Profissionais
da área educacional, comprometidos com a qualidade da sua prática pedagógica,
reconhecem a importância do jogo como um veículo para o desenvolvimento social,
emocional e intelectual dos alunos.
O jogo
não é simplesmente um “passatempo” para distrair os alunos, ao contrário,
corresponde a uma profunda exigência do organismo e ocupa lugar de
extraordinária importância na educação escolar. Estimula o crescimento e o
desenvolvimento, a coordenação muscular, as faculdades intelectuais, a
iniciativa individual, favorecendo o advento e o progresso da palavra. Estimula
a observar e conhecer as pessoas e as coisas do ambiente em que se vive.
Através
do jogo o indivíduo pode brincar naturalmente, testar hipóteses, explorar toda
a sua espontaneidade criativa. O jogar é essencial para que a criança manifeste
sua criatividade, utilizando suas potencialidades de maneira integral. É
somente sendo criativo que a criança descobre seu próprio eu.
O jogo
cria uma situação de regras que proporcionam uma zona de desenvolvimento
proximal no aluno. Assim “comporta-se de forma mais avançada do que nas atividades da
vida real e também aprende a separar objeto e significado.” (OLIVEIRA, 1999,
p.67)
Vários
tipos de jogos existem, entre eles jogos motores (correr, saltar), jogos
intelectuais (damas, xadrez, etc.), jogos competitivos e jogos de cooperação. O
jogo dramático se diferencia dos outros jogos porque envolve representação
dramática, envolve personagens e sentimentos. Jogar significa alegria,
divertimento, entusiasmo, confiança, aprendizagens e desenvolvimentos.
A ação,
durante o movimento do jogo, provoca espontaneidade. Isto causa estimulação
suficiente para que o aluno transcenda a si mesmo. Ele é libertado para
penetrar no ambiente, explorar, aventurar e enfrentar sem medo todos os
perigos.
Dessa
experiência integrada, surge o aluno ativo e participativo dentro de um
ambiente total, e aparece o apoio e a confiança que permite a ele desenvolver
qualquer habilidade necessária para a comunicação dentro do jogo.
Os jogos
proporcionam a criança adquirir o domínio da comunicação com os outros.
Algumas idéias de Vygotsky:
aspectos cognitivos do jogo
Existe no
uso dos jogos dois aspectos primordiais, um referente a afetividade expresso
durante a ação e outro referente aos aspectos cognitivos, no qual o jogo
proporciona avanços nos processos de aprendizagem e desenvolvimento.
Assim, iremos enfatizar no momento o aspecto
cognitivo do jogo, embasado no referencial teórico de Vygotsky.
O
desenvolvimento da espécie humana está baseado no aprendizado que, para
Vygotsky, sempre envolve interferência, direta ou indireta, de outros
indivíduos e a reconstrução pessoal da experiência e dos significados.
Vygotsky
dedicou-se a estudar o que chamamos de funções psicológicas superiores ou
processos mentais superiores, isto é, aquelas funções mentais mais complexas,
típicas do ser humano, que envolvem o controle consciente do comportamento,
como percepção, atenção e memória, que não estão presentes no ser humano desde
o seu nascimento (as outras funções psíquicas elementares são aquelas que
representam os mecanismos mentais mais simples como as ações reflexas, as
reações automáticas ou os processos de associação simples).
Conforme
aponta Rego (2000, p.39):
Vygotsky
se dedicou ao estudo das chamadas funções psicológicas superiores, que consistem
no modo de funcionamento psicológico tipicamente humano, tais como a capacidade
de planejamento, memória voluntária, imaginação, etc. Estes processos mentais
são considerados sofisticados e ‘superiores’, porque referem-se a mecanismos
intencionais, ações conscientes controladas, processos voluntários que dão ao
indivíduo a possibilidade de independência em relação às características do
momento e espaço presente.
Muitos de
seus conceitos são importantes para o entendimento da aprendizagem humana e
conseqüentemente, muito contribuíram para a educação, enriquecendo as práticas
pedagógicas.
Um dos
conceitos de Vygotsky é o conceito de mediação. Ele substitui a idéia do
simples estímulo-resposta, como proposta de aprendizagem, pela idéia de um ato
mais complexo, o ato mediado.
A
mediação seria um processo de intervenção de um elemento intermediário numa
relação, ou seja, a relação deixa de ser direta e passa a ser mediada por esse
elemento. A mediação se caracteriza como a relação de homem com o mundo e com outros
homens, “é de fundamental importância justamente porque é através deste
processo que as funções psicológicas superiores, especificamente humanas, se
desenvolvem.” Para Vygotsky há dois elementos básicos responsáveis por essa
mediação: “o instrumento, que tem a função de regular as ações sobre os objetos
e o signo, que regula as ações sobre o psiquismo das pessoas.” (REGO, 2000,
p.50)
O
entendimento desse elemento mediador na relação organismo-meio vem provar que a
relação mais importante do homem com o mundo não é a relação direta e sim a
relação mediada. E são as funções psicológicas superiores que organizam essa
relação entre o homem e o mundo real, através dos mediadores chamados
instrumentos e signos.
A
concepção de Vygotsky sobre os instrumentos como mediadores entre o homem e o
mundo real tem base no materialismo de Marx e Engels. Ele acredita que com o
surgimento do trabalho e a formação da sociedade humana com base no trabalho, o
processo básico que vai marcá-lo como espécie diferenciada é o trabalho com
finalidade de transformação da natureza. Através dele desenvolve-se atividades
coletivas e, portanto relações sociais e seu produto têm grande importância na
atividade humana.
Assim,
Meira (1998, p.64) afirma que:
Ao
evidenciar que o indivíduo interioriza determinadas formas de funcionamento que
estão dadas pela cultura, mas que ao apropriar-se delas transforma-as em
instrumentos de pensamento e ação, Vygotsky estabeleceu as bases para uma nova
compreensão da relação entre o sujeito psicológico e o contexto histórico, que
resgata o sentido subjetivo e pessoal do homem, mas situando-o na trama
complexas das relações sociais.
Os signos
seriam para Vygotsky os mesmos instrumentos, porém numa dimensão psicológica,
já que são internos ao indivíduo, diferentemente dos instrumentos que são
externos.
Para a
concepção de Vygotsky, uma memória mediada por signos é mais poderosa do que a
não mediada, daí a importância dada por ele a esse elemento, o signo, como
mediadores do conhecimento psicológico.
Vygotsky
e seus colaboradores (Luria e Leontiev) estudaram a formação dos sistemas
simbólicos e os processos de internalização desses sistemas, considerando as
transformações sofridas pelo indivíduo ao longo do seu desenvolvimento, a
partir dos processos de mediação.
Segundo
Vygotsky, as aprendizagens se dão em forma de processos que incluem aquele que
aprende, aquele que ensina e mais, a relação entre essas pessoas. O processo
desencadeado num determinado meio cultural (aprendizagem) vai despertar os
processos de desenvolvimento internos no indivíduo. Assim, o desenvolvimento
não ocorre na falta de situações que propiciem um aprendizado.
Essa
conclusão levou Vygotsky a pensar o conceito de zona de desenvolvimento
proximal. A criança em cada momento de seu desenvolvimento tem um nível de
desenvolvimento real e um nível de desenvolvimento potencial. O primeiro
representa a capacidade que a criança tem de realizar tarefas de forma
independente. O nível de desenvolvimento potencial seria sua capacidade de
desempenhar tarefas com ajuda de adultos ou de amigos mais capazes. À distância
entre esses dois níveis é a zona de desenvolvimento proximal. Interferindo
nessa zona, um educador estará contribuindo para movimentar os processos de
desenvolvimento das funções mentais complexas da criança. É nessa zona que a
interferência é mais transformadora.
Conforme
ressalta Rego (2000, p.59) essas características humanas proporcionam a
concepção do desenvolvimento como processo. “O desenvolvimento está intimamente
relacionado ao contexto sócio-cultural em que a pessoa se insere e se processa
de forma dinâmica (e dialética) através de rupturas e desequilíbrios provocados
de contínuas reorganizações por parte do indivíduo.”
Esse
conceito sob a ótica da educação escolar é importante, pois sendo o aprendizado
que impulsiona o desenvolvimento, a escola tem um papel fundamental na
construção do ser psicológico adulto de nossas sociedades mais organizadas e
coerentes.
Vygotsky
denomina essa capacidade de realizar tarefas de forma independente de nível de
desenvolvimento real. Para ele, o nível de desenvolvimento real da criança
caracteriza o desenvolvimento de forma retrospectiva, ou seja, refere-se a
etapas já alcançadas, já conquistadas pela criança. As funções psicológicas que
fazem parte do nível de desenvolvimento real da criança em determinado momento
de sua vida são aquelas já bem estabelecidas naquele momento. São resultado de
processos de desenvolvimento já completados, já consolidado.
O
desenvolvimento individual se dá num ambiente social determinado e a relação
com o outro, nas diversas esferas e níveis de atividade humana, é essencial
para o processo de construção do ser psicológico individual.
Há
tarefas que uma criança não é capaz de realizar sozinha, mas que se torna capaz
de realizar se alguém lhe der instruções, fizer uma demonstração, fornecer
pistas, ou der assistência durante o processo.
A zona de
desenvolvimento proximal refere-se, assim, ao caminho que o indivíduo vai
percorrer para desenvolver funções que estão em processos de amadurecimento e
que se tornarão funções consolidadas, estabelecidas ao seu nível de
desenvolvimento real. A zona de desenvolvimento proximal é um domínio
psicológico em constante transformação: aquilo que uma criança é capaz de fazer
com a ajuda de alguém hoje, ela conseguirá fazer sozinha amanhã. Rego (2000,
p.73) afirma:
À
distância entre aquilo que ela é capaz de fazer de forma autônoma (nível de
desenvolvimento real) e aquilo que ela realiza em colaboração com os outros
elementos de seu grupo social (nível de desenvolvimento potencial) caracteriza
aquilo que Vygotsky chamou de ‘zona de desenvolvimento potencial ou proximal’.
Neste sentido, o desenvolvimento da criança é visto de forma prospectiva, pois
a zona de desenvolvimento proximal define aquelas funções que ainda não
amadureceram, que estão em processo de maturação, funções que amadurecerão, mas
que estão presentes em estado embrionário.
A
concepção de Vygotsky sobre as relações entre desenvolvimento e aprendizado, e
particularmente sobre a zona de desenvolvimento proximal, estabelece forte
ligação ente o processo de desenvolvimento e a relação do indivíduo com seu
ambiente sócio-cultural e com sua situação de organismo que não se desenvolve
plenamente sem o suporte de outros indivíduos de sua espécie. É na zona de
desenvolvimento proximal que a interferência de outros indivíduos é mais
transformadora.
O
processo de ensino e aprendizagem na escola deve ser construído, então, tomando
como ponto de partida o nível de desenvolvimento real da criança, num dado
momento e com sua relação a um determinado conteúdo a ser desenvolvido, e como
ponto de chegada os objetivos estabelecidos pela escola, supostamente adequados
à faixa etária e ao nível de conhecimentos e habilidades de cada grupo de
crianças. O percurso a ser seguido nesse processo estará demarcado pelas
possibilidades das crianças, isto é, pelo seu nível de desenvolvimento
potencial.
O uso dos
jogos proporciona segundo Rego (2000, p.79), uns ambientes desafiadores,
capazes de “estimular o intelecto” proporcionando a conquista de estágios mais
elevados de raciocínio. “Isto quer dizer que o pensamento conceitual é uma
conquista que depende não somente do esforço individual mas principalmente do
contexto em que o indivíduo se insere, que define, aliás, seu ‘ponto de
chegada’.”
Vygotsky
trabalha constantemente com a idéia de reconstrução, de reelaboração, por parte
de indivíduo, dos significados que lhe são transmitidos pelo grupo cultural.
Com
relação à atividade escolar, é interessante destacar que a interação entre os
alunos também provoca intervenções no desenvolvimento das crianças. Os grupos
de crianças são sempre heterogêneos quanto ao conhecimento já adquirido nas
diversas áreas e uma criança mais avançada num determinado assunto pode contribuir
para o desenvolvimento das outras. Assim como o adulto, uma criança também pode
funcionar como mediadora entre uma outra criança e às ações e significados
estabelecidos como relevantes no interior da cultura.
Essa
posição explicita de Vygotsky sobre a importância da intervenção do professor e
das próprias crianças no desenvolvimento de cada indivíduo envolvido na
situação escolar, sugere uma recolocação da questão de quais são as modalidades
de interação que podem ser consideradas legítimas promotoras de aprendizado na
escola.
Comparada
com a situação escolar, a situação do jogo parece pouco estruturada e sem uma
função explícita na promoção de processos de desenvolvimento, mas sabemos que o
jogo é essencial como recurso pedagógico, pois no brincar a criança articula
teoria e prática, formula hipóteses e as experiências, tornando a aprendizagem
atrativa e interessante.
Oliveira
(1999, p.61) afirma que:
A
implicação dessa concepção de Vygotsky para o ensino escolar é imediata. Se o
aprendizado impulsiona o desenvolvimento, então a escola tem um papel essencial
na construção do ser psicológico adulto dos indivíduos que vivem em sociedades
escolarizadas. Mas o desempenho desse papel só se dará adequadamente quando,
conhecendo o nível de desenvolvimento dos alunos, a escola dirigir o ensino não
para as etapas de desenvolvimento ainda não incorporados pelos alunos,
funcionando realmente como um motor de novas conquistas psicológicas. Para a
criança que freqüenta a escola, o aprendizado escolar é elemento central no seu
desenvolvimento.
Tanto
pela criação de situações imaginárias, como pela definição de regras
específicas, o jogo cria uma zona de desenvolvimento proximal na criança. No
jogo a criança comporta-se de forma mais avançada do que nas atividades da vida
real e também aprende a separar objeto e significado.
Existe a
trajetória do pensamento desvinculado da linguagem e a trajetória da linguagem
independente do pensamento.
O
surgimento de pensamento verbal e da linguagem como sistema de signos é um
momento crucial no desenvolvimento da espécie humana, momento em que o
biológico transforma-se no sócio-histórico.
Antes do
pensamento e a linguagem se associarem, existe também na criança pequena, uma
fase pré-verbal no desenvolvimento do pensamento e uma fase pré-intelectual no
desenvolvimento da linguagem. Antes de dominar a linguagem, a criança demonstra
capacidade de resolver problemas práticos, de utilizar instrumentos e meios
indiretos para conseguir determinados objetivos.
Quando os
processos de desenvolvimento, de pensamento e da linguagem se unem, surge
então, o pensamento verbal e a linguagem racional, o ser humano passa a ter
possibilidade de um modo de funcionamento psicológico mais sofisticado, mediado
pelos sistemas simbólicos da linguagem.
Entende-se
assim que a relação do homem com o mundo não é uma relação direta, pois é
mediada por meios, que constituem nas ‘ferramentas auxiliares’ da atividade
humana. A capacidade de criar essas ‘ferramentas’ é exclusiva da espécie
humana. O pressuposto da mediação é fundamental na perspectiva sócio-histórica
justamente porque é através dos instrumentos e signos que os processos de
funcionamento psicológico são fornecidos pela cultura. É por isso que Vygotsky
confere à linguagem um papel de destaque no processo de pensamentos. (REGO,
2000, p. 42).
No
significado da palavra é que o pensamento e a fala se unem em pensamento
verbal.
Não
podemos deixar de mencionar nesse processo a interação entre pensamento e
linguagem, na qual vários aspectos são significativos para a espécie: a
comunicação entre as pessoas, o contato social, a expressão dos seus
pensamentos e vontades, dentre outros.
Rego
(2000, p.63) Vygotsky estabelece que a relação entre pensamento e linguagem
“passa por várias mudanças ao longo da vida do indivíduo.” Mesmo tendo
diferentes origens e de desenvolverem de modo independente, “numa certa altura,
graças à inserção da criança num grupo cultural, o pensamento e a linguagem se
encontram e é origem ao modo de funcionamento psicológico mais sofisticado, tipicamente
humano.”
De modo
similar ao que acontece na história de uma língua, a transformação dos
significados também ocorre no processo de aquisição da linguagem pela criança.
Esse
processo de transformação de significados ocorre de forma muito clara nas fases
iniciais da aquisição da linguagem, quando tanto o vocabulário, quanto seu
conhecimento sobre o mundo concreto em que vive crescem muito rapidamente a
partir de sua experiência pessoal.
Não é
apenas por falar com as outras pessoas que o indivíduo dá um salto qualitativo
para o pensamento verbal. Ele também desenvolve, gradualmente, o chamado
“discurso interior”, que é uma forma interna de linguagem, dirigida ao próprio
sujeito e não a um interlocutor externo. É um discurso sem vocalização, voltado
para o pensamento, com a função de auxiliar a criança nas suas operações
psicológicas.
Assim, a
criança passa a ser capaz de utilizar a linguagem como instrumento de
pensamento, com a função de adaptação pessoal. Isto é, a internalização do
discurso é um processo gradual, que se completará em fases mais avançadas da
aquisição da linguagem.
Essas
possibilidades de operação mental não constituem uma relação direta com o mundo
real fisicamente presente, a relação é medida pelos signos internalizados que
representam os elementos do mundo, libertando a criança da necessidade de
interação concreta com os objetos de seu pensamento.
É a
partir de sua experiência com o mundo objetivo e do contato com as formas
culturalmente determinadas de organização do real, e com os signos fornecidos
pela cultura, que as crianças vão construindo seu sistema de signos, o qual
consistirá numa espécie de “código” para decifração do mundo.
A
interação face a face entre indivíduos particulares desempenha papel
fundamental na construção do ser humano, é através da relação interpessoal
concreta com outros do grupo é que o ser vai chegar a interiorizar as formas
culturalmente estabelecidas de funcionamento psicológico. Portanto, a interação
social, seja diretamente com outros membros da cultura, seja através dos
diversos elementos do ambiente culturalmente estruturado, fornece a
matéria-prima para o desenvolvimento psicológico do indivíduo.
“O
desenvolvimento está intimamente relacionado ao contexto sócio-cultural em que
a pessoa se insere e se processa de forma dinâmica (e dialética) através de
rupturas e desequilíbrios provocadores de contínuas reorganizações por parte do
indivíduo.” (REGO, 2000, p.58)
A cultura
não está pronta, nem acabada, ela está em constate movimento de recriação e
reinterpretação de informações, conceitos e significados.
A criança
aprende em relação a objetos, situações ou conceitos concretos e precisos, mas
o aluno não aprende sozinho.
Ao seguir
as idéias de Oliveira (1999, p.64) temos que:
Com
relação a atividade escolar, é interessante destacar que a interação entre os
alunos também provoca intervenções no desenvolvimento das crianças. Os grupos
de crianças são sempre heterogêneos quanto ao conhecimento já adquirido nas
diversas áreas e uma criança mais avançada num determinado assunto pode
contribuir para o desenvolvimento das outras. Assim como o adulto, uma criança
também pode funcionar como mediadora entre uma outra criança e às ações e
significados estabelecidos como relevantes no interior da cultura.
Quando
uma criança exprime suas dificuldades para compreender, interpretar ou manejar
algum conhecimento novo, já não é apenas o professor que deve ser ativo e
encontrar a forma de motivar os alunos em relação ao problema, mas sim todos os
integrantes do grupo devem colaborar para que isso ocorra, através de jogos e
atividades lúdicas.
Se o
método é ativo, ou seja ao aprender algo a criança participa de uma atividade
concreta, essa mesma atividade pode tornar evidente sua dificuldade, assim a
compreensão dos passos pode colaborar para a realização de uma nova atividade
articulando aprendizagem e desenvolvimento.
À medida
que a criança vai construindo os significados, pode usar as palavras para
nomeá-los.
Esforços
para que a criança realize uma aprendizagem ativa, que resultem em estruturas
de pensamento e conseqüentemente, em instrumentos de assimilação do
conhecimento. As palavras terão em tal processo de aprendizagem, a função de
fixar esse conhecimento que será construído gradualmente pela criança à medida
que experimentar suas hipóteses.
Embora a
linguagem não seja um fator determinante do pensamento, se for utilizada ao
lado da maturação biológica e da experiência com objetos, constituirá um
importante elemento para a construção mental do real.
A
representação permite a criança evocar o significado (objetos, pessoas,
acontecimentos, etc.) por intermédio de significantes (imagens, palavras,
etc.).
A
inteligência conceptual, característica das crianças nas séries iniciais do
Ensino Fundamental, possibilita o uso de signos ou palavras para referi-se a
significados como conceitos de classe, série, número de objetos.
O
amadurecimento do ser humano depende da intervenção do ambiente, mas isso
acontecerá apenas em ambientes onde há momentos de significativos
desenvolvimentos.
Não
existe indivíduo desvinculado de seu meio cultural.
As
aprendizagens não acontecem de forma espontânea, mas dependem da interferência
do professor ou de algum colega, que sirva como mediador entre o conteúdo e a
aprendizagem.
Espaço
potencial, espaço lúdico, relaxado, apresentando informações onde o educando
esteja pronto para recriá-las, apropriar de conteúdos relevantes de forma
criativa, singular, segundo suas concepções e necessidades.
Nesta
direção Oliveira (1999, p.78) completa:
Na
concepção que Vygotsky tem do ser humano, portanto, a inserção do indivíduo num
determinado ambiente cultural é parte essencial de sua própria constituição
enquanto pessoa. É impossível pensar o ser humano privado do contato com um
grupo cultural, que lhe fornecerá os instrumentos e signos que possibilitarão o
desenvolvimento das atividades humanas. O aprendizado, nesta concepção, é o
processo fundamental para a construção do ser humano. O desenvolvimento da
espécie está, pois, baseado no aprendizado que, para Vygotsky, sempre envolve a
interferência, direta ou indireta, de outros indivíduos e a reconstrução
pessoal da experiência e dos significados.
Neste
momento analisamos o aspecto cognitivo do uso dos jogos em sala de aula e sua
importância para os processos de aprendizagem e desenvolvimento. Percebemos
assim, que o jogo atua na zona de desenvolvimento proximal realizando um
intercâmbio entre a zona de desenvolvimento real, a qual abrange as
aprendizagens já consolidadas, à zona de desenvolvimento potencial, que representa
as aprendizagens que ainda vão se consolidar.
Nesta
perspectiva, o jogo é fundamental para que os processos de desenvolvimento se
efetivem, resultando em saltos nos processos de aprendizagem e desenvolvimento,
pois um está relacionado e articulado ao outro.
No
próximo momento, analisaremos o aspecto afetivo da utilização dos jogos
enfatizando sua importância para a aprendizagem e o desejo em buscar cada vez
mais conhecimentos.
O aspecto afetivo do jogo
A
libertação da inteligência aprisionada, somente poderá dar-se através do
encontro com o perdido prazer de aprender. (FERNÁNDEZ, 1990. p.18)
Ao
relatarmos sobre aprendizagem, desenvolvimento, processos de interação,
educação escolar não podemos deixar de mencionar sobre a vontade de aprender, o
desejo em buscar e realizar a construção do conhecimento o acreditamos que pode
ser resgatado através dos jogos em sua dimensão afetiva.
Sucesso e
fracasso escolar estão diretamente relacionados com essa vontade de aprender. A
educação escolar deve objetivar manter seus alunos em situação de constantes
aprendizagens, mas muitas vezes a correria do dia-a-dia acaba por abafar esse
processo e torna o prazer pelo aprender cada vez mais complicado, deixando
espaço para o fracasso na aprendizagem.
Ao
desenvolver em sala de aula um trabalho com jogos está não só desenvolvendo os
aspectos cognitivos das crianças, mas passando também a enfatizar os aspectos
afetivos que são resgatados durante um momento lúdico (jogos e brincadeiras).
Conforme
Rego (2000, p.80):
É interessante
observar que, para Vygotsky, o ensino sistemático não é o único fator
responsável por alargar horizontes na zona de desenvolvimento proximal. Ele
considera o brinquedo uma importante fonte de promoção de desenvolvimento.
Afirma que, apesar do brinquedo não ser o aspecto predominante da infância, ele
exerce uma enorme influencia no desenvolvimento infantil.
Para
trabalhar com os jogos em todas as suas dimensões, tanto cognitivas quanto
afetivas, temos que traçar e definir os objetivos que se quer alcançar, para
não ficar um momento solto e sem significado dentro da sala de aula.
Estamos
então, interligando a educação escolar com a apropriação de conhecimentos, o
que resultaria em processos de aprendizagem e desenvolvimento. Assim ao
trabalharmos com os aspectos afetivos que norteiam o processo de aprendizagem
poderemos buscar através de atividades significativas o sucesso escolar.
De acordo
com Weiss (2000, p.23) os “aspectos emocionais estariam ligados ao
desenvolvimento afetivo e sua relação com a construção do conhecimento e a
expressão deste através da produção escolar. Remete aos aspectos inconscientes
envolvidos no ato de aprender.”
Ao
ensinar com carinho e respeito às individualidades e potencialidades estaremos
mais próximo de prevenir os fracassos escolares. É ampliar a saúde educacional,
é dar sentido ao que é realmente significante para quem quer aprender. Aos
educadores envolvidos com o processo de aprendizagem cabe resgatar em nas
crianças o gosto pelo aprender, à vontade pela busca de conhecimento.
Consideramos que através de jogos isso se processaria mais facilmente.
Observar
a criança como um sujeito pensante, orgânico, corporal, intelectual e simbólico
é ponto de partida para uma nova concepção de aprendizagem, aquela que
realmente buscará o sucesso.
Investigar,
pesquisar, propor e mediar situações de jogos em sala de aula ocasionaria
momentos de afetividade entre a criança e o aprender, tornando a aprendizagem
formal mais significativa e prazerosa.
“Descobrir
o que a criança sabe e gosta de fazer produziria uma relação na qual ela era
capaz. É possível intensificar a problematização por pior que sejam as
dificuldades econômicas, intelectuais ou afetivas por que passam algumas
crianças.” (MACHADO, 1996, p. 09)
A
construção de um espaço de jogo, de interação e de criatividade proporcionaria
o aprender com seu objetivo máximo, com sentido e significado, no qual o gostar
e o querer estariam sempre presentes.
Ao seguir
as idéias de Ronca e Terzi (1995, p. 96):
O jogo, a
brincadeira e a diversão fazem parte de uma outra importante dimensão da aula,
a ser desenvolvida pelos Educadores, a qual denominamos amplamente de
‘movimento lúdico’. O lúdico permite que a criança explore a relação do corpo
com o espaço, provoca possibilidades de deslocamento e velocidade, ou cria
condições mentais para sair de enrascadas. Vai, então assimilando e gostando
tanto, que tal movimento a faz buscar e viver diferentes atividades que passam
a ser fundamental, não só no processo de desenvolvimento de sua personalidade e
de seu caráter como, também, ao longo da construção de seu organismo cognitivo.
Quando os
problemas de aprendizagem ou fracassos escolares ocorrem devido a anulação das
capacidades e o bloqueio das possibilidades de aprendizagem a construção de
situações mais significantes de ensino podem auxiliar na busca pelo sucesso
escolar.
Analisar
este aspecto nos permite compreender que as dificuldades não se encontram
apenas nas crianças, mas na estrutura educacional em que se está inserido,
temos que compreender essas dificuldades como a articulação entre o estrutural
e o dinâmico. Então, Fernández (1990. p.30) afirma que “a origem do problema de
aprendizagem não se encontra na estrutura individual.”
Um
aspecto da educação escolar que proporcionaria o sucesso escolar é o resgate do
jogo, proporcionando um ambiente de amor, nas relações entre criança,
conhecimento, meio, aprendizagem e educadores.
Trabalhar
com a dimensão lúdica é muito mais do que brincar com as crianças é
proporcionar espaços onde seus desejos e sentimentos, ou seja, sua afetividade,
esteja presente. O que proporcionaria para a aprendizagem um significado ainda
maior.
Para
Ronca e Terzi (1995, p.96) o movimento lúdico proporciona compreender os
limites e as possibilidades da assimilação de novos conhecimentos pela criança.
Esta situação “desenvolve a função simbólica e a linguagem, e trabalha com os
limites existentes entre o imaginário e o concreto e vai conhecendo e
interpretando os fenômenos a sua volta.”
Ao
negar-se a aprender ou rejeitar a aprendizagem, a criança se negará a
participar do seu processo de desenvolvimento, o que dificultará cada vez mais
as assimilações no processo educativo.
O jogo
seria então a articulação entre o desejo, a afetividade, e inteligência e os
processos de apropriação do conhecimento e avançar das zonas de
desenvolvimento.
Momentos
de aprendizagem significativa que proporcionem processos de desenvolvimento
ressaltariam o valor do sucesso escolar como algo verdadeiro e realmente
importante para a criança. A relação entre educadores e alunos deve ser
verdadeira e de trocas de experiências e opiniões, favorecendo um clima
harmônico para a socialização do conhecimento.
Conforme
aponta Fernández (1990. p.51):
Encaramos
a aprendizagem como um processo e uma função, que vai além da aprendizagem
escolar e que não se circunscreve exclusivamente à criança. Fazendo uma
simplificação, uma abstração do processo de aprendizagem, encontramo-nos ante
uma cena em que há dois lugares: um onde está o sujeito que aprende o outro onde
colocamos o personagem que ensina. Um pólo onde está o portador de conhecimento
e outro que é o lugar onde alguém vai tornar-se um sujeito. Quer dizer que não
é sujeito antes da aprendizagem, mas que vai chegar a ser sujeito porque
aprende.
Quem
ensina e que aprende possuem as mesmas características, como: organismo,
inteligência, desejo e corpo, ambos se relacionando entre si e com a
aprendizagem que se dá na interação dos corpos com a aprendizagem. A interação
e os processos de construção dos conhecimentos adquiridos são fundamentais para
alcançarmos o significado da educação escolar para as crianças, levando ao
prazer pelo aprender quando se deparam ao domínio do estudado. E, o uso dos
jogos pode auxiliar todo esse processo, tanto no aspecto cognitivo quanto no
aspecto afetivo.
Somente
ao relacionar-se com o saber, interar-se com o conhecimento é que pode se
compreender o significado da aprendizagem. A sala de aula deve ser um espaço de
confiança, de liberdade (sem libertinagem, mas com limites), de conteúdos
interdisciplinares, de inclusão dos diferentes, de aceitação do novo e de
afetividade. É nesse espaço de interação que a aprendizagem irá ocorrer.
O sucesso
escolar está na realização de um trabalho com prazer.
Os
problemas de aprendizagem aqui compreendidos são considerados de ordem reativa,
ou seja, aqueles que afetam o sujeito na anulação do aprender, gerando um
choque entre o aprender e a instituição educativa, bloqueando o aprender,
nesses casos as atividades lúdicas auxiliam a busca pela vontade de aprender, o
despertar do afeto pelo aprender.
Jogar em
sala de aula proporciona momentos ricos em interação e aprendizagem, auxiliando
educadores e educandos no processo de ensino e aprendizagem. O conhecimento é a
apropriação do objeto de conhecimento, através das constantes interações entre
criança, meio e objeto de conhecimento.
Portanto,
é no jogo que se cria, antecipa e inquieta, assim, transforma-se, levanta-se
hipóteses e traça estratégias para a busca de soluções.
No jogar
o desejável passa a ser algo obtido através da sua imaginação na qual o
abstrato se concretiza e resulta no processo de construção do conhecimento.
As
situações de jogos atuam no imaginário e estabelecem regras, o que proporciona
desenvolvimentos na medida que impulsionam conceitos e processos em
desenvolvimento.
Analisamos
então, os jogos como estratégia de ensino, na qual ao agir a criança projeta
seus sentimentos, vontades e desejos, buscando assim a afetividade na
aprendizagem.
Acreditamos
que os jogos podem também resgatar o desejo pela busca de conhecimento e tornar
a aprendizagem prazerosa, na qual a criança passe a gostar cada vez mais de
aprender. ( Thaís Cristina Rodrigues Tezani) By Lully.
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