quarta-feira, 7 de novembro de 2012

O BRINCAR E O JOGAR DA CRIANÇA AO ADULTO - UMA VISÃO PSICOPEDAGÓGICA



“O HOMEM BRINCA E ELE SOMENTE É UM HOMEM NO SENTIDO TOTAL DO MUNDO, QUANDO BRINCA”. (Schiller)

Observamos nos últimos anos, que nunca se deu tanto destaque ao brinquedo, como se vem dando ultimamente. As indústrias investem nesta área, desenvolvem toda sorte de brinquedos eletrônicos, jogos, fazem comerciais, propagandas, brindes em supermercado, até as lojinhas de um e noventa e nove atacaram também, (com brinquedos muitas vezes sem qualidade , sem fiscalização e controle do IMETRO. Evidentemente  tudo isto tem um fim: o consumo perverso. Descobriram uma fatia do mercado, as crianças e os jovens, que são consumidores em  potencial, manipulados, seduzidos, ingênuos. Porém, constatamos que há  o lado bom deste estímulo, mas não encontramos nossas crianças brincando com espontaneidade e espírito criador. Logo o brinquedo é descartado e querem outro, ou brincam um pouquinho e depois vão mexer no que não deve. Por  que será?
Notamos vários teóricos pesquisando e escrevendo a respeito, como o brinquedo sendo um instrumento enriquecedor , possibilitando a aprendizagem de várias habilidades.

No dia-a-dia, é comum ouvirmos comentários sobre o brincar, num tom queixoso e esvaziado de significado: os pais comentam “Hoje meu filho não foi para a escolinha, também não perdeu nada, só vai para brincar!”;  ou os  professores falam “Aquela menina não tem feito nada, só pensa em brincar!”. Portanto, o brincar parece estar associado à uma ação irrelevante, ou pelo menos nada que tenha alguma importância para a vida humana.
Os pais valorizam mais as atividades como: “Meu filho faz, natação, inglês, ginástica, faz conservatório musical, teatro, computação, etc....”. Estas atividades são importantes e necessárias, mas está sobrando pouco tempo para a espontaneidade, para o brincar em conjunto, para a fantasia.
A Psicopedagogia tem se constituído no espaço privilegiado para pensar as questões relativas à aprendizagem. Sendo assim, está intimamente ligada ao ato de brincar, como fonte de conhecimento.

Podemos dizer que,  a capacidade de brincar faz parte de um processo de desenvolvimento, sendo imprescindível para a sobrevivência psíquica e para o avanço social do homem. Notamos isto na própria história antropológica humana.

Sabemos pela maneira que uma criança, adolescente, adulto, brinca como algo revelador de suas estruturas mentais, pensamentos, sentimentos, interações, ou seja seus níveis de maturidade cognitiva, afetiva – emocional e social.
Faço então uma pergunta: “O que acontece com o brincar; pois ora é tão valioso ora é tão desvalorizado?”
O BRINCAR E O JOGAR DA CRIANÇA AO ADULTO

Vejamos a origem das palavras:
? Jogar: do latim “jocare”: entregar-se ao; ou tomar parte no jogo de; executar as diversas combinações de um jogo; aventurar-se ou arriscar-se ao jogo; perder no jogo; dizer ou fazer brincadeira; harmonizar-se.
? Brincar: “de brinco+ar”; divertir-se infantilmente; entreter-se em jogos de criança; recrear-se; distrair-se;saltar; pular; dançar, (...) (Dicionário da Língua Portuguesa – Aurélio, 1986, pp. 286-98)
Percebemos que há uma dificuldade em definir os termos “jogar” e “brincar”, pois ambos tem uma fronteira comum, indicando um grau de subjetividade, em que estas atividades estão implícitas.

Segundo, BOMTEMPO (1987 p.13) “a atividade do brincar, geralmente é vista como uma situação livre de conflitos e tensões, havendo sempre um elemento de prazer. Também é uma atividade com um fim em si mesma, pois não há resultado biológico imediato que altere a existência do indivíduo.”
O brincar da criança não é equivalente ao jogo para o adulto, pois não é uma simples recreação, o adulto que brinca/joga afasta-se da realidade, enquanto a criança  ao brincar/jogar avança para novas etapas de domínio do mundo que a cerca.

Precisamos saber que o  brincar da criança é uma forma infantil da capacidade humana de experimentar, criar situações, modelos e como dominar a realidade, experimentando e prevendo os acontecimentos.

Quando induzimos a criança a brincar com jogos educativos, chega um momento em que ela interrompe dizendo: -“Bem agora, vamos brincar, tá?”. Portanto a criança não estava brincando no verdadeiro sentido do verbo, quando percebe o objetivo e intenção pedagógica que a cansou, interrompe, pois o brincar é destituído de qualquer objetivo externo e determinado, brincar requer espontaneidade, criatividade, liberdade com limites.

A brincadeira a partir dos 2 aos 4 anos, desenvolve-se com base nas organizações mentais, ou seja a simbolização. Diferencia o “eu” do outro, fantasia de realidade.

No início apresenta características de “pensamento mágico pré conceitual”, ou seja a a criança dá vida aos objetos, atribui sensações e emoções, conversa com eles. É também uma brincadeira solitária, na qual vive diferentes papéis. Pouco a pouco, ensaia um simbolismo coletivo, exigindo dela esforço e descentralização para acrescentar o outro e poder continuar brincando.
A partir dos 4 anos, a brincadeira vai adquirindo um aspecto mais social surgindo as brincadeiras com regras, onde o combinado deve ser respeitado.
Na compreensão da brincadeira simbólica a criança revela situações carregadas de emoções e afetos, as organizações lógicas : classificações, seriações, quantidades, cores, cenário onde aparece seus medos, dificuldades, tensões, inversão de papéis, etc...

HUIZINGA (1980), filósofo da história em 1938, escreveu seu livro “HOMO LUDENS” no qual argumenta que o jogo é uma categoria absolutamente primária da vida, tão essencial quando o raciocínio (HOMO SAPIENS) e a fabricação de objetos (HOMO FABER), então a denominação HOMO LUDENS, é cujo elemento lúdico está na base do surgimento e desenvolvimento da civilização.

O autor define jogo como: “uma atividade voluntária exercida dentro de certos e determinados limites de tempo e espaço, segundo regras livremente consentidas, mas absolutamente obrigatórias, dotado de um fim em si mesmo, acompanhado de um sentimento de tensão e alegria e de uma consciência de ser diferente de vida cotidiana.”

Em seu livro Huizinga nos conta que:

 Nas sociedades antigas, não havia destinação entre jogos infantis e adultos, eram coletivos.

O jogo era considerado como um vínculo entre as pessoas, grupos, classes e gerações, entre passado e futuro. Gradualmente este caráter foi sendo perdido ao longo da história, transformando-o mais individual.

A influência educacional, religiosa e social altera os valores morais, considerava a criança como, um ser não maduro para convívio com adulto, sendo  que deveria ser submetida a um “regime especial”.

 Os jogos e divertimentos coletivos foram abandonados e o ato de brincar desvalorizado, por não ter função aparente.
Com o surgimento do capitalismo esta idéia teve mais força, pois não podia ser associado a produção e trabalho, se tornou algo inútil.

O importante no brincar não é tanto como a criança, o jovem ou o adulto brinca,  mas sim como ela se envolve, lidando de forma cada vez mais criativa e interativa com seu mundo interno e externo.

O fato de uma criança jogar xadrez, onde há presença de regras explícitas, pode ser considerado também  por ela como uma brincadeira, ou o fato de brincar de boneca  aparentemente sem regras explicitas, possa ser uma  reprodução de papéis sociais, pré estabelecidos por ela.

Os pais e educadores devem levar em consideração os seguintes aspectos ao observar a criança ou o jovem brincando:
 Ela tem brincado ultimamente? Quanto tempo fica nesta atividade? O que faz com aquela brincadeira?

 Brinca sozinha? Brinca com alguém? Brinca em grupo?

 O que ela está expressando?

 Quais as regras?

 Como está brincando?

 Criou novas regras?

 Permaneceu em regras impostas?

 Qual sua reação?

 O que aparece neste jogo?

 Para que serve este jogo ou brincadeira?

 Como cuida dos brinquedos?

Quais os brinquedos prefere?
Na verdade não existem delimitações claras sobre o ato de brincar e jogar e sim uma fusão entre as duas atividades. Quando uma criança não brinca, não se desenvolve não se aventura em algo novo, desconhecido, isto é muito preocupante. Se a criança brinca está revelando ter aceitado o desafio do crescimento, de ter a possibilidade de errar, de tentar a arriscar para progredir e evoluir.

Enquanto pais, educadores  e profissional afim precisou ser mais tolerante com as atividades do cotidiano e criarmos um espaço para o lúdico,
para nós também podermos sonhar, fantasiar, brincar.
BRINQUEDOS COM SUCATA

Objetivos:
-Montar uma brinquedoteca na escola ou na sala de aula com brinquedos confeccionados pelos alunos.

-Perceber a importância das regras nas brincadeiras

-Criar brinquedos, brincadeiras e jogos para serem usados nos recreios e  em classe.
Procedimentos Didáticos:

Antes de iniciar a confecção dos jogos, brinquedos, dos fantoches e do quebra-cabeça, o professor deve despertar no aluno o interesse pela preservação da natureza e a problemática do lixo.

Isso pode ser mostrado através de um passeio pela cidade, pela escola, coletando material, separando, classificando em tambores /caixas previamente separados para este fim. Etiquetar e colar um desenho em cada recipiente:
Material plástico, metal, papelão.

Após esta etapa o professor divide a sala em grupos, apresenta idéias sobre o que é possível fazer com o lixo reciclado e solicita que cada grupo desenvolva uma das idéias.

Na aula seguinte cada grupo deverá trazer suas próprias idéias de materiais feitos a partir de lixo reciclado e expor seu trabalho para a classe.

Começando com a higienização do lixo, classificando o material que será utilizado pelo aluno ou grupo de alunos em seu projeto para a brinquedoteca ou sala de aula.
Quebra-Cabeça

Objetivo: Desenvolver a discriminação visual e perceptiva.
Material:
Cinco ou mais caixas de creme dental do mesmo tamanho

Quatro figuras do tamanho correspondente ao conjunto das faces das caixas
Cola, régua ou tesoura


Confecção:
Encontrar quatro gravuras do tamanho correspondente às faces das caixas que serão à base do quebra-cabeça.

Medir as caixas escolhidas, passar as medidas para a gravura e cortar exatamente na linha marcada.

Colocar cada tira na ordem certa ou seja de modo que forme a figura em cada uma das faces.
Obs. É preciso tomar certo cuidado com a faixa etária para a qual o brinquedo será oferecido, de modo a que não seja fácil demais a ponto de não oferecer desafio e nem tampouco difícil demais, causando desinteresse.
Como Jogar:

Escolher uma das faces e montar a figura desejada
Bola na Caçapa
Objetivo:
Exercitar a coordenação motora, equilíbrio e habilidade manual.
Material:
Garrafa plástica

Meia velha

1 colher de sopa de areia ou sal

Durex colorido ou retalho de pano

Tesoura
Agulha e linha
Confecção:
Garrafa – cortar as garrafas mais ou menos na proporção de 1/3 tomando cuidado para não deixar rebarbas. Arrematar, colocando uma tira de durex colorido ou retalho de pano em volta da parte recortada da garrafa.

Bola – pegue uma meia comprida, coloque uma colher de sopa de areia ou sal no fundo desta meia 

Torcer e desviar o cano da perna da meia várias vezes, recobrindo a bola.
Arrematar costurando
Como Jogar:

Um dos participantes arremessa a bola para o companheiro usando funil. O outro participante deve apanhar a bola com seu funil. O número de participantes pode variar de acordo com o número de funis que forem feitos.
Fantoches de Caixas


Objetivos: Treinar e melhorar a linguagem oral; coordenação manual Aprender a se localizar e a dramatizar

  
Material:
Caixas de gelatina ou remédios em geral

Fita crepe

Papéis variados

Cola e tesoura
Confecção:
Pegar duas caixas de gelatina ou remédio

Colocar as abas da caixa somente de um lado para dentro

Sobrepor as duas caixas e uni-las pela abertura das abas com fita crepe (da
base interior da caixa de cima para o topo interior da caixa que está abaixo)
Com os mais diversos tipos de papéis, a criança pode formar o bicho que ela escolher, como nas imagens: um cachorro ou um jacaré.
Como Brincar:

Colocar o polegar na abertura da caixa de baixo e os demais dedos na caixa que está em cima, simulando a abertura da boca do animal criado. Inventar ou reescrever uma história
Bilboquê

Objetivo: Exercitar a coordenação motora.
Material:
2 garrafas de 1,5 litros de água mineral  

bolinhas de gude

Durex transparente e durex colorido

Tesoura ou estilete
Confecção:
Pegue uma das garrafas e corte no intervalo do segundo gomo, contado de baixo para cima

Da mesma garrafa, corte a parte superior no vão formado pelo primeiro gomo
Pegue as duas partes cortadas e coloque a parte de cima dentro da parte de baixo com o gargalo para cima, como se estivesse encurtando a garrafa. Una estas duas partes com durex de modo que fique bem firme
Coloque dentro desta peça aproximadamente 8 bolas de gude
Corte a segunda garrafa no vão formado pelo quinto gomo, contado de baixo para cima.

Encaixe esta nova parte na outra peça, de modo que a garrafa que foi encurtada (primeira peça) fique fechada pela nova peça cortada, como se fosse uma tampa

Fixe este encaixe com durex de modo que fique bem firme
Dê um arremate final com durex colorido
Como Brincar:

Como se a garrafa estivesse em pé, deixe as bolas de gude fora da base da garrafa. O objetivo da brincadeira é passar as bolas de gude pelo gargalo da garrafa.
Vem e Vai

Obetivo: Exercitar as habilidades motoras e visuais
Material:
2 garrafas de plástico de refrigerante ou água

Barbante
4 tampinhas de garrafa de refrigerante

Fita crepe, tesoura

Vela e chave de fenda de pequeno calibre
Confecção:
Cortar as duas garrafas a mais ou menos 15 cm contados do gargalo para a base da garrafa

Encaixar as duas garrafas nas partes onde foram cortadas

Fixar com fita crepe, de modo que fique bem firme

Cortar dois pedaços de barbante com mais ou menos 1,5 metros cada
Passar os dois pedaços de barbante pelo gargalo das duas garrafas, de modo que sobre duas pontas de cada lado da peça (em cada gargalo)

Acenda a vela, esquente a chave de fenda pequena e fure as quatro tampinhas de refrigerante no centro

Passe cada ponta dos barbantes por uma tampinha furada e dê vários nós na extremidade deste barbante, de modo que não passe pelo orifício da tampinha
Obs. O processo de esquentar a chave de fenda, com a vela acesa, não deve ser executado por crianças.
Como Brincar:

São necessários dois jogadores. Cada um pega em duas pontas dos barbantes pelas tampinhas, que deverão estar juntas. Os jogadores devem se afastar de modo que os barbantes fiquem esticados. Aquele que estiver com a peça de plástico mais perto de si deve abrir com força, separando os barbantes; este movimento acaba arremessando a peça plástica, que desliza pelo barbante, para o outro jogador.
Avaliação
Durante a confecção dos brinquedos poderá ser trabalhados conceitos de cores, linhas, proporção, volume e outros que sujam a partir de questionamentos e hipóteses.

As dificuldades poderão ser utilizadas na busca de novas soluções ou de novos brinquedos. (Marina S. R. Almeida) By Lully



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