escolares que deixam seus professores a deriva de sua própria sorte e não favorece a inclusão no âmbito institucional.
5 CONCLUSÃOTodos os resultados que permeiam este trabalho de pesquisa, vem nos mostrar a intensa falta de preparo profissional de alguns atuantes na área educacional, o que gera preocupação, pois os alunos portadores de síndromes e transtornos são os que mais precisam de atenção e preparo para lidar com as diversas situações pertinentes ao seu problema.
VIGOSTSKY; LURIA; LEONIEV, (1981), apontam que a tarefa primordial do psicopedagogo é a de afastar o sintoma e inserir a aprendizagem de forma lúdica, mas em minha opinião, este trabalho vai muito além e requer dedicação e aprimoramento de várias técnicas e materiais, visando o desenvolvimento integral do sujeito que sofre com determinado distúrbio.
Outro relato relevante encontrado em torno deste trabalho foi à falta ou ausência de apoio escolar, as inclusões escolares, por si só não resolvem todos os problemas, pois o processo de exclusão é anterior a escolarização.
Enfatizo que a reestruturação das e instituições e clínicas podem ser feitas, mas é preciso buscar especialização ou complementação no campo profissional, pois assim todos, principalmente aqueles cujo meu trabalho eu estruturo, que são os alunos com TDAH, poderão se beneficiar e tratar um problema que acomete seu dia a dia e que pode ser suavizado com tratamento adequado e personalizado e com a vinculação desejada entre ser que aprende e ser que ensina.
Muitos autores que tratam de aprendizagem, entre eles, Pichon-Rivierè (1981), Piaget (1993), Visca (1997), apontam que a quebra ou defasagem na relação ser que ensina com o ser que aprende é desastrosa do ponto de vista da aprendizagem. Para Piaget (op. Cit.), torna-se impossível estabelecer vinculação com o conhecimento. Esse aspecto mostra de forma repetitiva em toda obra, para que o profissional tenha isso em mente. Além disso, sua auto-estima estará defasada na vinculação com a aprendizagem, que repercutirá em outras áreas. Neste aspecto existe, segundo Pichon-Rivierè (op. cit.), uma estreita ligação entre o vínculo e a aprendizagem. O escasso vínculo com o conhecimento torna a aprendizagem e vida social insatisfatórias. Chamat (op. cit.) diz que a vinculação é a responsável pela criatividade e pelo desejo de busca, de lidar com o conhecido e desconhecido e as rupturas neste processo levam o sujeito a se sentir desvalorizado e com medo de fracassar. Daí a necessidade de que, neste processo de ensino-aprendizagem, haja uma predominante relação vincular entre ensinante e aprendiz, o que não tem sido uma realidade no âmbito escolar atualmente.
Bibliografia
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AMEN, D. Transforme seu cérebro transforme sua vida. São Paulo. Mercúrio, 2005.
ANTONY, S. RIBEIRO, J. P. A criança hiperativa: uma visão da abordagem gestáltica. Revista de psicologia, 2004.
CALLIGARIS, C., Cartas a um jovem terapeuta. Rio de Janeiro, Elsevier, 2008.
CAMPOS, A.P.Q. avaliação e manejo da criança com dificuldade escolar e distúrbio de atenção. Jornal de pediatria. 2002.
CHAMAT, L.S.J., Técnicas de intervenção Psicopedagogica. São Paulo, Vetor, 2008.
CLEILLY, M.F.L., EUNICE, B.F.B., A atuação dos psicopedagogos diante das dificuldades, distúrbios, e transtornos de aprendizagem. Relato de pesquisa, UNASP/SP – 2009..
COUTINHO, G. MATTOS, P. ARAUJO, C. DUCHESNE, M. Transtorno do déficit de atenção e hiperatividade: contribuição diagnostica de avaliação computadorizada de atenção visual. Revista de psiquiatria clínica, 2007.
GOMES, M. PALMINI, A. BARBIRATO, F. ROHDE, L.A. MATTOS, P. Conhecimento sobre o transtorno do déficit de atenção / hiperatividade no Brasil. Revista Brasileira de psiquiatria, 2007.
MACHADO, L. F. J.  Transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) em crianças - reflexões iniciais. Faculdade de Maringá – instituto paranaense de ensino, 2007.
PENTEADO, R. Z, PERIRA, I.M.T.B. Qualidade de vida e saúde vocal dos professores. Revista de saúde publica 2007.
TEIXEIRA, V. S. Compreendendo o TDAH - como lidar bem no lar e na escola. Jornal ABPp, 2009.                                                              WEISS, M.L.L., Psicopedagogia Clínica. Uma visão diagnóstica dos problemas de aprendizagem escolar.  Rio de Janeiro, Lamparina, 2007.

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