segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Intervenção psicopedagógica: uma forma de prevenção ao fracasso escolar


 

Resumo
             O fracasso escolar é uma problemática do nosso sistema educacional que se faz presente há muitos anos. É comum ouvirmos dentro das instituições escolares este termo o qual, em certas vezes preocupa-se apenas em livrar-se de tal responsabilidade buscando culpados ou inocentes para tal problemática a qual perpassa pela escola, família, educadores e equipe diretiva, porém, os mais atingidos são os educandos. O presente artigo tem o intuito de repensar e atentar para importância da intervenção psicopedagógica na busca de soluções para melhoria da qualidade do ensino tanto para ensinantes como para aprendentes.  
Palavras Chave: Fracasso Escolar, Aprendizagem, Intervenção Psicopedagógica  
Introdução  
            A problemática do fracasso escolar é uma das temáticas mais estudadas e investigadas no cenário educacional de nossos dias, porém, muitas pesquisas tentam buscar culpados ou inocentes para o fato que agrega o grande número de alunos excluídos da escola seja pelo alto índice de repetência ou até mesmo pela ausência nas aulas que somam-se a falta de vontade de estarem presentes nos bancos escolares.
             Já virou moda dentre as instituições escolares dar nomenclaturas a todo e qualquer aluno que não acompanha o aprendizado como os demais, é comum referir-se aos alunos como “o disléxico”, o “fracassado”, o “limitado”, ou seja, qual for a denominação utilizada, mas o que nós educadores estamos fazendo para mudar este cenário? Qual é nossa contribuição como educadores reflexivos para auxiliar estas crianças que a cada dia saem das escolas sem auto-estima para retornar no outro dia?
             O presente artigo irá atentar para importância da intervenção psicopedagógica como forma de resgate da aprendizagem dos educandos visto que toda aprendizagem dar-se-á pela interação da criança com o meio social que ela está inserida (escola, sociedade, família). Não estamos preocupados em detectar de quem é a culpa pelo não aprendizado ou pelas limitações que cada alunado possui, mas sim queremos refletir sobre as metodologias que poderão evitar este “fracasso”, resgatando a auto-estima e o gosto pelo aprender.
 Fracasso Escolar: do que estamos falando?
 
“ (...) para a aprendizagem se efetivar, é necessário levar em conta o aluno em sua totalidade, retomando a questão do aluno como um sujeito sociocultural, quando sua cultura, seus sentimentos, seu corpo, são mediadores no processo de ensino e aprendizagem.” (Juarez Dayrell,1999).
             Para Bossa (2002)[1], a idéia do fracasso escolar teve seu surgimento no século XIX com a obrigatoriedade escolar decorridas das mudanças econômicas e estruturais da sociedade. Porém, cabe ressaltar que no período que antecede este século já haviam crianças que não aprendiam, mas não eram conhecidas como tal.  
            Durante muitos anos o fracasso escolar era visto simplesmente como uma falta de condição do aluno em adquirir conhecimentos, sendo somente de sua responsabilidade, porém, com o passar do tempo constatou-se que este problema também era de responsabilidade da sociedade e principalmente da instituição escolar que não pode contribuir para exclusão social.  
            Para Weiss (2004, p.16)[2], o fracasso escolar deve ser considerado uma resposta insuficiente do aluno a uma demanda ou exigência escolar, nesta perspectiva podemos salientar que a instituição escolar também fracassa e este processo ocorre quando ela não consegue visualizar o que é importante e necessário que o aluno domine, deixando de lado seus conhecimentos prévios e todas as experiências que ele traz consigo oriundas do contexto em que vive.  
            Com base em todo cenário educacional do país hoje, fica claro afirmar que devemos repensar nossa prática educativa e partirmos do pressuposto que o fracasso escolar não é uma responsabilidade somente do aluno, mas também da escola, família e de todos que estão envolvidos no processo de ensinar-aprender. Se aceitarmos o fato de sermos diferentes, temos que atentar para a necessidade de construirmos práticas pedagógicas que valorizem e aproveitem toda bagagem de conhecimentos construída pelo aluno no decorrer de sua caminhada escolar.  
Escola X Família: Redes que se interligam frente ao fracasso escolar  
“Olhe no teu jardim as rosas entre abertas e nunca as pétalas caídas. (A.D.)
             É certo afirmarmos que a família e a escola devem ter um objetivo em comum que é o estabelecimento de melhores condições que venham favorecer o desenvolvimento integral das crianças e jovens, porém, as cenas que vimos nos cenários educacionais hoje retratam que ambas devem rever seus papéis trabalhando de forma coletiva e objetivando os mesmos fins.  
            Como falarmos em intervenção sem participação, como falamos em coletivo se vivemos em uma sociedade individualista que prima pelas partes esquecendo-se da necessidade do todo para formar cada parte. É certo mencionarmos que a presença da família no contexto escola se faz muito importante para o desenvolvimento da criança. Mesmo sabendo que atualmente houve uma transformação na instituição familiar e com os diversos casos de divórcio, cabe ressaltarmos a necessidade de que seja preservado uma boa relação entre ambos sempre primando pelas regras, limites e deveres.  
            Com base em diversos casos já vistos nesta caminhada psicopedagógica, devemos relembrar que cabe a família a prestação do apoio emocional, pois muitas vezes estas crianças enfrentam freqüentes frustrações, sobretudo na escola e o papel da família é dar um constante apoio de forma que ajude a manejar e superar suas crises.  
            De acordo com Gómez (2009)[3], é certo evidenciarmos que escola, família, psicopedagogos e demais profissionais envolvidos devem trabalhar interligados e procurar maneiras de ajudá-las a potencializar suas habilidades de forma que estas venham compensar suas dificuldades tornando-as assim sujeitos ativos no processo de aprendizagem.  
A Intervenção Psicopedagógica: a busca pela significação do aprender  
“Somos aqueles que podem ajudá-las a lidar melhor com suas vidas, a enfrentar as frustrações e a compensar suas fraquezas.Também somos os que podem ajudá-las a perceber seus dons  e a valorizar seu jeito único de ser.” (Sandra Rief,1993)
             Em uma época que muito se discute sobre dificuldades, inclusão e até mesmo o conhecido fracasso escolar de crianças e jovens e ao mesmo tempo multiplicam-se diversas descobertas da neurociência, não poderíamos deixar de ressaltar a importância da intervenção psicopedagógica como forma de significação do aprender.  
            Vamos iniciar esta discussão conceituando quem é o profissional psicopedagogo. Este especialista está preparado para trabalhar com todo processo da aprendizagem humana, ou seja, ensinar / aprender. Através de técnicas diferenciadas trabalha com os padrões normais ou não do aprender considerando sempre a influencia e participação do meio (escola, família e sociedade) no seu desenvolvimento. Para Fabrício (2008)[4], todo trabalho psicopedagógico está centrado e focalizado  no auto-conhecimento e na autoria do pensamento, buscando sempre estratégias de suporte com a finalidade que a criança aprenda.
             Muitas das crianças que fracassam e são encaminhadas aos consultórios psicopedagógicos trazem consigo a queixas por parte dos educadores e da escola suspeitas de “deficiências” em uma ou várias funções cognitivas. O que estas instituições esquecem é que este sintoma produzido por tal criança pode ser considerado um sinal de mal estar mais profundo que relaciona-se com um conflito inconsciente tornando-se desconhecido ao próprio sujeito, em outras palavras, dizemos que a criança não sabe os reais fatos de sua não aprendizagem.  
            A intervenção psicopedagógica é um meio eficaz como forma de prevenção do fracasso escolar, seu trabalho norteado por recursos cognitivos e emocionais permite não apenas o sucesso na aprendizagem, mas possibilita o resgate de sua auto-estima e autonomia individual tornando assim mais fácil sua socialização com os demais colegas.  
            De acordo com Maluf (2009)[5], para estabelecer um bom diagnóstico é necessário termos conhecimento do desenvolvimento individual da criança bem como centrar-se em serviços especializados que vão além dos farmacológicos. Para que todo este processo ocorra, sabemos que há uma grande necessidade de participação da família e da instituição escolar com vistas a juntos constituirmos meios afetivos e de estimulação cognitiva de forma que estas intervenções tornem-se eficazes e alcancem seus reais objetivos que é o resgate e o gosto por aprender.       
 
O Erro na visão Psicopedagógica: Uma fonte de construção do conhecimento  
“Devemos compreender que o cérebro é o órgão humano de processamento da informação, portanto, o que a boca fala (ou o que a mão escreve) não é necessariamente o que o ouvido escutou (ou o que o olho viu), mas sim o que o cérebro processou para que a boca dissesse (ou a mão escrevesse).” (GOODMAN, 1969)
             O erro sempre foi considerado um dos principais mal estares presentes nas escolas desde os primórdios da educação.  Mesmo com o passar dos anos com avanços tecnológicos e diversas mudanças, muitos educadores ainda o tratam da mesma forma as quais muitas vezes é o grande causador do fracasso escolar nas instituições.  
            Mas como mudarmos estas antigas concepções e incorporarmos uma nova visão a partir dos erros dos alunos? Este é um fato que de certa forma não depende somente das escolas, mas também dos educandos e da própria família. De acordo com Luckesi (1998)[6], existe um preconceito por parte do próprio aluno que de certa forma tem um juízo culposo e punitivo de si mesmo quando não consegue acompanhar aos demais.
            Na visão psicopedagógica muitos profissionais tendem a considerar o erro como um sinal de alerta para o processo de ensino-aprendizagem, tornando-o assim um ato construtivo tanto para educandos quanto para educadores. Através da intervenção psicopedagógica, partimos das diversas hipóteses as quais fizeram o aluno chegarem a tal resposta e só assim poderemos traçar estratégias de ajuda com vistas chegar a formulação correta.  
            Cabe ressaltarmos que em muitos casos o erro também poderá ocorrer devida uma distração ou até mesmo falta de atenção/concentração por parte do aluno não podendo assim ser considerado como um não aprendizado efetivo do conteúdo. Sobre este prisma consideramos de suma importância o trabalho psicopedagógico que através de técnicas diferenciadas este profissional estará apto a identificar os reais motivos da não aprendizagem o que de certa forma evitará o fracasso e a evasão escolar que pode originar-se por atos falhos ou avaliações não condizentes ao real problema.  
            Por fim deve ficar claro que o objeto de estudo do psicopedagogo é a aprendizagem como um processo individual em que a trajetória da construção do conhecimento (aqui incluímos os erros cometidos pelos alunos) deve ser valorizada e entendida como parte do resultado final sempre visando desenvolver e trabalhar com este ser de forma a potencializá-lo como uma pessoa autora e construtora da sua história.
 Conclusão  
            Neste texto abordamos a importância da intervenção psicopedagógica como forma de prevenção ao fracasso escolar. Entendemos que uma das formas de sua prevenção ocorre com a intervenção do psicopedagogo dentro das instituições de forma que este venha resgatar o gosto pela aprendizagem.
             Sabemos que ainda há uma grande caminhada, porém, cabe a nós educadores, especialistas e escola darmos o primeiro passo que é rever nossas práticas em sala de aula vendo o aluno como um ser social em constante transformação.  
            Para finalizar acredito que somente uma transformação onde a base educacional passe a ser guiada pela pedagogia da pergunta (Freire, 2000)[7], poderemos formar pessoas que questionem, indaguem e busquem o conhecimento em um ambiente educacional favorável encarado como um espaço de construção de saberes-fazeres, contando sempre que necessário com profissionais especializados trabalhando em uma equipe interdisciplinar visando assim a aprendizagem de todos como um todo.
 
Referências Bibliográficas  
BOSSA, Nadia Aparecida. A psicopedagogia no Brasil: contribuições a partir da prática. Porto Alegre: Artmed, 2000
FABRÍCIO, Nívea Maria de Carvalho. Palestra “O psicopedagogo e seu papel frente as dificuldades de aprendizagem”. I Congresso sobre as dificuldades de aprendizagem, Gramado/RS, 2008
FREIRE, Paulo. A educação na cidade. São Paulo: Cortez, 2000
GÓMEZ, Ana Maria Salgado Gomes (org.) Dificuldades de Aprendizagem: manual de orientações para pais e professores. Cultural:  código de área 24, 2009
LUCKESI, Cipriano C. Pratica escolar: do erro como fonte de castigo ao erro como fonte de virtude. São Paulo: FTD, 1998.
MALUF,Maria Irene. A intervenção psicopedagógica como recurso no tratamento dos distúrbios neurológicos e psiquiátricos. Revista Direcional Educador, nº      , Julho/2009
WEISS, Maria Lúcia L. Psicopedagogia Clínica: uma visão diagnóstica dos problemas de aprendizagem escolar. Rio de Janeiro: DP&A, 2004


[1] BOSSA, Nadia Aparecida. A psicopedagogia no Brasil: contribuições a partir da prática. Porto Alegre: Artmed, 2000
[2] WEISS, Maria Lúcia L. Psicopedagogia Clínica: uma visão diagnóstica dos problemas de aprendizagem escolar. Rio de Janeiro: DP&A, 2004
[3] GÓMEZ, Ana Maria Salgado Gomes (org.) Dificuldades de Aprendizagem: manual de orientações para pais e professores. Cultural: Rio de Janeiro, 2009
[4] FABRÍCIO, Nívea Maria de Carvalho. Palestra “O psicopedagogo e seu papel frente às dificuldades de aprendizagem”. I Congresso sobre as dificuldades de aprendizagem, Gramado/RS, 2008
[5] MALUF,Maria Irene. A intervenção psicopedagógica como recurso no tratamento dos distúrbios neurológicos e psiquiátricos. Revista Direcional Educador, nº 54, Julho/2009
[6] LUCKESI, Cipriano C. Pratica escolar: do erro como fonte de castigo ao erro como fonte de virtude. São Paulo: FTD, 1998.
[7] FREIRE, Paulo. A educação na cidade. São Paulo: Cortez, 2000

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