sábado, 3 de novembro de 2012

DIFICULDADE DE APRENDIZAGEM( estudo de caso)


Segundo García¹ (1998) DA é um tema que preocupa as famílias, os professores, os centros educativos, os legisladores e, sobretudo os alunos que nem sempre vêem os resultados de seus esforços para aprender. Crianças tolhidas por uma DA, na maior parte das vezes, têm comprometido seu desempenho escolar. Para ele as DA são normalmente tão sutis que aquelas crianças parecem não ter problema algum. As DAs centram-se em dificuldades nos processos implicados na linguagem e nos rendimentos acadêmicos independente da idade das pessoas e cuja causa seria ou uma disfunção cerebral, ou uma alteração emocional-condutual. Vários autores descrevem inúmeros fatores desencadeantes de uma DA: a) Orgânico - incluem questões genéticas, fatores pré, peri, ou pós- natais que, por sua vez, seriam responsáveis por distúrbios no sistema nervoso central, saúde física deficiente ou alimentação inadequada; b) psicológicos - sentimentos generalizados de rejeição; c) ambientais - a dinâmica familiar, o grau de estimulação que a criança recebe desde os primeiros anos de vida nas diversas instituições (família, escola, meios de comunicação). Para aprender o cliente com DAs requer a intervenção de diferentes especialistas (pediatra, neurologista, otorrinolaringologista, fonoaudiólogo, assistente social, etc). Além do mais, para entender o processo é necessário recorrer também ao ensinante e a instituição do ensino.  Fernandez ²(1991).
PAIN3 (1992) afirma que: “a origem de toda aprendizagem está nos esquemas de ação desdobrada mediante o corpo.”... “É necessária, uma integração entre anatomia, bom funcionamento de todos os órgãos, bem como do sistema nervoso central”.
PAIN3 (1992:32) destaca que, na concepção de Freud, os problemas de aprendizagem não são erros: “... são perturbações produzidas durante a aquisição e não nos mecanismos de conservação e disponibilidade...”;  é necessário procurar compreender os problemas de aprendizagem não sobre o que está fazendo, mas sim sobre como está fazendo.
Para Vygostsky4 (1998) o desenvolvimento cognitivo das crianças é, inicialmente, determinado por processos biológicos e guiado, subseqüentemente, por interações sociais com o adulto, que iniciam e medeiam, pelas interações sociais, o desenvolvimento das habilidades cognitivas.
Visca5 (1991) descreve as DAS em termos de obstáculos á aprendizagem, ou seja, verdadeiros dispositivos de barragem, estacando seu fluxo numa determinada direção e desviando para outra. Na aprendizagem existem obstáculos denominados: epistemofìlicos, epistêmicos e funcionais.
Os obstáculos epistemofilicos impedem o amor pelo conhecimento, atuando, sobretudo na esfera afetiva da aprendizagem, isto é, no significado que tem o aprender e o conhecimento para o aluno. O conteúdo a aprender atemoriza pela impressão de que vai tomar o lugar do que já foi aprendido, pela fantasia de que atacará os conhecimentos anteriores e pelo sentimento de confusão que desperta. Desencadeiam sentimentos hostis e defensivos, sendo responsáveis por boa parte das resistências ao novo conhecimento. Para desfazê-los é preciso desmontar e depois remontar a rede de relações com a aprendizagem que o aluno teceu ao longo de sua vida não só de estudante, mas como sujeito no sentido amplo, revisando as modalidades de ensino-aprendizagem vivenciadas em vários contextos e sua repercussão afetiva.
Já os obstáculos epistêmicos limitam o conhecimento através dos poucos recursos intelectuais (as estruturas cognitivas) que colocam à disposição do aluno. Imaginemos a proposição de uma situação de ensino que envolva características do pensamento operatório formal para uma criança que só disponha do pensamento operatório concreto: ergue-se, ai, um obstáculo epistêmico.
Funcionais, por sua vez, preenchem, de certa forma, todo o espaço que se cria entre uma e outra categoria de obstáculos, abarcando os aspectos do funcionamento intelectual. Se nos epistêmicos o aluno não dispõe dos recursos cognitivos de que precisa para aprender, nos obstáculos funcionais o aluno possui estes recursos, só que o uso que deles faz não é aquele requisitado pela situação de aprendizagem. É como se tivesse um instrumento e não soubesse o que fazer com ele, ou fizesse um uso inadequado.
As DAs devem ser entendidas a partir das raízes históricas que lhes dão sentido e em cuja sucessão, às vezes tortuosas, foi tomando forma todo esse movimento e foram se refinando as definições e se aproximando a certo consenso (Hammill 6,1993b) . As DAs foram abordadas historicamente a partir de diversas ciências médicas, educativas e psicológicas.
A classificação das crianças com DAs, antes de 1940, era dada como “transtornados emocionalmente”, ”retardados mentais”, “desvantajados culturais” e entendidos a partir de causas neurológicas devido a um dano cerebral. Neste período surgiu o termo: lesão cerebral mínima (quando o dano cerebral era diagnosticado) e disfunção cerebral mínima (sem dano cerebral). Nessa época ressaltava-se a área problema assim sendo: se a dificuldade estivesse centrada na leitura denominavam-se transtornos de “dislexia”; na linguagem “disfasia”, na escrita, “disgrafia”; na matemática, “discalculia”.
Em 1943 Piaget7 postulava a educação de crianças e jovens com necessidades educativas especiais (deficiência - mentais ou físicas - e problemas comportamentais), considerava que as metodologias propostas para os alunos ditos normais poderiam servir para todos desde que respeitados os seus interesses, níveis e ritmos operatório (Morgado8, 2005). Para apoiar os alunos do ponto de vista psicológico, acadêmico e social, os professores deveriam possuir uma formação psicopedagógica acrescida de uma preparação médica social - perspectiva pedagógica dita “curativa”. Em 1951 PIAGET7 afirma que igualmente importante seria o papel da família e a sua relação com a escola, a qual deveria, em alguns casos, sobretudo de distúrbios comportamentais, se reeducarem, porque muitas vezes, seria ela mesma a maior responsável por esses problemas.
No inicio da década de 60 surge um movimento nos EUA, direcionado por pais e diversos profissionais interessados pela área das DAs que pretendiam sensibilizar e pressionar as instituições educativas para a criação de formas específicas de apoio aos alunos com distúrbios de aprendizagem (Rebelo9 e col., 1995).
Em 1975, para estabelecer parâmetros para o diagnóstico e tratamento das DAs o congresso Americano pediu ao técnico do Departamento de Saúde, Educação e Serviços Sociais dos Estados Unidos da América (EUA) Frank King (in Correia10, 1998) que preparasse regulamentos para definir legalmente as DAs. A primeira parte da definição, proposta em 1962, é utilizada oficialmente até hoje: “DA específica significa uma perturbação num ou mais dos processos psicológicos básicos envolvidos na compreensão ou utilização da linguagem falada ou escrita, que pode manifestar-se por uma aptidão imperfeita de escutar, pensar, ler, escrever, soletrar ou fazer cálculos matemáticos’’. Aquele conceito inclui condições como deficiências perceptivas, lesões cerebrais, disfunção cerebral mínima, dislexia e afasia de desenvolvimento. Comparativamente  com a definição proposta em 1962, houve certo progresso: a palavra “específica” sugere que as DAs se manifestam num domínio particular. Esse aspecto pode ser considerado uma melhoria, pois, com o afirmam Stemberg11 e Grigorenko (2003)” (...) todas as aptidões e dificuldades são em maior ou menor grau específicas”(p.17). Na definição oficial, a palavra imperfeita, mais uma vez destaca a forma patológica de encarar as dificuldades de aprendizagem porque remete a palavra defeito. ”As aptidões e as dificuldades de aprendizagem não residem totalmente no indivíduo e nem totalmente na sociedade. “Em vez disso, baseada em muitos fatores a serem discutidos, a sociedade seleciona algumas pessoas e não selecionam outras para rotular como tendo DA” (Stemberg11 e Grigorenko , 003: 16).
Segundo Garcia¹ (1998) dentre as inúmeras definições de DA, a que reúne maior consenso internacional é a do Comitê Nacional de Dificuldades de Aprendizagem - National Joint Comittee on Disabilities (NJCLD, 1997):
”Dificuldade de aprendizagem é um termo geral que se refere a um grupo heterogêneo de transtorno que se manifestam por dificuldades significativas na aquisição e uso da escuta, fala leitura, raciocínio ou habilidades matemáticas. Esses transtornos são intrínsecos ao individuo, supondo-se devido á disfunção do sistema nervoso central, e pode ocorrer ao longo do ciclo vital. Podem existir, junto com as dificuldades de aprendizagem, problemas nas condutas de auto-, percepção social e interação social. Mas não constituem por si próprias uma dificuldade de aprendizagem. Ainda que as dificuldades de aprendizagem possam ocorrer concomitantemente com outras condições incapacitantes, com influências extrínsecas, não são o resultado dessas condições ou influências.”(NJCLD apud Garcia1,1998,p.13).
METODOLOGIA
A amostra do estudo consistiu em uma criança de 11 anos, do sexo masculino, estudante da quinta série da rede municipal de ensino do Estado de São Paulo, com baixo desempenho acadêmico. Levada a clínica psicopedagógica de uma faculdade da rede privada de ensino, indicado por uma pós-graduanda de psicopedagogia.
Para participar do estudo o objeto e seu responsável aceitaram e assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido e participaram das 24 sessões com a duração de cinqüenta minutos cada, sendo uma por semana durante o período  de abril a outubro de 2008. O campo de pesquisa foi à clínica de Psicopedagogia da faculdade onde a pesquisadora conclui sua pós-graduação. O tipo de pesquisa foi a de campo, estudo de caso intitulado “DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM”.
Para buscar resposta ás queixa trazida pelo responsável, foi feito um estudo de caso com a finalidade de conhecer possíveis fatores que interferem no processo de ensino aprendizagem do objeto de estudo, para isso foram aplicados nos pais (mãe: queixa livre ou motivo da consulta, histórico vital ou anmnese) e na criança vários testes projetivos (sessão lúdica, desenhos história, família cinética, par educativo, EOCA-entrevista operativa centrada na aprendizagem) e provas operatórias (Método clínico Piagetiano), para que se pudesse levantar o maior número possíveis de dados, fatos e situações que poderiam servir como referenciais para a realização da hipótese diagnóstica das DAs. Optou-se por realizar uma observação, direta na clinica e na escola em que o objeto de estudo freqüenta. Esse artigo é um resumo do trabalho de conclusão de curso da pesquisadora.
Como referências bibliográficas várias livros foram consultadas, bem como sites, artigo de revistas cientifica e especializadas.
SESSÃO LÚDICA: A sessão lúdica diagnóstica distingue da terapêutica, porque nessa o processo de brincar ocorre espontaneamente, enquanto que na diagnóstica há limites mais definido. Nesta última podem ser feitas intervenções provocadoras e limitadoras para observar a reação da criança: se aceita ou não propostas, se revela como quer ou pode brincar naquela situação, como resiste a frustrações, como elabora desafios e mudanças propostos na situação etc.
Segundo Weiss12 a técnica do jogo em psicanálise foi elaborada por M.Klein, Anna Freud, Lowenfeld e outros, que aprofundaram o simbolismo inconsciente do jogo. Por outro lado, J.Piaget7, em pesquisa sobre a construção do pensamento e da sociabilidade, mostra a elaboração do jogo nas diferentes idades, o que nos permite ter alguns parâmetros para a observação do jogo infantil. A visão de Winnicott13, contudo, possibilita uma compreensão mais integradora do brincar na aprendizagem.
No primeiro contato com a criança, Winnicott13 (1997) nos mostra que o essencial é o uso da brincadeira, do jogo para criar uma relação amigável, um “espaço de confiança”. No brincar, a criança constrói um espaço de experimentação, de transição entre o mundo interno e externo
É no brincar, e somente no brincar, que o indivíduo, criança ou adulto,pode ser criativo e utilizar sua personalidade integral: e é somente sendo criativo que o indivíduo descobre o eu (self) (1975, p.80)
Em síntese, muitas coisas podem ser observadas na sessão lúdica. O importante é se fixar no vetor aprendizagem e investigar o que está envolvido neste processo e sua relação com a queixa. Ver o que faz como faz como organiza esse fazer em suas múltiplas facetas cognitivas, afetivo-sociais e corporais, em suas ligações com o processo pedagógico. È fundamental relacionar o observado com os dados obtidos nos testes e nas entrevistas de anamnese.
QUEIXA LIVRE ou MOTIVO DA CONSULTA: É a ocasião para estabelecer hipótese sobre aspectos importantes para o diagnóstico da DA(significação do sintoma na família no processo diagnóstico e tratamento,modalidade de comunicação do casal em função do terceiro,fantasias de enfermidade e cura e expectativas acerca da inter). Tal tarefa junto aos pais do objeto de estudo é na realidade o começo do tratamento Psicopedagógico. Em síntese, é fundamental, durante a explicação da queixa, iniciar a reflexão sobre as duas vertentes de problemas escolares: o sujeito e sua família e a própria escola em suas múltiplas facetas, para definir a seqüência diagnostica bem como as técnicas a serem utilizadas.
HISTÓRIA DE VIDA ou ANAMNESE Psicopedagógico: É entrevista realizada com os pais, com o objetivo de colher informações a respeito de sua vida pessoal e escolar. Segundo “Weiss12, M L(2007)”. Anamnese é um dos pontos cruciais de um bom diagnóstico. “É ela que possibilita a integração das dimensões de passado, presente e futuro do paciente, permitindo perceber a construção ou não de sua própria continuidade e das diferentes gerações, ou seja, é uma anamnese da família...”
Com essa entrevista tem-se o objetivo de colher dados significativos sobre a história de vida do paciente. Da análise do seu conteúdo, obtemos dados para o levantamento da hipótese sobre a possível etiologia do caso, por isso é necessário que seja bem conduzida e registrada. ENTREVISTA OPERATIVA CENTRADA NA APRENDIZAGEM (EOCA): É uma técnica simples de investigação do individuo mostrando o que apresenta e o que encoberta na aprendizagem. É um instrumento inspirado na psicologia social de Pichon Riviere e nos postulados da psicanálise. (VISCAS5, - CLINÍCA Psicopedagogica
TESTES PROJETIVOS Viscas5: Tem por objetivo geral investigar a rede de vínculos que o sujeito estabelece em três grandes domínios: escolar, familiar e consigo mesmo.
PAR ou PAREJA EDUCATIVO Visca5(A): Nesta técnica, o objetivo é observar a relação do sujeito com a aprendizagem e com quem ensina os objetos escolares e ver quem realmente vive e aprende no meio escolar, as rejeições, a “ameaça” da figura do professor. ’ “nesta técnica obtém-se uma produção gráfica e verbal permitindo uma análise do conteúdo latente e manifesto da relação do sujeito com a aprendizagem e com quem a proporciona.” Chamat14(2004)
FAMILIA CINÉTICA: Está técnica tem por objetivo estudar os vínculos familiares e demonstra através do desenho uma relação de aprendizagem no grupo familiar. O modelo de aprendizagem que os diferentes membros possuem e transmitem. (VISCAS5, 2001)
“Utiliza esse desenho como forma de trabalhar o contexto social da criança, para posteriormente partir para um trabalho de grupos sociais maiores...” Chamat14(2004)                                                             
DESENHO HISTÓRIA ou DESENHO EM EPISÓDIO: Consiste em deixar a criança desenhar o que quiser. Esse é um recurso que permite investigar o vínculo que o sujeito estabelece com a aprendizagem e a circunstância em que produz o mesmo através de desenhos (VISCAS5 1997)... ”Executado o desenho pede-se para que a criança fale sobre o que desenhou objetivando com isso verificar significantes e significados e a construção do pensamento’. Chamat 14(2004)
PROVAS OPERATÓRIAS de PIAGET: As provas operatórias têm por objetivo principal determinar o grau de aquisição de algumas noções-chave do desenvolvimento cognitivo, detectando o nível do pensamento alcançado pela criança, ou seja, o nível de estrutura cognoscitiva com que opera.
Inúmeras pesquisas mostram que existe uma ordem na aquisição das noções, variando, no entanto, as idades em que elas se instalam. Essa variação dependerá do meio social e de interferências emocionais e de condições orgânicas, como ocorre, por exemplo, com os deficientes mentais.
O planejamento da aplicação de provas é feito em função do problema apresentado e da ordem de aquisição das noções. Pode-se a partir de uma relação aproximada com a idade em que poderia estar adquirida a noção.
O objetivo básico das provas é avaliar o grau de construção operatória e descobrir o processo mental usado pela criança para encontrar as respostas, torna-se indispensável analisar cada resposta, justificativa, juízo e argumentos dados.
É fundamental não considerar as provas do diagnóstico operatório como instrumento infalível, absoluto, pois o desenvolvimento operatório, sendo resultante de uma interação indivíduo com o meio, está sujeito a progresso após o momento das provas. Deve-se considerar sempre o melhor nível de resposta dada ao longo do processo. Weiss, 2007
RESULTADOS 
O objeto de estudo é do sexo masculino, 11 anos. É o primeiro filho do casal. Nasceu de parto normal com 36 semanas (9 meses),em hospital público,sem relato de intercorrência gestacional.
QUEIXA: segundo a mãe, a criança tem muitas dificuldades escolares, fala e escreve trocando ou omitindo as letras (o r pelo l, o s pelo c...). Afirma também que o objeto desse estudo não apresenta DA em outras matérias como matemática e que a criança apresenta, também problemas orgânicos de nascença. Segundo diagnóstico médico o objeto de estudo tem inchação óssea e já passou por duas cirurgias na perna esquerda.
ANAMNESE: De acordo com o relato da mãe, a gravidez não foi planejada, aconteceu de forma inesperada, ainda na fase do namoro. Relata que percebeu que estava grávida no momento que havia rompido o namoro. Durante a gravidez a mãe estabeleceu um forte vínculo de cumplicidade com o bebê. Momento em que era apenas e somente ela e o bebê a sua família. A gravidez foi o motivo que reaproximou o casal e estão juntos até hoje. Dessa união nasceram três filhos. Sendo o objeto desse estudo o mais velho (Primogênito) e o que parece ser ele o preferido da mãe que em seu discurso e atitude deixa transparecer isso.
Em relação ao desenvolvimento orgânico, apesar da dificuldade de locomoção citada (manca ou puxa a perna esquerda devido à inchação óssea) no início de sua vida, incluindo um quadro de convulsão febril que foi apenas uma vez, esses sintomas não parecem ser o foco de suas dificuldades escolares, mas retratam uma ferida que para sua mãe parece ainda estar aberta,pois em seus depoimentos revela muita preocupação e proteção.
Em relação às produções, o que se percebe quanto a:
A) Coordenação Motora Fina: apresenta uma escrita e uma caligrafia legível sem sinais de forte preensão do lápis sobre o papel e de insegurança ao grafar, mas, sua caligrafia parece ainda não ser definida. Há indícios disso na troca constante na forma de grafar: letras cursivas e letras bastão, letras maiúsculas e minúsculas.
B) Coordenação Motora Grossa: Todas suas produções parecem retratar falta de consciência corporal, pois só desenha bonecos palitos, com ausência de perspectiva de figura e fundo.
C) Linguagem e Escrita: nesse tópico suas dificuldades são bem visíveis; não é capaz de ler ou escrever sílaba complexa, palavras ou pequenos textos, sem que seja soletrando ou com auxílio. Foi constatado nas sessões lúdicas, quando era solicitado a ler regras do jogo (jogo da vida) ou quando lia histórias de Gibi,ele lia e dizia - “Não entendi, leia aqui pra mim”.
Ao escrever, apresenta escrita lenta; para , pensa , omite ou acrescenta letras nas palavras. Como se pode certificar nos testes aplicados para verificação de lecto escrita. Sua redação é extremamente sintética, demonstra falta de criatividade, coerência, seqüência de idéias e desejo de fazer algo. Manteve sem criatividade mesmo sendo estimulado com livros de histórias e gravuras, mesmo assim suas histórias não ultrapassaram duas linhas. No entanto percebe-se, ser capaz de compreender a construção da estrutura da língua portuguesa, acrescenta vogais coerentes aos sons pronunciados, evidenciando encontrar na fase silábica qualitativa, segundo as hipóteses levantadas por pesquisas de Emília Ferreiro. Seus erros parecem decorrer da ordem de fixação de regras.
D) Habilidades Sociais: Nesse tópico, através dos desenhos parece demonstrar que é uma criança que tem amigos. Inclusive pelo seu tipo de esporte preferido (jogo de futebol, basquete) jogos estes que necessitam de um grupo de crianças para acontecer e mesmo nos passeios que faz com a família, mencionam a companhia de amigos ligados a ela. Na escola  ele sempre aparece inserido em grupos (no intervalo, em sala de aula) e até em grande grupo (a sala toda) em momentos de indisciplina e rebeldia sofrendo junto com a sala as punições por tal comportamento (advertência e suspensão da aula-relato dado pela mãe).
E) Habilidade Cognitiva: Em relação às provas, ou seja, a construção cognitiva, o objeto de estudo demonstra estar no “Nível dois ou Nível Intermediário”, pois; suas respostas ou conduta expressam vacilação e instabilidade ou são incompletas.
No conhecimento lógico matemático: em relação em como está operando sua cognição parece não haver comprometimento ou perda significativa para aprendizagem, pois consegue fazer construções concretas pertinentes á sua faixa etária. Mas; apresenta lentidão de raciocínio e necessidade de auxílio, material concreto e intervenções para dar as respostas corretas e para realizar operações simples de adição e subtração. Demonstrando (ainda) uma dificuldade não própria de sua idade.
Nos testes de ordenação: conseguiu ordenar os bastões sem dificuldade.
Nas fichas de correspondência termo á termo: vacilou na contra argumentação.
Na prova de conservação de líquido: não conservou.
Na prova de conservação de massa: conservou.
Na prova de conservação de distância: suas respostas foram inconsistentes e instáveis. Nos blocos lógicos: conseguiu separar por cores e características físicas. Com os animais conseguiu separar por números de patas, montar grupos e subgrupos.
Nas provas de intersecção de classes: a intersecção não foi compreendida; houve muita hesitação nas respostas.
Na prova de pensamento formal: fez permutações, antecipando as possibilidades.
F) Dinâmica Familiar: Revela a necessidade de que a comunicação entre os membros da família deva ser incentivada, principalmente com a figura paterna. Pois, de um lado; a figura paterna é como se não existisse, pois desde a primeira entrevista seu pai foi convocado e sempre se esquivou alegando compromissos e do outro com a mãe mantém uma relação simbiótica, onde cada tira seu proveito. Com os irmãos, parece disputar atenção, principalmente com a caçula que ameaça roubar-lhe a atenção e cuidados da mãe, que ele acredita pertencerem a ele única e tão somente. Com o irmão do meio ele negocia o tempo que ele pode utilizar os brinquedos e jogos que acredita serem apenas seu.
CONSIDERAÇÕES FINAIS

De acordo com seu histórico de vida, o objeto de estudo, de um lado, tem comprometimentos orgânicos (manca da perna esquerda e dificuldade na fala). Não podemos desconsiderar. Portanto foi encaminhado á um fonoaudiólogo para avaliação e conduta. Por outro lado, o que fala mais alto em minha interpretação e não deve ser desconsiderado, necessitando manter o atendimento Psicopedagógico é a questão da dinâmica familiar em que o objeto de estudo está inserido. O objeto de estudo aparenta ser egocêntrico e percebe-se que esse egocentrismo é reforçado pelo relacionamento que ele mantém com a mãe, quem confere poderes sobre tudo e sobre todos. O objeto de estudo necessita ser trabalhado, estimulado a se posicionar, descobrir-se, ver-se como alguém capaz de resolver seus próprios problemas, criar soluções, descobrir desejos. Separado de sua mãe. O objeto de estudo necessita exercitar seu eu; seu existir. Necessita também de um trabalho rigoroso e sistemático diário de alfabetização contendo: leitura em voz alta e silenciosa, ditado e treino ortográfico. Para acrescentar a sua construção as regras ortográficas.
Sua mãe necessita de acolhimento e ao mesmo tempo de uma intervenção firme e formativa de uma conduta que possa respeitar o espaço do filho. Que a ensine a olhá-lo como alguém capaz forte e saudável.
ASPECTOS A SEREM TRABALHADOS PELOS PAIS E PROFESSORES:
Para se trabalhar as dificuldades apontadas pelo educando, faz se necessário que pais e educadores juntem-se com o objetivo de sanar as defasagens apontadas pela criança.
Aos professores compete:
•Estimular o potencial motor e intelectual do aluno, por meio de estratégias que visem à recuperação dos conteúdos escolares;
•Desenvolver responsabilidades próprias principalmente em relação á obrigações escolares;
•Práticas educativas combinadas com afeto positivo e controle;
•Regras claras e consistentes;
•Participação ativa da criança;
•Provisão de experiências variadas, significativas e interessantes;
•Reciprocidade na interação, sensibilidade e disponibilidade;
•Motivá-lo constantemente para sentir com capacidade para enfrentar qualquer desafio;
•Promover um ambiente com regras, limites, compreensão, confiança, valorização do potencial;
•Trabalhar aspectos emocionais internos, minimizando, ansiedade, insegurança, principalmente diante de situações inesperadas;
•Oferecer recursos que enriqueçam o processo educativo;
•Melhorar a comunicação afetiva social na relação ensinante aprendente;
•Reforço paralelo e contínuo.
Aos pais compete:
•Ler para o filho e ouvir o filho ler;
•Demonstrar sentir prazer na companhia do filho;
•Disponibilizar materiais educacionais variados e adequados à faixa etária;
•Envolver em questões escolares do filho;
•Perguntar da escola e o que fez nela;
•Estimular a conversação, dialogar;
•Ser mediador, interagir;
•Favorecer um clima calmo;
•Promover um ambiente com regras, limites, compreensão, confiança, valorização do potencial;
•Rever as atitudes em relação á criança;
•Não criar expectativas em relação ao desempenho escolar da criança;
•Estimulá-lo positivamente valorizando suas conquistas, por menores que sejam;
•Proporcionar oportunidades para que possa expressar suas opiniões e idéias;
•Receber aprovação dos pais e outras pessoas que convive, respeitando seu tempo e ritmo;
•Estabelecer regras e hábitos de rotina em casa e na escola;
•Organizar-se em todos os aspectos;
•Criar o hábito de leitura e estudo diário;
•Promover maior aproximação paterna;
•Continuar mostrando que o não faz parte da vida, estabelecendo regras e limites;
•A linguagem da figura materna e paterna deve se mantida;
•Dosar tempo diante da TV;
•Olhá-lo como alguém;
•Acompanhamento de um fonoaudiólogo.( Lúcia da Silva Lima e Eunice Barros Ferreira Betoso) By Lully.

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