terça-feira, 22 de novembro de 2011

ANÁLISE DO PERFIL PSICOPEDAGÓGICO DA INSTITUIÇÃO

IntroduçãoPatto, em conhecida obra sobre o fracasso escolar, estudou as raízes históricas das concepções sobre o mesmo. A autora afirma a necessidade “... de conhecer, pelo menos a realidade em seus aspectos fundamentais, a realidade social na qual se engendrou uma determinada versão sobre as diferenças de rendimento escolar existentes entre crianças de diferentes origens sociais”.(PATTO, 1990, p.9).
E a realidade desta instituição em análise é: alunos e professores desmotivados, rodízio muito grande de professores durante o ano letivo, prejudicando o vinculo afetivo entre as partes.
Rotulação dos alunos e da turma na instituição e entre os professores, acarretando uma pré-conceituação do problema, sem analise mais profunda. Os professores já chegam na sala sabendo dos alunos “problemas” e os tratando com tal.
Pais preocupados com seus filhos e também sem querer já os pré conceituando-os como fracos e preguiçosos. È aqui que o psicopedagogo conquista espaço. Uma observação minuciosa e uma escuta atenta sem pré-conceitos, assinalada pela imparcialidade, pode detectar a real problemática da instituição escolar. “Esse é o papel do psicopedagogo nas instituições: olhar em detalhe, numa relação de proximidade, porém não de cumplicidade” , como afirma Césaris (2001), facilitando o processo de aprendizagem.
O olhar psicopedagógico
Analisar compreensivamente a instituição desfocando os alunos e centrando-se num todo, como a metodologia de ensino da instituição, o tratamento que é dado a essas crianças: Relação aluno professor. Porque aqui para haver aprendizagem o professor deve tecer uma teia entre seus educandos.

Segundo Gasparin “pensar escola à luz da psicopedagogia significa analisar um processo que inclui questões metodológicas, relaciona-se socioculturais, englobando o ponto de vista de quem ensina e de quem aprende (a teia) abrangendo a participação da família e da sociedade”.
A metodologia deve ser adequada à realidade da turma. Será que estamos indo por este caminho? Como são passados os conteúdos? A criança possui ambiente tranqüilo e adequado para realizar seus estudos em casa? Há motivação por parte da família? São todas essas questões que devem ser analisadas, Rubem Alves já dizia o aluno pode ser um revolver, mas o professor pode se tornar um canhão.
O psicopedagogo estimula o desenvolvimento de relações interpessoais, o estabelecimento de vínculos, a utilização de métodos de ensino compatíveis com as mais recentes concepções a respeito desse processo. Procura  envolver a equipe escolar, ajudando a ampliar o olhar  em torno do aluno e das circunstâncias de produção do conhecimento.
A atuação do Psicopedagogo na instituição visa a fortalecer-lhe a identidade, bem como buscar o resgate das raízes dessa instituição, ao mesmo tempo em que procura sintonizá-la com a realidade que está sendo vivenciada no momento histórico atual, buscando adequar essa escola às reais demandas da sociedade.
Durante todo o processo educativo, procura investir numa concepção de ensino-aprendizagem  que:
Fomente interações interpessoais Criando mecanismos que contribuam na transformação da criança. Organizar o OECA com uma observação lúdica, analisando como cada um deles interage no ambiente criado. A realização da EOCA tem a intenção de investigar o modelo de aprendizagem do sujeito sendo sua prática baseada na psicologia social de Pichón Rivière, nos postulados da psicanálise e método clínico da Escola de Genebra (BOSSA, 2000, p. 44).
Para Visca, a EOCA deverá ser um instrumento simples, porém rico em seus resultados. Consiste em solicitar ao sujeito que mostre ao entrevistador o que ele sabe fazer, o que lhe ensinaram a fazer e o que aprendeu a fazer, utilizando-se de materiais dispostos sobre a mesa, após a seguinte observação do entrevistador: "este material é para que você o use se precisar para mostrar-me o que te falei que queria saber de você" (VISCA, 1987, p. 72).
Diante do levantamento realizado com a instituição e pais caberia aqui trabalhar inicialmente a área afetiva para consecutivamente direcionar na área funcional, realizando o conceito de operatividade de Pichon Rivieri.
“A operativadade é a capacidade de agir por si, sem esperar que aquele que coordena dê os passos e as soluções para a realização de uma tarefa, mas que coordene usando o desenvolvimento da autonomia”.
Quanto às queixas da instituição sobre o rodízio de professores, trabalhar em reuniões pedagógicas motivacionais fazendo-as repensar na sua postura e metodologia perante a turma; trabalhar com o modelo de alternativas múltiplas fazê-los vivenciar o conflito (aqui vale tanto aos professores, pais, instituição e alunos) problematizar e destacar o comportamento do grupo como um todo.
Segundo Mantoan (1999 p.19):
Aos professores é importante a descrição detalhada de como se amplia e se aprofunda o conhecimento em uma dada criança. Porque a intervenção pedagógica, por mais generalizada que seja, recai sobre um aluno especifico, ou seja, em caso individualizado. A maioria dos professores, no entanto, não sabe disso e pensa que as turmas homogêneas de alunos garantem o desenvolvimento de um bom trabalho, revelando a crença de que, ao ensinar um mesmo conteúdo para todos os alunos, esses assimilam num mesmo nível e numa mesma proporção o que lhes foi transmitido.
A ansiedade e a angustia dos envolvidos neste processo interferem na relação afetiva e de aprendizagem do educando como ressalta Bassedas et. Al.
A patologia da aprendizagem é uma confluência de fatores que envolvem família, escola e sujeito estabelecendo uma rede de relações sociais, distribuindo as responsabilidades.
O educador terá uma visão mais compreensiva das particularidades do educando, possibilitando a inserção do mesmo ao sistema a que faz parte. A leitura positiva quer saber o que está ocorrendo, em que situações ele fracassa e em quais ele consegue ter sucesso, “buscando compreender como se constrói a situação de um aluno que fracassa em uma aprendizagem e, não”, o que falta “para essa situação ser uma situação de aluno bem-sucedido”. (CHARLOT, 2000, p.30).
A família é o espelho da criança, refletindo o que vivencia. Vivemos num mundo globalizado, onde elas captam milhares de conhecimento numa fração de segundos. Convivem com o stress e a ansiedade coletividades que seus pais enfrentam lá fora no mercado de trabalho, competem na sociedade para serem bem vistos. E todo este bombardeio não é nada inofensivo, pois os tornam em uma eterna busca pelo prazer, saciar suas vontades, que muitas vezes nem eles mesmos próprios sabem quais são. A verdadeira geração de insatisfeitos. Augusto Cury diz que quanto pior for a qualidade de educação, mais importante será o papel do psiquiatra neste século, século dos antidepressivos e tranqüilizantes.
A anamnese é uma das peças fundamentais deste quebra-cabeça que é o diagnóstico. Através dela nos serão reveladas informações do passado e presente do sujeito juntamente com as variáveis existentes em seu meio. Observaremos a visão da família sobre a história da criança, seus preconceitos, expectativas, afetos, conhecimentos e tudo aquilo que é depositado sobre o sujeito.
Toda anamnese já é, em si, uma intervenção na dinâmica familiar em relação à "aprendizagem de vida". No mínimo se processa uma reflexão dos pais, um mergulho no passado, buscando o início da vida do paciente, o que inclui espontaneamente uma volta à própria vida da família como um todo.
Segundo Weiss, o objetivo da anamnese é "colher dados significativos sobre a história de vida do paciente" (2003 p. 61).
Consiste em entrevistar o pai e/ou a mãe, ou responsável para, a partir disso, extrair o máximo de informações possíveis sobre o sujeito, realizando uma posterior análise e levantamento de hipóteses. Para isto é preciso que seja muito bem conduzido e registrado.
O psicopedagogo deverá deixá-los à vontade para que todos se sintam com liberdade de expor seus pensamentos e sentimentos sobre a criança para que possam compreender os pontos nevrálgicos ligados à aprendizagem.
Deixá-los falar espontaneamente permite ao psicopedagogo avaliar o que eles recordam para falar, qual a seqüência e a importância dos fatos. O psicopedagogo deverá complementar ou aprofundar.
Conforme Weiss, em alguns casos deixa-se à família falar livremente. Em outros, a depender das características da família, faz-se necessário recorrer a perguntas sempre que necessário. Os objetivos deverão estar bem definidos, e a entrevista deverá ter um caráter semidiretivo (2003 p. 64).
É importante iniciar a entrevista falando sobre a gravidez, pré-natal, concepção, pois a história do paciente tem início no momento da concepção.
A família contemporânea tem exigido da escola uma responsabilidade que vai além da proposta pedagógica das instituições. Aqui também entra a questão de que estes nossas crianças não se contentam com pouca coisa, exigem muito de nós professores, querem algo inovador, que lhes instiguem o intelecto, está competindo num páreo duro com a alta tecnologia, e temos que correr para não ficar atrás. È preciso fazer um novo paradigma de educação, de que tipo de educação queremos dar a essas crianças. Um trabalho de aproximação dos dois sistemas, ajudar a buscar a melhor comunicação e colaboração, planejando e estabelecendo compromissos e acordos.
Na preocupação de deixarmos nossos filhos e alunos mais autônomos, perdemos as rédeas da educação, e traz frustração aos pais e professores. De um ponto de vista psicopedagógico, se não nos unirmos pais e professores com os compromissos e acordos ficaremos todos nós a mercê dos psiquiatras, como citou Augusto Cury em seu livro “pais brilhantes professores fascinantes”. A disciplina, participação e a aprendizagem serão um bem desde que não exista uma moral dupla, que todos aceitem e compreendam que as normas nunca poderão ser iguais a todos, que os alunos as aceitem, para o bem de uma convivência madura que traga conhecimento, criticidade, dialogo, amor e comprometimento.
Logo após são selecionadas as provas piagetianas para o diagnóstico operatório, as provas projetivas psicopedagógicas e outros instrumentos de pesquisa complementares.
A aplicação das provas operatórias tem como objetivo determinar o nível de pensamento do sujeito realizando uma análise quantitativa, e reconhecer a diferenças funcionais realizando um estudo predominantemente qualitativo.
Segundo Weiss:
As provas operatórias têm como objetivo principal determinar o grau de aquisição de algumas noções-chave do desenvolvimento cognitivo, detectando o nível de pensamento alcançado pela criança, ou seja, o nível de estrutura cognoscitiva com que opera (2003 p. 106).
A cerca deste trabalho do diagnostico operatório citamos Vinh-Bang (1990) quando destaca a importância de analisarmos os erros nas atividades realizadas. Estes indicam quais procedimentos devem ser alterados ou corrigidos. Aprender com os erros estaremos mediando o processo da tomada de consciência do aluno. Compreensões que levam ao fracasso ou ao êxito.
Aos professores cabe participar de forma construtiva da educação de nossos alunos. Porém com uma tarefa maior de não reproduzir o que vivenciamos quando alunos, por vezes até os dias atuais, pois somos eternos estudantes dentro da profissão que escolhemos como caminho de vida. Afinal trabalhamos com os seres humanos.
Considerações FinaisAo desenvolver o seu trabalho na instituição educacional, o psicopedagogo deve evitar a dúvida de como conduzir suas atividades no contato com a comunidade escolar, priorizando, muitas vezes, a adoção de uma prática exclusivamente terapêutica individualizada com os alunos que apresentam problemas de aprendizagem já instalados em detrimento da utilização de uma prática preventiva institucional, com a intenção de evitar o surgimento de novos distúrbios de aprendizagem. As questões dos distúrbios de aprendizagem constituem hoje um dos grandes problemas do diagnóstico institucional, pois o ser humano é muito complexo. Uma determinada patologia pode ter múltiplas causas e estas em virtude da pulverização do conhecimento profissional em múltiplas especialidades, só poderia ser diagnosticada sob a ótica da interdisciplinaridade, com a atuação conjunta de diversos profissionais de variadas áreas. Mas como trabalhar dessa maneira em uma realidade escolar como a nossa? Isto seria viável?
Entendemos que as queixas dos docentes dessa instituição nada mais são que uma forma de defesa psíquica, que os protege da frustração e da dor de não conseguirem obter o êxito desejado com os alunos. Para o atendimento a essas necessidades torna-se fundamental que a instituição construa sua proposta pedagógica baseada na interação com os alunos; utilize metodologias diversificadas e motivadoras; organize um currículo a partir do projeto político-pedagógico escolar que se associe à identidade da instituição escolar e a sua organização e funcionamento, incluindo as experiências postas à disposição dos alunos, com o objetivo do seu desenvolvimento pleno; flexibilize a prática educacional, para atender a todos.
A escola não pode preparar o seu aluno para a vida fechando-se ao mundo externo, distanciando-se das suas vivências e práticas sociais e culturais. Torna-se vital que a escola considere os saberes acumulados pelos alunos como ferramentas pedagógicas do professor, só assim ela estará transformando o âmbito escolar em um novo espaço de aprendizagem, onde o aluno comprometa-se com sua própria aprendizagem.
É necessário o desenvolvimento de uma prática psicopedagógica que viabilize a inserção educacional daqueles alunos que requerem cuidados especiais como parte do movimento atual. Como professores recebemos crianças com características peculiares, com dificuldades especificas ou com problemas em sua aprendizagem, precisando encontrar elementos em comum e com focos de interesse que permitam o desenvolvimento de todo grupo em sala de aula.
Acreditar no processo de inclusão é viabilizar a possibilidade de se buscar alternativas de permanência do aluno na escola, respeitando seu ritmo de aprendizagem e elevando sua auto-estima. É permitir que cada indivíduo possa entender como se dão as relações de poder na sociedade e possam exercer seu papel cidadão, enquanto contribuintes, na construção de uma sociedade mais solidária.
A relação família deve ser ampliada, pois ambas são responsáveis pela formação integral do sujeito, cada qual com a sua participação nesse processo. A relação dialógica entre as duas deve ser repensada, para que tanto uma como a outra contribuam no processo ensino e aprendizagem.
Perrenoud (2001 c) propõe a individualização e a diversificação dos percursos de formação, de forma que a criança seja o centro da ação pedagógica e possa desenvolver competências que eduquem para a cidadania. Trata-se de pensar em novas estratégias que favoreçam o desenvolvimento do aluno, em função de suas próprias necessidades alinhadas a referencias básicas e estruturantes relativas à ideologia educacional brasileira.
Priorizar a qualidade do ensino regular é um desafio que precisa ser assumido por todos os profissionais. Apostar na educação inclusiva é acreditar que seremos capazes de contribuir para uma transformação social, que trate efetivamente a todos dentro dos princípios de igualdade, da solidariedade e da convivência respeitosa entre os indivíduos.
Assim somos convidados a participar da criação e da construção de uma nova consciência. Estamos diante da necessidade de redimensionar o que aprendemos a ser e a partir de um processo de reflexão pessoal e de autoconhecimento. Precisamos desenvolver uma ação educativa consciente, que desenvolva nosso aluno em suas potencialidades, na sua capacidade de criar soluções e respostas adequadas de agir e pensar. 
Bibliografia
Referências:
BOSSA, N. (2000). A psicopedagogia no Brasil: contribuições a partir da prática. Porto Alegre: Artes Médicas Sul.
FAGALI, E.Q. (1998). Porque que e como a psicopedagogia institucional. Ver. Da Assoc. Brás. Psicopedagogia, 17 (46), 37-41.
PSICOPEDAGOGIA BRASIL Diagnóstico psicopedagógico: o desafio de montar um quebra-cabeça. Disponível em:
www.psicopedagogia.com.br
LOPES. A. V. Shiderlene. O processo da avaliação e intervenção em psicopedagógia 2009 Reproset industria Gráfica. UNINTER
OLIVEIRA. C.A. Mari. Psicopedagogia: a instituição em foco. 2009. Reproset industria Gráfica. UNINTER
PERRENOUD, Philippe. As competências para ensinar no século XXI. A formação dos professores e o desafio da avaliação. Porto alegre Ed. Artemed. 2008.

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